Culinária étnica é tema de evento sobre memória e identidade

Nesta quarta-feira, dia 22, ciclo de palestras realizado por laboratório da USP debate tradições de povos imigrantes

 17/08/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 20/08/2018 as 18:05
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Tradições culinárias de diferentes populações imigrantes no Brasil serão apresentadas no ciclo de palestras – Foto: Divulgação / Acervo Pessoal

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Nesta quarta-feira, dia 22 de agosto, acontece na Unibes Cultural o ciclo de palestras O Sabor das Tradições: Cozinha, Memória e Identidade. Em cinco conferências, pesquisadores abordarão o papel da culinária étnica na manutenção da identidade de grupos imigrantes estabelecidos no Brasil. O evento é organizado pelo Arquivo Virtual Histórias Migrantes, parte do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (Leer) da USP.

As palestras reúnem pesquisadores vinculados ao laboratório, vindos da USP e de outras instituições. “O Leer tem se dedicado a resgatar o legado dos imigrantes, tentando mostrar que eles podem contribuir para a formação dos grupos étnicos locais, o fortalecimento da identidade brasileira e das próprias identidades”, explica a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, coordenadora do laboratório. “Esse evento é resultado das ações intervencionistas do Leer, numa realidade muito tumultuada por discursos de ódio.”

A professora Maria Luiza Tucci Carneiro, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (Leer) da USP – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

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De acordo com a professora, que fará a abertura do ciclo, o objetivo dos pesquisadores é destacar as identidades étnicas de diferentes grupos através de suas tradições, como a gastronomia. “Suas práticas alimentares, a transformação do gosto à medida que essa culinária encontra no país de acolhimento as singularidades dos temperos, a diversidade dos sabores: como esses elementos identitários são transmitidos de geração em geração e como os imigrantes e seus descendentes os perpetuam no tempo e no espaço.”

Nas investigações, há a tentativa de reconstituir os processos dinâmicos e heterogêneos da imigração e o cruzamento dos costumes desse grupos, destaca Maria Luiza. “A cultura que esse imigrante traz passa por um processo de construção na sua comunidade de origem, depois, por uma desconstrução diante do impacto da imigração e, finalmente, por uma reconstrução.”

Sabores imigrantes

Nas palestras, as tradições culinárias de imigrantes açorianos, espanhóis, indianos, italianos e judeus serão apresentadas a partir de histórias, experiências e testemunhos orais, com destaque para o papel que as mulheres representaram em suas manutenções e transformações. Uma degustação de pratos típicos será realizada ao final do evento.

A jornalista e professora da Universidade Metodista de São Paulo Alexandra Gonsalez, coautora do livro Cozinha de Afeto – Histórias e Receitas de Doze Mulheres Imigrantes no Brasil, apresenta a história e a cozinha da chef indiana radicada no Brasil Deepali Bavaskar. Com um cardápio repleto de vegetais, curry, cabrito e frango, essa cozinha asiática oferece aos ouvidos pratos com nomes instigantes, como o navratan korma (uma mistura de legumes, frutas grelhadas e castanhas com molho à base de nozes, creme de leite e coco) e chana masala (uma receita do norte da Índia, feita de grão-de-bico cozido em molho de tomate aromático).

Já a culinária italiana, suas raízes caseiras e a popularização na gastronomia paulistana é o assunto de Silvana Azevedo, jornalista e mestre pela USP, autora da dissertação O Léxico da Cozinha Italiana em São Paulo: Autenticidade e Adaptação nos Restaurantes Paulistanos. Esse é o território familiar das cantinas, pizzarias e ristorantes, das massas e molhos, dos nomes italianos ou criativamente abrasileirados: o fusilli (ou parafuso), os pratos à pizzaiola, o polpettone, o onipresente à parmegiana.
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A multiplicidade gastronômica da Espanha, com suas especificidades regionais e permanências na cidade de São Paulo, será abordada por Dolores Martin Rodríguez Corner, autora do livro Sabores, Memórias e Imigração: Galegos e Andaluzes. É um passeio pelas sopas, pucheros e empanadas das regiões mais frias da Galícia e pelos gazpachos e salmorejos do clima mais quente da Andaluzia.

A professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Elis Regina Barbosa Angelo, autora do livro Trajetórias dos Imigrantes Açorianos em São Paulo, falará sobre a cultura alimentar dos membros desse grupo estabelecidos na Vila Carrão, na zona leste de São Paulo. Bolinho de bacalhau, morcela, alheira e malassada são alguns dos nomes mais ou menos familiares que representam a culinária vinda dos Açores e ganharam as festas de rua da comunidade.

A cozinha judaica encerra o ciclo com a fala do chefe de cozinha e empresário Gabriel Zitune. Ele é autor de Beirute, Mooca, Panelas e Amor, livro que mescla receitas de shakshukas (ovos cozidos em molho de tomate), quibes e sopas à trajetória de sua família, judeus sefaradi emigrados do Líbano para o Brasil nos anos 1920.

“Ao acolher as diversas imigrações e migrações, São Paulo se tornou depositária de múltiplas culturas que se mesclaram em contato com a cultura local”, comenta a pesquisadora Dolores Rodríguez Corner. “A gastronomia, entendida aqui como cozinha étnica, é o último dos hábitos a ser abandonado pelos imigrantes, uma vez que o gosto é formado no lar de infância, segundo os sabores introduzidos na alimentação, que permanecerão por toda a vida. Assim os sabores e os perfumes, como de um bolo saído do forno há pouco tempo, evocarão momentos vividos, pois estarão impregnados na memória de uma cozinha efetiva.”

O ciclo de palestras O Sabor das Tradições: Cozinha, Memória e Identidade acontece nesta quarta-feira, dia 22 de agosto, às 19 horas, na Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2.500, no Sumaré, em São Paulo). Entrada grátis. Os ingressos devem ser retirados pela internet neste link.


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