Concretismo e neoconcretismo são tema de palestra na USP

No dia 28, professor vai falar sobre as primeiras exposições desses movimentos no Brasil, realizadas nos anos 50

 24/11/2017 - Publicado há 6 anos
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A artista Lygia Pape posa ao lado de uma de suas gravuras na Exposição Nacional de Arte Concreta – Foto: Reprodução / Revista O Cruzeiro

Duas exposições fundamentais para o desenvolvimento da arte feita no Brasil a partir da segunda metade do século 20 são destaque em novembro no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O professor João Bandeira, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, discute no dia 28 a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta (1956) e a 1ª Exposição Nacional de Arte Neoconcreta (1959). O evento faz parte do ciclo Cultura, Institucionalidade e Gestão, promovido pela Cátedra Olavo Setúbal de Arte, Cultura e Ciência do IEA.

“Essas duas correntes da arte brasileira foram desaparecendo aos poucos, nos anos 1960 e 1970. Quando chegou o final dos 1980, contudo, a questão do formalismo retornou na arte mundial. Aí tanto concretismo como neoconcretismo ressurgiram”, comenta o titular da Cátedra Olavo Setúbal e coordenador do ciclo, o arquiteto Ricardo Ohtake.

“Aí que Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Papp ficaram importantes no mundo”, prossegue Ohtake, destacando a predominância dos neoconcretos no panorama artístico. “E hoje”, continua, “o neoconcretismo está pelo mundo e é a representação da arte brasileira na atualidade.”

Ruptura e Frente

Realizada em dezembro de 1956, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e entre janeiro e fevereiro de 1957, no Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta reuniu artistas radicados nas duas cidades e que integravam grupos voltados para a renovação da arte brasileira.

Em São Paulo se organizava o Grupo Ruptura, capitaneado por Waldemar Cordeiro (1925-1973) e composto pelos artistas brasileiros Alexandre Wollner (1928), Geraldo de Barros (1923-1998), Hermelindo Fiaminghi (1920-2004), Judith Lauand (1922), Luiz Sacilotto (1924-2003) e Maurício Nogueira Lima (1930-1999) e pelos artistas estrangeiros Anatol Wladyslaw (1913-2004), Kazmer Féjer (1923-1989), Leopoldo Haar (1910-1954) e Lothar Charoux (1912-1987).

Negando radicalmente a arte feita até então no País, o Ruptura abraçava a abstração e as formas geométricas, deixando de lado a representação da realidade. Buscava uma forma de arte nova, capaz de pensar e agir diretamente na sociedade. Suas ideias tiveram forte influência dos construtivistas suíços, em especial Max Bill (1908-1994).

No Rio de Janeiro, o Grupo Frente também se dedicava à abstração geométrica, mas se caracterizava mais pela rejeição à pintura modernista brasileira figurativa e nacionalista do que por uma posição estilística única.

“No concretismo a questão é a imagem e no neoconcretismo a questão é o objeto”, afirma Ricardo Ohtake – Foto: IEA

Agrupado em torno de Ivan Serpa (1923-1973), o Frente reunia nomes como Abraham Palatnik (1928), Aluísio Carvão (1920-2001), Carlos Val (1937), César Oiticica (1939), Décio Vieira (1922-1988), Elisa Martins da Silveira (1912-2001), Ferreira Gullar (1930-2016), Franz Weissmann (1911-2005), Hélio Oiticica (1937-1980), João José da Silva Costa (1931), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004), Rubem Ludolf (1932-2010) e Vicent Ibberson.

Foi exatamente durante a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta que as ideias dos dois grupos se chocaram e suas divergências se tornaram evidentes. Como resultado, os artistas do Frente foram chamados a tomar posições mais definidas em relação aos colegas paulistas, ao mesmo tempo em que o próprio grupo começou a se desfazer.

Logo em seguida, alguns dos integrantes do Frente se reorganizaram para criar o Movimento Neoconcreto, que tem como momentos fundadores a publicação do Manifesto Neoconcreto, em 22 de março de 1959, e a realização da 1ª Exposição de Arte Neoconcreta, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

“O concretismo é mais ligado à questão da geometria das formas e o neoconcretismo também se iniciou com essa questão, mas logo adquiriu um caminho próprio de colocar questões subjetivas também”, comenta Ohtake. “O concretismo”, continua o catedrático, “está preocupado com a questão da formalidade e o neoconcretismo está preocupado com a questão da objetividade, do objeto. Ou seja, no concretismo a questão é a imagem e no neoconcretismo a questão é o objeto.”

Cultura, Institucionalidade e Gestão

O ciclo Cultura, Institucionalidade e Gestão tem o objetivo de analisar a interface entre arte, cultura e política sob três olhares: o perfil de instituições centrais na ecologia cultural de São Paulo, a contribuição de gestores culturais e o lugar das exposições na representação cultural do Brasil contemporâneo.

Para conferir a programação completa, visite o site do IEA: http://www.iea.usp.br/noticias/gestao-de-instituicoes-culturais-sera-tema-de-encontros-da-catedra-olavo-setubal-em-agosto.

A palestra com o professor João Bandeira acontece dia 28 de novembro, terça-feira, às 14h30, na Sala de Eventos do IEA, na Rua da Praça do Relógio, 109, bloco K, 5º andar, na Cidade Universitária, em São Paulo. O evento é gratuito, sem necessidade de inscrição, e será transmitido ao vivo em http://www.iea.usp.br/aovivo.


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