Colóquio vai trazer novas reflexões sobre Ana Cristina Cesar

Evento acontece nesta quarta e quinta-feira, dias 13 e 14, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

 11/11/2024 - Publicado há 2 meses
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Mulher de olhos claros e cabelos morenos, longos e cacheados, com as mãos colocadas atrás, no pescoço.
No meio universitário, Ana Cristina Cesar rapidamente se destacou como poeta, tradutora e pensadora – Foto: Arquivo Ana Cristina Cesar/Acervo Instituo Moreira Salles

Entre crítica e poesia, a obra da escritora, poetisa e tradutora brasileira Ana Cristina Cesar ecoa entre diferentes gerações. Pensando nisso, a pesquisadora Raquel Machado Galvão organizou o Colóquio Conexões Críticas de Ana Cristina Cesar, que será realizado nesta quarta e quinta-feira, dias 13 e 14, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

A abertura do evento, no dia 13, às 8 horas, será feita pelo professor Italo Moriconi, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que dará a palestra Revisitando Ana C. Nos dois dias do colóquio, serão realizadas quatro mesas-redondas, em que especialistas de diferentes universidades – como USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre outras – abordarão temas ligados à poesia, à correspondência e à crítica literária de Ana Cristina Cesar. O colóquio será encerrado com uma palestra do professor Michel Riaudel, da Universidade Sorbonne, em Paris, na França, intitulada Ana Cristina Cesar, Regime de Escrita, que será proferida no dia 14, às 10h45.

Segundo Raquel Galvão, um dos principais objetivos do colóquio é revisitar reflexões de intelectuais precursores nos estudos da obra de Ana Cristina e propor novas reflexões sobre o legado da escritora. “A ênfase do evento está na conexão entre pesquisadores de diferentes épocas. Há representantes tanto da primeira geração, que estudou Ana Cristina nos anos 1990, como da que está surgindo agora”, acrescenta Galvão, que é doutora pela Unicamp e atualmente faz pós-doutorado na FFLCH sobre a obra de Ana Cristina Cesar, incluindo estágio na Sorbonne. A programação completa do colóquio está disponível no site do evento

Poetisa, escritora e tradutora

Capa de livro com o desenho de cinco óculos.
No livro A Teus Pés, Ana Cristina Cesar dissolve as fronteiras entre prosa, poesia e ensaio – Foto: Divulgação/Companhia das Letras

Filha do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz Cesar e da professora Maria Luiza Cesar, Ana Cristina Cruz Cesar nasceu no Rio de Janeiro, em 2 de junho de 1952. “Influenciada pelo meio familiar, ela já ditava poemas antes mesmo de aprender a escrever”, destaca Galvão. Em 1969, fez um intercâmbio em Londres, onde se aprofundou no estudo da literatura inglesa. De volta ao Brasil, Ana Cristina ingressou no curso de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

De forma a demonstrar seu talento poético e sua consciência crítica, a escritora passou a publicar poemas, textos em prosa e críticas jornalísticas em coletâneas, revistas e jornais. Em 1976, Heloísa Buarque de Hollanda, sua professora na PUC, a incluiu na antologia 26 Poetas Hoje, uma seleção de habilidosos representantes daquela geração. “A coletânea foi responsável por institucionalizar o que era conhecido como literatura marginal nos anos 1970”, afirma Galvão. Ana Cristina Cesar se tornou um dos principais nomes da poesia marginal, que tem como marcas a resistência política, a liberdade estética, a ironia e a presença de elementos do cotidiano.

Sua dissertação de mestrado na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) resultou na publicação, em 1980, do livro Literatura Não É Documento, em que discorre a respeito de documentários sobre escritores e movimentos literários do Brasil. Em 1982, lançou A Teus Pés. Além de material inédito, a obra reúne textos dos três volumes que a autora publicou entre 1979 e 1980, de forma independente: Cenas de Abril, Correspondência Completa e Luvas de Pelica. “Uma característica marcante da escrita dela é a fluidez entre os gêneros. Ela passeia entre cartas, música, diário e poesia”, comenta Raquel Galvão.

Mas poderei dizer-vos que elas ousam? Ou vão, por injunções muito mais sérias, lustrar pecados que jamais repousam?

Trecho do poema “Atrás dos Olhos das Meninas Sérias”, de Ana Cristina Cesar, publicado no livro “A Teus Pés”

Mulher morena sorrindo, com estantes de livros atrás dela.
A pesquisadora Raquel Machado Galvão, organizadora do colóquio – Foto: Milena Murta/cedida pela pesquisadora

Ana Cristina Cesar morreu no Rio de Janeiro, em 29 de outubro de 1983, aos 31 anos. Galvão destaca a determinação da poetisa em tecer críticas sociais em seus textos, de modo a abordar a presença feminina no campo literário. “Quando lemos Ana Cristina Cesar, é importante lembrar que ela não viveu a democracia no Brasil. Ela viveu em meio à ditadura militar e, ainda assim, teve a coragem de escrever criticamente”, complementa.

Em 2016, Ana Cristina Cesar foi escolhida como homenageada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Ela foi a segunda mulher a ser lembrada pelo evento, que também homenageou Clarice Lispector em 2005. “Acredito que esse reconhecimento redimensionou Ana Cristina Cesar no mercado editorial, da mesma forma que ampliou o acesso à obra dela e o interesse por pesquisá-la.”

Entre o erudito e o popular 

Raquel Galvão conta que o fator que mais a atraiu ao estudo da obra de Ana Cristina Cesar foi a quantidade de referências a outros escritores e intelectuais nos textos da escritora. Seu projeto de pós-doutorado tem como propósito justamente a análise das conexões críticas que a escritora estabelece com grandes nomes da literatura brasileira e mundial.

“Eu observei como ela leu escritores da tradição literária, como Camões, Edgar Allan Poe, Guimarães Rosa, José de Alencar e Machado de Assis”, relata. Embora a alusão a escritores do chamado cânone ocidental seja um dos traços frequentes na obra de Ana Cristina Cesar, a pesquisadora também destaca a presença de elementos da cultura popular, como trechos de composições de Roberto Carlos e Caetano Veloso. “Do mesmo modo que ela quebra, ela também flerta com a tradição.”

Galvão deseja que o colóquio promova novas perspectivas em torno da produção da autora. “O evento vai ser importante para marcarmos o nome dela. Ana Cristina Cesar mudou minha percepção de mundo, e acredito que pode mudar a de outros leitores também.”

Faixa horizontal com palavras que anunciam evento na USP.
Banner de divulgação do Colóquio Conexões Críticas de Ana Cristina Cesar – Imagem: Reprodução/Conexões Críticas

 

O Colóquio Conexões Críticas de Ana Cristina Cesar será realizado nesta quarta e quinta-feira, dias 13 e 14, na sala 118 do Prédio de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Entrada grátis. Não é preciso fazer inscrição. Mais informações estão disponíveis no site do evento.

*Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro


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