Exposição destaca edições raras de Machado de Assis

Em cartaz na USP até 22 de novembro, mostra enfatiza a variedade e a amplitude da carreira do escritor

 11/10/2018 - Publicado há 6 anos
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Na exposição Machado de Assis na BBM: Primeiras Edições e Raridades, o visitante é orientado por legendas colocadas ao lado de cada item – Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

 

O leitor de Machado de Assis, considerado o maior romancista brasileiro, tem um encontro inusitado com Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e outras obras-primas da literatura brasileira. E, além de ver edições raras dessas obras, vai conhecer o cotidiano do jornalista Machado de Assis escrevendo para periódicos de sua época.

A dimensão sensível do contista brilhante e do crítico respeitado está na exposição Machado de Assis na BBM: Primeiras Edições e Raridades, em cartaz na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP. A curadoria é do professor Hélio de Seixas Guimarães, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que, há três anos, vem desenvolvendo pesquisas sobre  Machado de Assis no acervo da BBM.

 

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“A decisão de realizar esta exposição veio do contato com esse material e pela constatação de que se trata de um conjunto não só importante, mas extraordinário e absolutamente singular”, observa Guimarães. “Esse conjunto é composto não só de primeiras edições, mas de exemplares únicos, colecionados por Rubens Borba de Moraes e José Mindlin em décadas de criterioso garimpo. Ao contrário do bibliômano machadiano que se contenta com a posse solitária do livro, esses bibliófilos compartilharam seus achados, hoje disponíveis ao público.”

 

A exposição revela a grande variedade e a amplitude da trajetória de Machado de Assis como escritor.

Machado de Assis – Foto: Academia Brasileira de Letras / Domínio Público

 

Na seleção para a exposição, o curador procurou destacar a variedade e a longevidade da produção do escritor. “O acervo da BBM inclui cerca de 400 itens, entre livros e periódicos diretamente relacionados a Machado de Assis.” Guimarães destaca que o conjunto merece ser conhecido pelo potencial que tem para a realização de novos estudos sobre a obra do escritor. “A exposição revela a grande variedade e a amplitude da trajetória de Machado de Assis como escritor, que começa na década de 1850 e se estende até o ano de sua morte, 1908, compreendendo textos dos mais variados tipos: teatro, poesia, conto, romance, crítica, correspondência etc. Também mostra uma seleção dos periódicos com os quais Machado colaborou e nos quais publicou grande parte dos seus escritos, antes de recolher uma parte deles em livro.”

Ler Machado de Assis percorrendo a exposição é um movimento curioso. Não é como folhear as páginas, mas as edições raras estão ali protegidas nas vitrines para serem observadas. Uma viagem interessante para o leitor, que irá conhecer Memórias Póstumas de Brás Cubas em uma edição de 1896 pela H. Garnier. Ou a edição da novela Casa Velha e do conto Uma por Outra, com a introdução da biógrafa e crítica machadiana Lucia Miguel Pereira. As duas histórias saíram em 1885 e 1897, respectivamente.

Os visitantes não precisam ser bons leitores de Machado de Assis para percorrer a mostra. O curador procurou orientar o público com cuidado. Esclarece, através de legendas, a importância e o histórico de cada item. “Há textos de apresentação que indicam o modo de organização do material. Ao lado dos livros e materiais expostos, há legendas que destacam a importância e a singularidade dos itens”, esclarece.

 

Quando lemos um texto dele, logo fazemos  ligações com o que vivemos no momento presente, tanto do ponto de vista individual como coletivo.

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No centro da exposição, o visitante se depara com as primeiras edições de vários gêneros: poesia, teatro, romance, crítica, conto. Os periódicos em que o jornalista Machado de Assis colaborou estão em uma das vitrines laterais. “Eles são fundamentais para compreender a dinâmica de sua obra”, justifica Guimarães. “Foi em jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Luís do Maranhão e também em Nova York que muitos textos saíram pela primeira vez, antes de encontrarem o formato consagrador do livro.”

O professor Hélio de Seixas Guimarães: Biblioteca Brasiliana da USP possui cerca de 400 itens diretamente ligados a Machado de Assis – Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

Na outra vitrine lateral, há os escritos que se transformaram em livros. Uma das surpresas da exposição é ver os livros traduzidos para o inglês. Importante lembrar que Machado de Assis é um dos romancistas mais lidos, estudados e traduzidos no exterior. “Os escritos de Machado têm sido cada vez mais editados no exterior, principalmente a partir das traduções de seus livros para o inglês, que ganharam impulso na década de 1950”, diz o professor Guimarães. “Até então, poucos títulos tinham sido traduzidos para várias línguas, como o espanhol, o francês, o italiano e o alemão, mas eram iniciativas esporádicas.”

Guimarães esclarece que a obra de Machado passou a ter alcance internacional assim que começou a ser traduzida mais regularmente nos Estados Unidos e na Inglaterra. “Hoje, seus nove romances estão traduzidos para o inglês, alguns com várias traduções. E agora todos os 76 contos que ele publicou em livro estão disponíveis  também em inglês. Está em curso um projeto de tradução de todos os seus contos para o espanhol, a cargo de uma tradutora que vive no México. E seus romances e contos mais conhecidos hoje estão traduzidos para praticamente todas as línguas modernas.”

Para os que desejam conhecer e descobrir a obra de Machado de Assis, o professor repete a orientação que dá aos seus alunos:  “Além de Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro e dos contos antológicos, como O Alienista, A CartomanteMissa do Galo,  sempre indico aos alunos a leitura de textos menos conhecidos, como o conto O Relógio de Ouro, o romance Ressurreição e poemas como Potira. Acho importante compreender os processos que permitiram a Machado chegar aos resultados que obteve nos textos que o consagraram.”

E, quando o novo leitor descobrir Machado de Assis, verá um escritor de todos os tempos. “Quando lemos um texto dele, logo fazemos  ligações com o que vivemos no momento presente, tanto do ponto de vista individual como coletivo. É um escritor que, com a passagem do tempo, parece se tornar cada vez mais vivo e atual. Às vezes, terrivelmente atual”, conclui Guimarães.

A exposição Machado de Assis na BBM: Primeiras Edições e Raridades está em cartaz até 22 de novembro de 2018, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h30, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP (Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo, telefone 11 2648-0310). Entrada grátis.


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