Livro mostra o “romantismo tropical” do Brasil do século 19

Obra publicada pela Editora da USP estuda a visão exótica do País nos desenhos do pintor François-Auguste Biard

 06/10/2017 - Publicado há 6 anos
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Operação Desagradável por C. Maurand, FrançoisAugust Biard – Foto: Reprodução

Ainda hoje, na “era da informação”, em que é possível viajar o mundo pela tela de um celular, há pessoas que veem o Brasil como um país exótico, primitivo, onde animais selvagens dividem as cidades com as pessoas e a floresta amazônica começa na próxima esquina. No livro Romantismo Tropical — Um pintor francês no Brasil, da professora Ana Lucia Araujo, da Howard University (Estados Unidos), a autora estuda um dos muitos responsáveis por divulgar essa imagem do País no exterior, o pintor francês François-Auguste Biard (1799-1882).

Pouco conhecido atualmente, o artista foi muito popular durante a Monarquia de Julho na França (entre 1830 e 1848). Em 1858, já quase sexagenário, deixou o conforto de sua vida em Paris para se aventurar em uma viagem ao Brasil. Aqui, criou laços com a monarquia brasileira e com o imperador Dom Pedro II, mas resistiu à tentação de se tornar o pintor oficial da corte para poder cumprir seu real objetivo: encontrar e pintar as populações indígenas brasileiras. Assim, depois de alguns meses no Rio de Janeiro, então capital do Império, lançou-se numa expedição pelas florestas da província do Espírito Santo e, mais tarde, na Amazônia.

Retratos do imperador do Brasil e da imperatriz do Brasil, pinturas de François-Auguste Biard, e Aventura com Tucanos, de Joseph Wood Whymper – Foto: Reprodução

Dessas aventuras nasceu, em 1862, o livro Deux années au Brésil, um relato ilustrado do período em que Biard viajou pelo País, entre 1858 e 1860. O livro do francês foi objeto de estudo da professora Ana Lucia Araujo em sua tese de doutorado em História da Arte na Université Laval, em Québec, no Canadá, defendida em 2004. A partir dela, a professora publicou em 2008 o livro Romantisme Tropical: L’aventure illustrée d’un peintre français au Brésil, que ganha agora edição brasileira pela Editora da USP (Edusp).

A professora Maria Helena Machado, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, afirma, no texto de orelha da edição, que, “reproduzindo e analisando imagens do que ele (Biard) conceituou como indivíduos de raças mistas e cruzadas, de índios com brancos e negros, e de índios selvagens, a autora coloca à disposição do leitor uma coleção de imagens quase desconhecida”.

Botocudos, Puris, Patachós e Macuaris, de Jean-Baptiste Debret – Foto: Reprodução

Parte dessas imagens e a narrativa do livro de Biard, de acordo com o texto da professora, são construídas em tom humorístico pelo viajante-aventureiro, munido do instrumental do Romantismo e do exotismo tropical. “Embora almejasse por representar apenas ‘selvagens’, foi o artista frustrado em seu objetivo, sendo obrigado a se concentrar em elaborar desenhos, esboços e pinturas de ‘índios civilizados’ (apesar de também ter tido a oportunidade de representar alguns indígenas que ele considerou como ‘verdadeiros selvagens’).”

O livro de Ana Lucia Araujo é recheado dos desenhos de Biard e traz também algumas pinturas de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), outro francês que retratou o Brasil, sua natureza e seus habitantes no século 19. “Além disso, oferece ferramentas que permitem captar a imagem em seu contexto de produção”, escreve a professora Maria Helena. “O estudo de Ana Lucia Araujo deverá, assim, ser apreciado como guia detalhado para a leitura do texto e das imagens de mais um aventureiro francês no Brasil em meados do século 19.”
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Romantismo Tropical — Um pintor francês no Brasil, Ana Lucia Araujo, Edusp, 248 páginas, R$ 52,00.


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