E-book traz artigos que abordam os impactos da invasão audiovisual

Disponível gratuitamente na internet, obra reúne ensaios de mais de 40 autores de várias partes do Brasil

 20/04/2021 - Publicado há 3 anos
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Capa do e-book Pandemídia, lançado pelo Laboratório de Arte, Mídia e Tecnologias Digitais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – Foto: Divulgação/Leticia Santana Gomes

 

Com a participação de mais de 40 autores de diferentes partes do Brasil, o e-book Pandemídia: Vírus, Contaminações e Confinamentos traz ensaios que abordam vários aspectos ligados aos usos e aplicações das tecnologias de comunicação durante o período de pandemia de covid-19. Disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP, a obra é uma produção do Laboratório de Arte, Mídia e Tecnologias Digitais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e da Invisíveis Produções. “Sob diferentes pontos de vista, o livro trata desse excesso de telas usadas atualmente, como lives e aplicativos educativos, uma pandemia da mídia”, afirma o professor João Knijnik, um dos organizadores de Pandemídia, justificando o título dado ao e-book. Os outros organizadores são Almir Almas, Luís Fernando Angerami Ramos, Deisy Fernanda Feitosa, Daniel Lima e Lyara Oliveira.

Com 242 páginas, o livro está dividido em sete partes, além de três ensaios fotográficos, que fecham o volume. Na primeira parte, Mundo em Quarentena: Inspirações e Afetações, sete artigos tratam de aspectos sociológicos e filosóficos da pandemia. Num deles, o professor da ECA Luís Angerami Ramos e a advogada Beatriz di Giorgi apontam as relações entre a pandemia e o sistema econômico vigente. “Natureza e sociedade têm uma relação histórica e interdependente. Na dinâmica do sistema capitalista, a natureza é tida como um baú de recursos infinitos, que permite a extração e produção de riquezas. A natureza precede o capitalismo e o ser humano faz parte da natureza”, escrevem os autores. “Não obstante, o capitalismo tem acentuado a perda da identidade do ser humano com a natureza, na medida em que o humano vai se distanciando do seu lugar na natureza. É um processo contraditório e limitador. Ao se distanciar da natureza o ser humano perde sua liberdade, vê limitado seu acesso aos meios de produção e consumo, restando-lhe, tão somente, vender sua mão-de-obra.”

A segunda parte de Pandemídia, Audiovisual Viral: Audiovisualidades entre Vírus e Janelas, traz quatro artigos sobre as mudanças do mercado de audiovisual causadas pela pandemia, entre outros temas. “Nada é conclusivo, mas pode-se inferir que a pandemia reordenou o tabuleiro. As emissoras de TV ganharam audiência devido à sua credibilidade, enquanto as plataformas de streaming ganharam usuários e horas de consumo audiovisual”, escreve o professor Fernando Carlos Moura, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. “Assim, o que se vaticinava como a disrupção na linearidade da distribuição de conteúdos deu alguns passos atrás. O que pode fazer-nos pensar, com algum otimismo, que no futuro os usuários terão no seu smartphone ou TV conectada plataformas OTTs, e ainda assistirão a programas da TV aberta ou fechada. Talvez o próximo passo, ousando um pouco na análise, seja um serviço que faça curadoria dos serviços audiovisuais, sejam de on-demand (VoD ou OTT), ou ao vivo, e o usuário escolha o que quer consumir, como e onde, exemplo da iniciativa do Globoplay.”

