Neste sábado, dia 30, às 11 horas, o Centro MariAntonia da USP inaugura duas exposições, com entrada gratuita: Debaixo Desse Céu: Nebulosas da Cidade, idealizada pelo coletivo de pesquisa Cronologia do Pensamento Urbanístico, e Em Órbita, da artista Renata Ursaia.
Debaixo Desse Céu: Nebulosas da Cidade é resultado da interação e cooperação entre as equipes das diversas universidades públicas brasileiras que integram o coletivo de pesquisa da plataforma Cronologia do Pensamento Urbanístico: as Universidades Federais da Bahia (UFBA), do Rio de Janeiro (UFRJ), de Brasília (UnB), de Minas Gerais (UFMG) do Rio Grande do Sul (UFRGS), além da USP, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
A proposta expositiva apresenta a história do urbanismo e das transformações urbanas em numerosas cidades brasileiras de maneira plural, com o objetivo de revelar a complexidade dos tempos históricos. Com base no acúmulo das pesquisas desenvolvidas por essas equipes, foram selecionadas cerca de 150 imagens que trazem uma pluralidade de 100 acontecimentos históricos situados no tempo e no espaço entre distintos agentes, vozes, perspectivas e saberes em projetos, ações, configurações e tensões na vida urbana, observados a partir do Brasil.
Por meio da metáfora das nebulosas, que são grandes nuvens encontradas no espaço interestelar, formadas majoritariamente de poeira cósmica e gases, a exposição coloca esses conjuntos de imagens – composições de fragmentos contíguos, linhas e forças distintas – para abrir espaço para tensões, dissensos, contradições e ambivalências múltiplas e em constante movimento. As nebulosas são pensadas e propostas coletivamente, a partir dos fragmentos que cada um reúne em seu esforço de objetivação dos discursos do outro, em relação ao próprio exercício de dotação de sentido que empreende.
Em Órbita, de Renata Ursaia, por sua vez, traz um conjunto de pinturas figurativas interconectadas, apresentando uma tessitura sensível sobre o cotidiano de São Paulo e seus cidadãos anônimos. Com curadoria da designer Didiana Prata, a exposição contém composições singulares, que tocam o visitante por uma série de elementos simbólicos, nem sempre tangíveis, como a sensação de intimidade com que a artista retrata seus personagens. Prata ressalta que, “nessa representação única, a paleta de cores desempenha um papel fundamental, pois as camadas de tinta adicionam nuances e volumes que conferem personalidade aos corpos e seus rastros, alinhados no espaço cênico”.
A costura entre o anonimato e a intimidade é um ponto de interesse que aparece em muitos trabalhos de Ursaia. Na série de pinturas Órbita, por exemplo, vemos retratos em close de motoqueiros, parados, enquanto esperam o farol abrir. Mas algo tão comum na cidade, na obra, se transforma estranhamente: a forma redonda do capacete fechado, acentuada pelo contraluz, o faz parecer um astronauta, suspenso no tempo e no espaço. Há, de novo, uma inversão entre o mundo interior e exterior, entre proximidade e distanciamento, como uma espécie de alternância de exílios.
Pensamento urbanístico
A plataforma Cronologia do Pensamento Urbanístico (www.cronologiadourbanismo.ufba.br) é uma ferramenta de pesquisa e divulgação da história do urbanismo, criada para cartografar e escrever a história das complexas redes que compõem o pensamento urbanístico ao longo do tempo. Fundada em 2003, a plataforma conta com a colaboração de diversos grupos de pesquisa em várias instituições brasileiras, incluindo a UFRJ e UFBA (fundadoras da plataforma), além de grupos da UnB, UFMG, UFRGS, USP, Unicamp e Uneb. Esse esforço coletivo reúne cerca de 100 pesquisadores ativos e outros tantos egressos, criando uma rede de cooperação interinstitucional em prol de uma história intelectual do urbanismo. Ao ofertar cerca de 1.500 verbetes relacionados ao pensamento urbanístico, além de biografias, documentos, cronologias e leituras, a plataforma oferece diferentes formas de abordagens dessa história e tem se tornado uma importante fonte de pesquisas para investigadores.
Renata Ursaia é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, e já trabalhava na faculdade com fotografia, e depois com a linguagem em vídeo e cinema. Seu interesse é o estudo sobre a cidade e o uso dos espaços. A partir dessa vivência “de rua”, elementos cotidianos vão sendo reconfigurados por meio da pintura e do vídeo. Percebe-se entre as obras uma atmosfera própria, de identificação, mas também de estranhamento. Algo que pode emanar de uma determinada incidência da luz, da composição cromática, ou ainda do ritmo e movimento das imagens. Para compor a poética do trabalho é preciso que elementos pictóricos sirvam a uma narrativa crítica, consciente de seu entorno.
Didiana Prata é designer gráfica, curadora de imagens, professora e doutora em Design pela FAU. Sua pesquisa foca no design de narrativas visuais e nos novos vocabulários estéticos que emergem das interfaces informacionais. É consultora de design integrado com comunicação. Realiza projetos de identidade visual e de estratégias de narrativas visuais para marcas e institutos e participa da concepção e de projetos expositivos e curatoriais. Atualmente integra os grupos de pesquisa Estéticas da Memória no Século 21, da FAU, e Grupo de Artes e Inteligência Artificial (Gaia), do Inova USP. É professora de Design do Centro Universitário Armando Álvares Penteado (Faap) e do Istituto Europeo di Design (IED).
As exposições Debaixo Desse Céu: Nebulosas da Cidade, do coletivo de pesquisa Cronologia do Pensamento Urbanístico, e Em Órbita, de Renata Ursaia, serão inauguradas neste sábado, dia 30, às 11 horas, e ficarão em cartaz até 13 de abril de 2025, de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas, no Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antônia, 258, Vila Buarque, em São Paulo próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3123-5202.
Sandra Lima, do Centro MariAntonia da USP