“Infraestrutura urbana” é tema da revista “Estudos Avançados”

Nova edição da publicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP também analisa produções culturais e temas da contemporaneidade

 28/03/2023 - Publicado há 1 ano
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Capa da nova edição da revista Estudos Avançados, publicação quadrimestral do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP – Fotos: Freepik e divulgação/IEA

 

A nova edição da revista Estudos Avançados, publicação quadrimestral do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, acaba de ser lançada. O número 107 traz os dossiês Infraestrutura Urbana, Presenças e Atualidades, que reúnem artigos de pesquisadores sobre a cidade do Rio de Janeiro, mobilidade e serviços urbanos, literatura, cinema, ciência e debates contemporâneos. A revista está disponível gratuitamente neste link.

As pesquisadoras Mariana Cavalcanti e Marcella Araújo abrem o primeiro dossiê com o texto “Autoconstrução e produção da cidade: outra genealogia dos estudos de infraestruturas urbanas”, que tem a proposta de apresentar de forma ampla a discussão teórica brasileira sobre a produção da cidade a partir das infraestruturas. As autoras pavimentam o caminho para os próximos artigos, nos quais os temas da produção e reprodução urbanas também serão abordados.

No texto seguinte, “Cuidar do outro, cuidar da água: gênero e raça na produção da cidade”, Camila Pierobon e Camila Fernandes exploram a interação dessas categorias no “fazer a cidade”. Com um recorte em mulheres moradoras do Morro da Mineira e da Ocupação Nelson Mandela, no Rio de Janeiro, a pesquisa ressalta a presença feminina na gestão da água e na sua garantia nos domicílios em que seu acesso é precário.

O objetivo das autoras é “fazer aparecer as milhares de pequenas ações feitas pelas mãos das mulheres que produzem e entrelaçam a vida doméstica à vida pública das cidades por meio da gestão ordinária da água”.

Julia O’Donnell, autora de um dos artigos publicados na edição 107 de Estudos Avançados – Foto: Arquivo Pessoal

Em “Da ‘ciclovista’ à ‘ciclovia da morte’: a vida social de uma infraestrutura urbana”, Julia O’Donnel trata da ciclovia Tim Maia, que integra a orla das zonas sul e oeste do Rio de Janeiro. A pesquisadora cria uma cronologia da obra desde a expectativa com sua inauguração, seus sucessivos colapsos e quedas até chegar nos dias atuais, com os diferentes usos dos escombros, que tiveram sua função alterada por moradores e turistas. Julia examina também a interação da ciclovia com o espaço urbano e a paisagem. 

No artigo “Infraestruturas residuais: colonialismos na gestão de resíduos e a política catadora”, Maria Raquel Passos Lima relaciona a cidade com a produção de resíduos a partir de lixões e aterros sanitários. O foco da pesquisadora é o fechamento do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e as implicações de essa estrutura ser desfeita. Maria Raquel destaca ainda a importância dos catadores como “formas de vida que fazem a cidade”.

O último texto do dossiê Infraestruturas Urbanas mostra como a implementação de medidores de energia elétrica em favelas da zona sul carioca mudou a forma como a cidade é produzida e governada. A pesquisadora Francisca Pilo’, em “O tecido tecno-político do Rio de Janeiro: reflexões sobre a infraestrutura de eletricidade”, coletou relatos de moradores para entender a “reordenação do espaço e das relações cidadão-Estado-mercado”, como ela escreve, além de descobrir o que eles pensam sobre as mudanças e os problemas que tiveram com a tecnologia.

Temas culturais são o foco dos textos reunidos no dossiê Presenças. Um desses textos aborda a obra do crítico literário e professor da USP Antonio Candido (1918-2017) do ponto de vista da educação. Assinado pela professora Márcia Machado, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG), o artigo destaca, a partir de reflexões de Candido, a contribuição da literatura para a formação e humanização do homem. “Em seu caminho, o crítico literário voltou seu olhar também para a educação, aspecto pouco relevado de sua produção se comparado a outros, como o de crítico literário”, escreve Márcia. “Nesse sentido, não seria exagerado afirmar que Candido fornece importantes contribuições, subsídios e ferramentas teóricas para um repensar do modo como temos concebido o processo de formação e construído historicamente a educação e a universidade no Brasil.”

O cinema é objeto de dois artigos. Em “‘Cinema Brasileiro e Realidade Social’, de Paulo Emílio Salles Gomes”, o autor, Victor Jousselandière, se dedica a fazer um comentário sobre uma conferência do crítico Paulo Emílio, enquanto em “La flor, de Mariano Llinás: o cinema reencontra a literatura”, de Rogério de Almeida e Cesar Zamberlan, há a análise de como um filme argentino com mais de 13 horas de duração une recursos literários à linguagem cinematográfica.

Os demais artigos da seção orbitam a literatura, como “Iauaretê, mais além: novas relações entre a cultura dos povos originários e ‘Meu tio o Iauaretê’, de João Guimarães Rosa”, “, de Edinael Sanches Rocha, que investiga as relações do texto literário e o significado do animal onça, que aparece na história, para o imaginário das etnias guarani, xacriabá e krenak. O artigo “Mariátegui em debate: fantasmas marxistas e horizontes críticos”, de Deni Alfaro Rubbo, por sua vez, é uma crítica do livro In the red corner: the marxism of José Carlos Mariátegui, do historiador britânico Mike Gonzalez.

Já no dossiê Atualidades, o ex-reitor da USP José Goldemberg faz um balanço dos compromissos estabelecidos entre os países desde a primeira Convenção do Clima, em 1992, até a COP 27, no artigo “Trinta anos da Convenção do Clima”. Goldemberg apresenta variados gráficos e tabelas e uma de suas conclusões é que “as perspectivas de limitar o aumento da temperatura da Terra em 1,5 °C até 2030 parecem pouco promissoras”.

Evolução das emissões mundiais desde 1992 até o presente, de acordo com gráfico publicado na nova edição da revista Estudos Avançados – Foto: Reprodução/revista Estudos Avançados

 

Também integram o dossiê os artigos “Dilemas éticos na cultura do consumo: Antropoceno, psicanálise e capitalismo como modo de operação das paixões”, de Isleide Arruda Fontenelle, que questiona a possibilidade do consumo ético no atual sistema de produção, e “Tatuagem: um mapa rizomático de um tema de pesquisa”, de Valéria Cazetta, no qual a autora investiga 35 artigos, publicados entre 1990 e 2020, para “compreender a dispersa produção da área interdisciplinar sobre a temática da tatuagem”.

O número 107 da revista Estudos Avançados está disponível, gratuitamente, no site da plataforma Scientific Electronic Library Online (Scielo).


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