Grupo teatral formado na USP faz temporada em Portugal

O Seteset encena em Lisboa nesta semana – e depois em São Paulo – peça que une teatro e cinema

 22/05/2018 - Publicado há 7 anos
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O grupo Seteset investiga a convergência do teatro e do cinema e faz sua estreia com texto de Martin Crimp – Foto: Divulgação/Seteset

Nesta semana, entre os dias 24 e 27, o grupo Seteset – formado na Escola de Arte Dramática (EAD) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – se apresenta no Espaço Escola de Mulheres (Clube Estefânia), em Lisboa, Portugal. Ele vai encenar Tentativas Contra a Vida Dela, do britânico Martin Crimp, unindo as linguagens do teatro e do cinema. Na volta ao Brasil, o grupo fará curta temporada no Teatro de Contêiner, da Companhia Mungunzá, em São Paulo.

A convergência das linguagens do teatro e do cinema é resultado de um processo de pesquisa iniciado em 2013 pelo Seteset, que escolheu o texto de Crimp para sua estreia, em 2017, no Centro Compartilhado de Criação, em São Paulo. Foi quando recebeu convite da atriz portuguesa Fernanda Lapa para uma temporada em Portugal neste ano. “É uma semana de acolhimento, em que o espaço recebe grupos da Europa e de outros países”, informa Pedro Costa, um dos diretores da peça.

A manipulação midiática, a tecnologia e o acúmulo de informações são questões apresentadas na peça que o grupo encenará em Portugal e, depois, em São Paulo – Foto: Divulgação/Seteset

Considerado o trabalho mais corajoso e inovador de Crimp, a peça já foi traduzida para mais de 20 idiomas, e foi escolhida pelo grupo por conter material cinematográfico. “Em muitos momentos ele inclui a palavra câmera e fala, nas entrelinhas, de enquadramentos”, explica Alaissa Rodrigues, diretora da peça, ao lado de Costa (ambos também atuam no palco). “É um espetáculo pós-dramático, com uma personagem principal que não está em cena”, informa. “Ela é quase uma ideia.” O texto fala da manipulação midiática, das mídias sociais, do acúmulo de informações, “da tecnologia que permite que uma pessoa se edite”.

Tudo começa com a caixa postal de Anne, com muitas mensagens de pessoas que estão à sua procura, criando uma polêmica que gira em torno de um possível suicídio. No palco, uma tela e cinco atores que contracenam, conversam e entram nela para contar a sua história, que vai sendo revelada, modificada e inventada, até ela se tornar apenas um símbolo. São 17 situações para o teatro, que passam pela pornografia e terrorismo até a publicidade rumo ao absurdo, quando Anne se torna um tema de um show musical ou de uma propaganda de carro. A encenação acontece em um palco, mas com uma atmosfera cinematográfica.

A dramaturgia de Crimp é caracterizada por uma sombria visão das relações humanas. Em Tentativas Contra a Vida Dela, as figuras que surgem não se relacionam nem refletem sobre sua própria existência. Só falam sobre Anne. “Através dela, o autor vai fazendo paralelos com a sociedade”, informa Alaissa . Na trilha sonora, composta por Kezo Nogueira e Otávio Carvalho, uma bateria frenética vai se juntando a instrumentos eletrônicos e digitais, diluindo mais uma vez o humano até chegar apenas nos sintetizadores, em uma desordem sonora. Na iluminação, de Laura Salerno, refletores dão enquadramentos criando o ambiente cinematográfico.

Pesquisa interdisciplinar

O grupo Seteset teve origem em 2013, quando Pedro Costa estava no segundo ano da Escola de Arte Dramática. Com um amigo, criou um grupo de estudos de cinema – a EAD tinha um mês de estudo de câmera, mas eles queriam aprofundar seus conhecimentos. Depois de um tempo abriram para novos alunos e grupos de fora e criou-se a configuração do Seteset. Foram vários experimentos voltados ao cinema: encontros com profissionais da área, entre diretores, produtores e preparadores de elenco, além do que chamaram de um dia de set, dividindo as tarefas, com equipes de arte, de fotografia, de som e outras funções de filmagem.

No palco, cinco atores e uma tela que conversa com a cena, interfere nela ou apenas traz uma imagem – Foto: Divulgação/Seteset

Segundo o diretor, eles descobriram que, para pesquisar o cinema como ator, era necessário ter uma produção mais profissional. Depois de muitos trabalhos relacionados ao audiovisual, incluindo a produção de três curtas (Voyeur, Tempero e Ponto), e já no final do curso, tiveram a ideia de unir as linguagens do teatro e do cinema. Seis meses depois, encontraram o texto de Martin Crimp. “Um texto complexo, em que não há um roteiro linear e o final é inconclusivo, mas com várias imagens e informações para que o público possa refletir sobre os dilemas da sociedade”, diz Alaissa, citando ainda uma frase de Jean Baudrillard, que permeia os caminhos do grupo e resume a peça: “Ninguém terá vivido os reais cursos dos acontecimentos, mas todos terão uma imagem deles”.

O grupo Seteset apresenta Tentativas Contra a Vida Dela, de 24 a 27 de maio, no Espaço Escola de Mulheres (Clube Estefânia), em Lisboa. De volta a São Paulo, faz uma curta temporada, de 20 a 28 de junho, quartas e quintas-feiras, no Teatro de Contêiner Mungunzá (R. dos Gusmões, 43, Santa Ifigênia, tel. 11-97632-7852), com ingressos a R$ 30,00 e meia-entrada.  


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