No livro, os autores dão destaque especial para Tropicália (1967) e Éden (1969), que ganham capítulos de análise particulares devido à centralidade que ocupam no projeto experimental de Oiticica. Ainda que o Tropicalismo –movimento de contracultura e valorização dos elementos populares da cultura brasileira impulsionado por Gilberto Gil e Caetano Veloso –, tenha ganho projeção nacional, Favaretto reitera que “não existia Tropicalismo quando Oiticica fez o ambiente que ele chamou de ‘Tropicália’”. Ao elaborar uma espécie de labirinto de madeira forrado com areia e pedras, que, percorrido pelo espectador, colocava-o em contato corporal com diversos elementos naturais e culturais do Brasil, o artista chamou-o de Tropicália.
“Primeiro, o Oiticica faz a obra e dá a ela esse nome. Então, o cineasta Luiz Carlos Barreto sugere ‘Tropicália’ como título para uma música que o Caetano compôs. Barreto fala sobre o Hélio Oiticica, diz que ele fazia obras parecidas com a música do cantor, e o Caetano intitula a canção dele Tropicália. A partir disso, surge na música popular brasileira o tal do Tropicalismo”, conta Braga. Favaretto ainda aponta a coexistência de elementos populares e da cultura de massa brasileira tanto na canção, como na obra do artista. “Ambas formam uma imagem do Brasil”, afirma ele, também autor de Tropicália: Alegoria, Alegria (1979), importante análise sobre o movimento. Por meio da combinação entre abertura estrutural, ação no ambiente, crítica da arte e intervenção cultural, a Tropicália de Oiticica questiona as interpretações culturais então hegemônicas no País e ressalta a relação entre arte e política.
Contrário ao caráter de consumo assumido pelo movimento tropicalista – “burgueses, subintelectuais, cretinos de toda a espécie a pregar tropicalismo, tropicália (virou moda!) […]”, como diz em escritos de 1968 –, Oiticica desenvolve Éden sob a tentativa de afastar a arte do consumismo, aproximando-a das vivências humanas e das experiências sensoriais. A obra, então, é composta de uma instalação com diferentes ambientes que estimulam os sentidos e convida o participante a explorar, tocar, deitar, caminhar e interagir com materiais naturais, como areia, água, folhas e pedras, além de objetos como almofadas e estruturas geométricas. O artista propõe um espaço de liberdade e contemplação, onde as pessoas vivenciem um estado de experimentação e ludicidade. “No Éden, diferentemente de Tropicália, não há imagens a serem decifradas ou decodificadas, mas um espaço de circulação, de sensações, imaginação e ideias”, relatam os autores no livro.