Livro descreve as obras de arte da Faculdade de Direito

Obra da museóloga Heloisa Barbuy registra um precioso acervo de esculturas que pontuam os 190 anos das Arcadas

 24/07/2018 - Publicado há 6 anos
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As obras do acervo da Faculdade de Direito da USP compõem um rico acervo de arte e história – Foto: Reprodução / Claudio Wakahara

“Neste raro e rico tesouro artístico encontram-se estandartes, flâmulas, medalhas, livros medievais, renascentistas e reinóis, e ainda, em particular, expressivo número de telas e esculturas, de mestres da São Francisco, de antigos alunos que se notabilizaram no mundo artístico, bem como de renomados próceres estrangeiros.” Com orgulho, o professor José Rogério Cruz e Tucci, diretor da Faculdade de Direito da USP, apresenta o livro As Esculturas da Faculdade de Direito, em uma edição primorosa da Ateliê Editorial. A autora é a professora Heloisa Barbuy, que já cuidou da catalogação e pesquisa dos principais acervos de arte e história da USP.

Daí a importância do livro recém-lançado, que destaca detalhes de cada escultura, de cada objeto e também a história que motivou a sua projeção no espaço e a integração no acervo. “Um catálogo de museu é uma obra, sobretudo, técnica, destinada a organizar, de forma sistemática, informações sobre uma coleção de objetos, as características materiais de cada um deles e sua datação e autoria, quando possível”, observa Heloisa. Importante ressaltar que a historiadora – professora do Programa de Pós-Graduação em História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e de Museologia do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP – é acompanhada por esse acervo desde quando era estudante. “Sou franciscana desde a origem, estudei na São Francisco de 1977 a 1981.”

Fizemos uma pesquisa minuciosa sobre a história de cada escultura, e foram muitas as descobertas.”

“Há muito tempo, a Faculdade de Direito idealizava desenvolver um trabalho sobre o patrimônio histórico da Faculdade, que é muito rico”, explica a historiadora. “A comemoração dos 190 anos foi a ocasião para darmos início a esse projeto de forma sistemática. Durante um ano nos dedicamos intensamente às pesquisas sobre as esculturas. Contamos com dois excelentes bolsistas do Programa Unificado de Bolsas de Graduação da USP – Igor Fiorezzi, aluno da São Francisco, e Tatiane Gomes, aluna do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Funcionários da Faculdade de Direito como Hideo Suzuki e Maria Lucia Beffa, com a equipe da biblioteca, colaboraram muitíssimo. Fizemos uma pesquisa minuciosa sobre a história de cada escultura e foram muitas as descobertas.”

Estátua de José Bonifácio, o Moço, esculpido por Georges Engrand em 1889 – Foto: Reprodução / Claudio Wakahara

Na elaboração do catálogo, Heloisa optou pela organização de acordo com a ordem de entrada de cada obra escultórica na faculdade, ou no espaço público do Largo São Francisco. “Esse fio condutor do trabalho acabou por nos dar uma visão muito clara de fases e momentos históricos da Faculdade de Direito e também do Brasil.”

Busto de Rui Barbosa, esculpido em 1908 por Amadeu Zani – Foto: Reprodução / Claudio Wakahara

A pesquisa resultou no livro de 316 páginas que, segundo o prefácio assinado por Ivette Senise Ferreira, presidente da Comissão do Museu e ex-diretora da Faculdade de Direito, ultrapassa em muito os limites técnicos de uma organização sistemática, própria de um catálogo. Ressalta: “A autora nos brinda com um minucioso trabalho em que abundam as informações sobre as obras e seus autores, o contexto histórico de sua criação ou aquisição, permeadas com a citação de trechos de poemas, discursos ou obras literárias condizentes ou referentes às peças em destaque.”

A maior parte das esculturas está no Salão Nobre e duas delas estão em destaque, o busto do Barão do Rio Branco e o busto de Rui Barbosa.”

O leitor ou o visitante pode apreciar 23 obras do acervo institucional, acrescido de quatro obras do Patrimônio Municipal de São Paulo, alocadas no Largo São Francisco. “A maior parte é constituída por artistas que foram atuantes em São Paulo, com obras que podem ser encontradas nos espaços públicos da cidade”, explica Heloisa. “Os artistas que assinam mais de uma obra na galeria deste catálogo são: Amadeu Zani, Luiz Morrone, Victor Brecheret e Willian Zadig, cada um com duas esculturas.”

Beijo Eterno, de 1920, escultura de Willian Zadig no Largo São Francisco – Foto: Reprodução / Claudio Wakahara

A autora observa que a maior parte das esculturas está no Salão Nobre. “Duas delas estão em destaque, o busto do Barão do Rio Branco e o busto de Rui Barbosa. São esculturas feitas em homenagem a cada um deles, antigos alunos da faculdade, no momento em que se festejavam vitórias da diplomacia brasileira conduzidas por eles: a resolução dos conflitos com a Guiana Francesa na questão dos limites do Amapá, em 1900, e a atuação na Conferência de Haia em defesa da igualdade das nações em 1908.” Heloisa conta que o busto do Barão do Rio Branco foi feito em mármore nacional para simbolizar o sucesso brasileiro.

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A escultura Beijo Eterno foi fundida em 1920 e era uma das partes do monumento ao poeta Olavo Bilac, de autoria de Willian Zadig. Foi inaugurada originalmente na avenida Paulista, em 7 de setembro de 1922, permanecendo ali até 1935. Segundo histórico da obra, foi idealizada pelo Centro Acadêmico XI de Agosto nas semanas que se seguiram à morte do poeta, em dezembro de 1918.

Capa do livro As Esculturas da Faculdade de Direito – Foto: Reprodução / Claudio Wakahara

O monumento foi desmontado e montado em algumas localizações, até uma das partes, Beijo Eterno, ser transferida para o Largo São Francisco, em 18 de outubro de 1966. “Essa escultura mostra que a Faculdade de Direito é um lugar plural, onde convivem múltiplos matizes de pensamento. Os estudantes sempre foram muito ativos politicamente e, nos anos 1960, em plena ditadura, resolveram resgatar essa escultura por dois motivos: de um lado, em defesa do ideal de liberdade de expressão, em contraposição a uma espécie de veto moralista que tinha levado à retirada da escultura de outros lugares da cidade por causa de abaixo-assinados que a consideravam imoral”, conta Heloisa Barbuy. “O mesmo aconteceu, em seguida, com a escultura O Menino e o Catavento; de outro lado, porque essa escultura é parte de um monumento a Olavo Bilac, que tinha sido construído nos anos 1920 por iniciativa dos estudantes da São Francisco, uma empreitada enorme também lembrada no livro.”

As Esculturas da Faculdade de Direito, de Heloisa Barbuy, Ateliê Editorial, 316 páginas, R$ 150,00.

O livro está à venda na Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito (Rua Riachuelo, 185, 4º andar, centro, em São Paulo). Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3101-8489.


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