Quarentena produz uma estética que é explorada em Pandemídia – Foto: Divulgação/ Vinicius Alves Sarralheiro

Já a terceira parte, Comportamentos em Lockdown: Imuniz(ações) e Reações, inclui análises sobre os diferentes comportamentos demonstrados pelo público durante a pandemia – entre eles, aqueles relacionados ao uso de máscara de proteção, tema explorado pelo professor Marcus Bastos, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. “A máscara faz hoje o papel desempenhado pelos preservativos durante a epidemia de Aids. Em que pese o caráter íntimo e opcional do sexo em comparação ao caráter onipresente e inevitável da respiração, trata-se de dois impulsos vitais obstruídos por uma catástrofe sanitária que afeta os domínios mais íntimos das pessoas”, escreve Bastos. “O HIV e a covid surgem como ameaças invisíveis e envoltas em incertezas, mudando de forma rápida, e provavelmente definitiva, o modo como as pessoas se comportam – guardadas as devidas proporções, já que a Aids começa restrita a grupos de risco, como os hemofílicos, e a covid rapidamente passa a ameaçar toda a população dos países que contamina. Apesar disso, são exemplos de como se desestabiliza, de uma hora para outra, o espaço aparentemente protegido que o corpo parece ocupar no mundo contemporâneo (especialmente no Ocidente, desde o século 18), e a fragilidade da vida ganha uma dimensão concreta muito evidente.”

Viralização da Live: a Ressignificação da Presença, título da quarta parte de Pandemídia, explora esse tipo de apresentação virtual que se tornou tão comum durante a pandemia – as lives. “Um dos efeitos que pudemos observar durante o período inicial da quarentena no Brasil foi o número expressivo de lives realizadas por artistas de diferentes gêneros musicais”, exemplificam nessa parte as professoras Fernanda Castilho e Gabrielli Cifelli. “A rapidez com que o mercado organizou suas estratégias e modelos de negócio foi surpreendente, mesmo considerando que eventos on-line já ocorriam antes da quarentena. Neste sentido, surgiram rapidamente projetos de grandes marcas que deram suporte para organização destes eventos on-line, possibilitando o sucesso financeiro dos mesmos por meio de patrocínios. A cervejaria Brahma, da Ambev, por exemplo, criou o Circuito Brahma Live, que patrocina lives de música sertaneja – um dos gêneros com maior audiência on-line. Percebeu-se, inclusive, que uma das estratégias foi a associação de determinadas marcas a certos gêneros musicais, de forma a fixar na memória do público o patrocínio destas lives.”

A quinta parte, Sintomas em Rede: Atravessamentos e (Des)encontros, mostra exemplos práticos da utilização de mídias sociais na pandemia, como o uso do Instagram como indicador do cumprimento do isolamento social no Brasil e a aplicação de audiovisuais numa rede de prevenção da covid-19 no Piauí. 

As duas últimas partes, Prosa Pandêmica: Poesia do Existir Além Vírus e Anticorpos Artísticos: Arte como Antígeno, Resistência, Sobrevivência, possuem enfoque mais artístico. Na primeira, há uma ficção e uma crônica sobre duas visões do isolamento, do medo, do contato com um vírus que pode se materializar em gêneros, sons e imagens. Na segunda, uma videoinstalação gera várias reflexões e expõe as concepções ideológicas e estéticas de seu autor. Há ainda um ensaio artístico desenvolvido no Instagram que se utiliza dos conceitos de contaminação e compartilhamento para difundir manifestações artísticas. 

E-book traz ensaios fotográficos que abordam poeticamente o isolamento durante a pandemia – Foto: Divulgação/ Vinicius Alves Sarralheiro

Para o professor Luís Fernando Angerami Ramos, outro dos organizadores do livro, Pandemídia se tornou um espaço de participação para que as pessoas pudessem colocar de uma forma emocional, racional e reflexiva o que elas estão vivendo e vendo a respeito do que está acontecendo no mundo, um convite de confluência de emoções e sensações.

“A obra fala de dores, experiências, impactos, reflexões, de esperança e de novos mundos”, diz a professora Deise Feitosa, também organizadora. Além disso, ela analisa que a obra significa externalizar o valor da Universidade e do conhecimento em um momento em que a ciência é questionada por parte da sociedade. “Pandemídia contribui para pensar sobre a sociedade e buscar soluções para ela”, destaca a professora. 

O e-book Pandemídia – Vírus, Contaminações e Confinamentos, publicado pelo Laboratório de Arte, Mídia e Tecnologias Digitais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e pela Invisíveis Produções, está disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP.


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