Capa do livro 

Livro conta a trajetória interdisciplinar do Instituto de Estudos Avançados da USP

Publicação celebra as quase quatro décadas do centro de pesquisa da Universidade que é marcado pela vontade de inovar

 01/11/2024 - Publicado há 1 mês

Texto: Luiz Prado

Arte: Beatriz Haddad*

No próximo dia 4, segunda-feira, às 14 horas, na Sala do Conselho Universitário da USP, acontece o lançamento do livro Avançados em Quê? – A Trajetória Pioneira do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Trata-se de um resgate dos 38 anos de história do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Na mesma ocasião, será realizada a cerimônia de posse da nova diretoria do IEA, formada pela professora Roseli de Deus Lopes (diretora) e pelo professor Marcos Buckeridge (vice-diretor). O mandato de Roseli Lopes e Buckeridge vai até 2028.

Fundado em 1986, o IEA tem em seu DNA o caráter interdisciplinar de suas atividades e os esforços de colaboração intelectual que extrapolam os muros da Universidade. Traços que o livro a ser lançado no dia 4 se empenha em salientar. “Desde a sua criação, o IEA tem desempenhado um papel vital na promoção da excelência acadêmica da Universidade, buscando incessantemente estender a fronteira do conhecimento em diversas áreas do saber”, escreve o reitor da USP, professor Carlos Gilberto Carlotti Junior, na abertura da obra. Já a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda destaca que o instituto foi pensado como um espaço de reunião para pesquisadores, cientistas, intelectuais, artistas, jornalistas e personalidades públicas interessadas em um projeto de Universidade em sintonia com um País em vias da democratização.

Roseli de Deus Lopes e Marcos Buckeridge - Foto: Reprodução/IEA-USP

“O caráter inventivo do projeto, frente à rotina universitária, a sua dimensão politicamente progressista, que o tornou um centro de acolhimento de cientistas e intelectuais de oposição, inclusive dos professores aposentados e perseguidos pelo regime, tornaram-no uma referência iniludível das promessas civilizatórias do momento”, escreve Maria Arminda. “O Instituto de Estudos Avançados da USP colaborou na construção democrática do País, na medida em que refletiu sobre as nossas questões, deu voz aos opositores do obscurantismo, enfim, encarnou o papel ilustrado de uma universidade contemporânea do seu tempo.”

Guilherme Ary Plonski e Roseli de Deus Lopes, respectivamente diretor e vice-diretora do IEA no período 2020-2024, apontam em seu texto de introdução três episódios que participam da gênese do instituto. O primeiro data de 1930, quando foi criado o pioneiro Instituto de Estudos Avançados de Princeton, nos Estados Unidos. Correspondia a uma inovação. Autônomo, com verba e governança próprias, procurava o conhecimento pelo conhecimento, pautando-se pelo rompimento de fronteiras, diversidade no campo do conhecimento, interdisciplinaridade e intercâmbio entre ciência, arte e sociedade.

Em 1968, surgiria um novo modelo de instituto de estudos avançados, agora vinculado a universidades, com a criação do Centro de Pesquisa Interdisciplinar da Universidade de Bielefeld, na Alemanha. É dessas duas experiências que a USP iria se nutrir para criar, em 1986, o IEA, sob a batuta do então reitor José Goldemberg. “Ele havia conhecido de perto o instituto de Princeton e entendeu ser esse modelo estratégico para revitalizar a Universidade, após o dramático período vivido sob os tacões do regime autoritário”, escrevem Plonski e Roseli. “Assim, atribuiu ao IEA a missão de ‘favorecer novas ideias, resultantes do convívio, do confronto e da interação entre as diversas áreas de trabalho intelectual’.”

Com pesquisa e redação assinadas por Plonski e pelo historiador Roney Cytrynowicz, Avançados em Quê? apresenta cronologicamente a trajetória do IEA, organizando-a por períodos. O capítulo inicial se abre com a conferência inaugural feita pelo jurista, historiador e sociólogo Raymundo Faoro em 25 de agosto de 1986. Intitulada Existe Um Pensamento Político Brasileiro?, é considerada um acontecimento significativo da vocação do instituto, segundo o historiador Carlos Guilherme Mota, primeiro diretor do IEA.

