Em 1516, o alemão Martin Waldseemuller publicou a primeira carta náutica que abarcava todo o mundo até então conhecido pelos europeus. Nesse documento, dois nomes eram oferecidos ao leitor para a área da América invadida pelos portugueses: Brasilia ou Terra Papagalli – a Terra dos Papagaios. Tal registro revela o fascínio causado por essas aves nos navegantes e conquistadores vindos da Europa.
Waldseemuller não estava errado no batismo. O Brasil é, no mundo, o país com o maior número de psitacídeos – família que inclui papagaios, araras e periquitos. E, mais de cinco séculos depois, as cores e a beleza dessas aves ainda encantam as pessoas. Prova disso é a exposição Terra Papagalli, que leva para a Reitoria da USP 32 telas retratando psitacídeos brasileiros.
As obras são aquarelas originais do artista Eduardo Parentoni Brettas e integram o livro Terra Papagalli, lançado em parceria com o curador da Coleção de Ornitologia do Museu de Zoologia (MZ) da USP, professor Luís Fábio Silveira. Primeira publicação que registra todos os psitacídeos do Brasil, o trabalho levou oito anos para ser concluído e apresenta 91 espécies, todas ilustradas por Brettas.
Na Reitoria, cerca de um terço das pranchas originais do artista estão expostas. De acordo com Silveira, que assina a curadoria da mostra ao lado da professora Maria Isabel Landim, a escolha das aquarelas para a exposição foi pautada principalmente pela raridade das aves ou o risco que elas correm de extinção.
“Eu fiz a seleção levando em consideração espécies mais raras, menos conhecidas do grande público, espécies ameaçadas de extinção e algumas que todo mundo conhece, como o papagaio-verdadeiro, que as pessoas têm em casa, como animal de estimação. Mas o grande critério foi selecionar aquelas que tinham aspectos como ameaça de extinção ou raridade, para as pessoas conhecerem melhor” explica o ornitólogo.
Durante o trabalho, Brettas aliou a observação de campo com a referência de exemplares das aves presentes no acervo do Museu de Zoologia, que possui a maior coleção de psitacídeos do mundo. De acordo com Silveira, a pesquisa no museu foi parte fundamental da execução do projeto. “Para garantir a fidelidade das cores, das proporções, do formato de bico, de pé, de tamanho de asa, não tem jeito, você tem que olhar a ave na mão. Tem que comparar à ave da coleção. Se você só observasse ou olhasse uma fotografia, não ia ter todas as tonalidades de cor. Nem sempre você consegue ter uma posição que mostra tudo [na fotografia ou no campo].”
Silveira esteve ao lado do artista por todo o projeto, em diálogo constante. “A gente trabalhou junto o tempo todo. Eu selecionava na coleção do museu o exemplar que melhor retratava a espécie, com as características mais evidentes, e passava para o Eduardo. A gente discutia a posição da ave, como ela ia estar e ele colocava a arte em cima da informação que eu passava”, revela Silveira.
Para o visitante que se encanta com o talento de Brettas, mas questiona a presença de aquarelas em vez de fotografias numa obra científica, Silveira explica os benefícios da ilustração. “A fotografia tem a desvantagem de nem sempre retratar muito bem. Você está fotografando aves que estão, muitas vezes, a 30 metros de altura, nem sempre nas melhores condições de luminosidade, com galhos na frente. Você não consegue ter um visual tão perfeito quanto na ilustração. Então, a aquarela do Eduardo dá muito mais representação do que uma fotografia.”
Junto das obras, o público da exposição também tem acesso aos dados de cada espécie, elaborados por Silveira para o livro. São informações sobre distribuição geográfica, risco de extinção, escala, nomes científico e popular. O visitante pode até mesmo conferir a ficha do exemplar usado como modelo pelo artista. Os dados incluem o sexo da ave, o local onde foi coletada e a data. Uma observação atenta revela que Brettas usou desde exemplares recém-adquiridos pelo museu, como a tiriba-pérola-do-xingu, coletada em 2009, até exemplares centenários, como o papagaio-de-cara-roxa, de 1898.
Além das aquarelas, a exposição traz alguns dos instrumentos de trabalho dos autores do livro, como binóculo, desenhos e tintas. Completam a mostra um vídeo de apresentação e exemplares de aves trazidos do museu, como uma arara-vermelha grande e uma dupla de araras-canindé, mortas por abelhas, conforme relata Silveira.
A exposição Terra Papagalli vai até 25 de agosto, com visitação de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas, no térreo do Prédio da Reitoria da USP, na Rua da Reitoria, 374, na Cidade Universitária. A entrada é gratuita. Mais informações pelo telefone (11) 2065-8100.