Com acervo de Gilda de Mello e Souza, Centro MariAntonia reabre sua biblioteca

Cerca de 800 volumes da coleção pessoal da filósofa e professora da USP enriquecem o catálogo da biblioteca fundada em sua homenagem, que foi reinaugurada nesta sexta-feira, dia 29

 Publicado: 29/11/2024 às 18:03     Atualizado: 02/12/2024 às 14:33

Texto: Alícia Matsuda*

Arte: Joyce Tenório**

Imagem: Centro MariAntonia

A Biblioteca Gilda de Mello e Souza do Centro MariAntonia da USP foi reaberta nesta sexta-feira, dia 29. Inaugurada no dia 6 de dezembro de 2012, ela reúne mais de 4.500 livros, dos quais cerca de 800 pertenceram à filósofa, crítica literária e professora da USP Gilda de Mello e Souza (1919-2005).
“O acervo de Gilda é o cerne desta biblioteca, por isso a importância dela é extrema, uma oportunidade ímpar para pesquisadores ligados aos temas de estudo dela, que não se referem só à moda, tema de sua tese de doutorado, mas também às artes em geral, para as quais ela dedicou ensaios primorosos”, afirma a diretora do Centro MariAntonia, professora Ana Castro, docente da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design (FAU) da USP. Com o também professor da FAU José Lira, Ana Castro viabilizou a reabertura da biblioteca, após um período em que ela precisou ficar fechada por causa da morte da bibliotecária e da falta de funcionários disponíveis.
Para a reabertura, a atual bibliotecária, Lilian Bianconi, foi transferida da FAU para o Centro MariAntonia. Agora, Lilian é a responsável por incluir o acervo no Banco de Dados Bibliográficos da USP Dedalus. Além da coleção já disponível no centro, novas doações estão em processo de cadastramento, como os livros do arquiteto Célio Pimenta, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, morto em 2010. “A biblioteca foi formada inicialmente pela doação do acervo da professora Gilda, e em seguida esse acervo começou a crescer graças ao empenho dos sucessivos diretores do centro na aquisição de novas obras e à incorporação de outras doações”, explica Ana Castro.
Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A biblioteca

Instalada no térreo do Centro MariAntonia, a Biblioteca Gilda de Mello e Souza consiste em uma sala com dez estantes e duas mesas de estudos. Nos corredores, enfileiram-se livros e revistas sobre diferentes campos artísticos. São priorizados os títulos que preservam a memória do próprio Centro MariAntonia. “As escolhas mantêm-se no campo das artes, mas também da memória política do País, o que inclui temas como direitos humanos, democracia e ditadura, entre outros”, explica Ana. “Há volumes datados do século 19 e livros comprados pelo casal Gilda e Antonio Candido que formaram o repertório analítico expresso nas suas obras.”

Dois livros abertos. mostrando a capa e a contracapa deles.
Livros do acervo da Biblioteca Gilda de Mello e Souza - Foto: Alicia Matsuda
Dois livros abertos, mostrando a capa e a contracapa deles.
Livros do acervo da Biblioteca Gilda de Mello e Souza - Foto: Alicia Matsuda
Capas de seis livros
O acervo de Gilda conta com exemplares de livros escritos por ela - Foto: Alicia Matsuda
O acervo da filósofa foi doado há mais de dez anos para o Centro MariAntonia pelo crítico literário e professor da USP Antonio Candido (1918-2017), que foi casado com Gilda durante 60 anos. Candido e Gilda atuaram como professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP, que funcionava no prédio onde hoje está instalado o Centro MariAntonia. “A coleção doada pelo professor Antonio Candido para formar o núcleo inicial de uma biblioteca dedicada às artes, à estética e a campos afins engrandece esse projeto cultural da USP, porque coloca neste edifício histórico um polo de atração para a comunidade uspiana e para toda a população”, afirma a diretora Ana Castro. Ela completa: “Creio que o acervo de Gilda, na sua integralidade, é o que se destaca, porque permite acompanhar o pensamento de uma das mais importantes intelectuais do País”.
Na coleção de Gilda, os temas predominantes são moda e arte, que ela pesquisou ao longo de toda a sua vida. Há títulos antigos, como Philosophie de l’art, de 1882, e A Arte Brasileira: Pintura e Esculptura, de 1888, de Luiz Gonzaga Duque Estrada. Entre os livros assinados pela filósofa estão O Tupi e o Alaúde: Uma Interpretação de Macunaíma (1979), Exercícios de Leitura (1980), Os Melhores Poemas de Mário de Andrade – Seleção e apresentação (1988), O Espírito das Roupas: a Moda no Século XIX (1987) e A Ideia e o Figurado (2005).
A professora Ana Castro - Foto: Arquivo pessoal

Assista no link abaixo ao vídeo Uma Biblioteca Para as Artes Visuais, produzido em 2012 pela Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, por ocasião da inauguração da Biblioteca Gilda de Mello e Souza, em 6 de dezembro de 2012.

Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

A filósofa

Nascida em São Paulo em 1919, Gilda de Mello e Souza passou a infância em uma fazenda em Araraquara (SP), onde foi letrada em casa pela mãe e por um professor de francês. Em 1937, ela seria uma das poucas mulheres a ingressar no curso de Filosofia da FFCL, onde se formou em 1939. Doutora em Ciências Sociais pela USP com a tese A Moda no Século XIX, publicada originalmente em 1950, ela se tornou responsável, em 1954, pela disciplina de Estética do Departamento de Filosofia da FFCL, do qual foi chefe entre 1969 e 1972, o período mais repressivo da ditadura militar. Aposentada em 1973, Gilda recebeu em 1999 o título de Professora Emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP – sucessora da FFCL.  

*Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado


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