“Foi um fato muito importante termos trazido Raymundo Faoro para a aula inaugural”, conta Mota em depoimento registrado no livro. “Sua presença era simbólica. Faoro tem uma obra, Os Donos do Poder, que é um hiperclássico. Em segundo lugar, por ser ligado às lutas da sociedade civil. Como presidente da OAB, foi muito corajoso.” Vale lembrar que o IEA foi pensado também como um espaço capaz de abrigar boa parte da intelectualidade afastada da USP durante o regime militar e que, com a redemocratização, via as portas da Universidade novamente abertas.

O livro se dedica a mostrar como, desde sua fundação, a inovação pautou o instituto, tanto em sua estrutura como em seu modelo. Surgiu – e ainda se mantém – sem cursos regulares de graduação ou pós-graduação. Também não tinha salas de aula, laboratórios ou práticas rotineiras da docência. Sua organização, em sua estrutura inicial, era composta de áreas de concentração, grupos de estudo, professores visitantes e grupos de trabalho. Suas atividades incluíam conferências mensais e a organização de eventos.

Esse caráter singular continua vigorando hoje: o IEA não tem corpo docente ou discente próprios e conta com pesquisadores, intelectuais e ativistas tanto da USP quanto da comunidade externa, incluindo figuras internacionais. Assim, é um diferencial dentro da Universidade, oferecendo um contraponto para uma estrutura que muitas vezes é considerada burocrática e excessivamente compartimentada.

Ilustração de um homem de terno e gravata.
Ilustração por Tie Ito, publicada no livro Avançados em Quê?, em homenagem ao professor e ex-reitor da USP José Goldemberg, criador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP - Livro IEA USP 

Depois dos desafios iniciais para se criar o instituto e estabelecer suas bases de atuação, o livro organiza os principais temas e tarefas que nortearam suas atividades através das quase quatro décadas de existência. Estão lá as parcerias com variadas entidades da sociedade civil e as discussões sobre democracia, universidade pública, direitos humanos, meio ambiente, tecnologia, comunicação, internet e inteligência artificial – temas urgentes e atuais em seus próprios tempos.

Também são descritas a criação das cátedras, a ampliação dos quadros de funcionários e dos setores do IEA e a inauguração da nova sede, em 2018. E as iniciativas comunicacionais, desde o Informativo IEA, publicação jornalística que surgiu como encarte do Jornal da USP, até a revista Estudos Avançados, além da expansão do instituto para os polos de São Carlos e Ribeirão Preto – o campus de Piracicaba aguarda o seu, em fase de ativação.

“O IEA é maior do que seus diretores”, comenta o professor Paulo Saldiva, diretor do IEA entre 2016 e 2020, em depoimento para o livro. “A riqueza do IEA não é feita pelo diretor, e sim pelos grupos de pesquisa e pelas pessoas que estão trabalhando no instituto. O IEA prima pela liberdade, pela riqueza das pessoas, pela riqueza dos seminários, o que é muito estimulante. Eu vivi num ambiente completamente diverso do que eu tinha, fui compulsoriamente imerso nesse caldo de ideias e saí muito melhor de lá.”

Completando 38 anos em 2024, o IEA conta com cerca de 40 grupos de pesquisa, grupos de estudo, sete cátedras, convênios, núcleos de apoio à pesquisa, dois centros de síntese e o Programa Ano Sabático. “Em um mundo cada vez mais complexo e interconectado, as instituições acadêmicas desempenham um papel crucial na promoção do conhecimento, da inovação e do progresso humano”, escreve o reitor Carlos Carlotti. “Nesse sentido, o IEA continua a ser uma fonte de inspiração e um farol de excelência para toda a comunidade acadêmica e além.”

Avançados em Quê? – A Trajetória Pioneira do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, de Guilherme Ary Plonski e Roney Cytrynowicz (pesquisa histórica e redação), Instituto de Estudos Avançados da USP, 376 páginas. Disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP.

O livro será lançado no dia 4, às 14 horas, na Sala do Conselho Universitário da USP (Rua da Reitoria, 374, Cidade Universitária, em São Paulo). Na mesma ocasião, será realizada a posse da nova diretoria do IEA, formada pela professora Roseli de Deus Lopes (diretora) e pelo professor Marcos Buckeridge (vice-diretor), para o período 2024-2028. Para participar do evento presencialmente é necessário se inscrever neste link. Haverá também transmissão ao vivo pela internet, sem necessidade de inscrição. Mais informações estão disponíveis no site do IEA.

 

*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado 


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