Coleção Vozes do Holocausto tem mais dois volumes publicados

Livros serão lançados no dia 12 de novembro, no Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto, em São Paulo

 09/11/2018 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 12/11/2018 as 16:39
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Judeus desembarcam de trem em Auschwitz – Foto: Reprodução / Arqshoah / LEER-USP

Com 20 anos de idade, casado e aspirante a empresário, o jovem judeu alemão Siegfried Adler teve sua casa invadida por nazistas, que agrediram a ele e sua esposa, Lieselotte Adler. Eram sinais do antissemitismo aflorando já em 1933. Vendo-se obrigado a fugir da Alemanha, o casal Adler caminhou a pé até a fronteira da Checoslováquia. De lá, os dois seguiram para a Palestina e tentaram emigrar para os Estados Unidos. Sem conseguir esse objetivo, vieram para o Brasil. Aqui, Adler criaria a fábrica de brinquedos Estrela e se tornaria uma das principais figuras da comunidade judaica brasileira.

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Essa é uma das histórias presentes nos volumes 3 e 4 da Coleção Vozes do Holocausto, publicada pelo Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em parceria com a Editora Maayanot. Esses volumes serão lançados no dia 12 de novembro, segunda-feira, às 19 horas, no Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto, em São Paulo. O lançamento se dará durante a Cerimônia de Lembrança dos 80 Anos da Kristallnacht, promovida pelo Memorial e pelo Projeto Arquivo Virtual Sobre o Holocausto e Antissemitismo (Arqshoah), ligado ao LEER, em memória das vítimas da chamada Noite dos Cristais – o ataque de nazistas contra sinagogas e prédios judaicos na Alemanha ocorrido na noite de 9 de novembro de 1938.

Na cerimônia, serão homenageados o alemão Leo Weil e a brasileira Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (1908-2011), por terem contribuído para a salvação de judeus durante o regime nazista. Esposa do escritor mineiro Guimarães Rosa (1908-1967), Aracy era chefe da Seção de Passaportes do Consulado Geral do Brasil em Hamburgo, na Alemanha. Nessa condição, ela conseguiu fazer com que muitos judeus entrassem ilegalmente no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas. Weil, que estará presente na cerimônia, falsificou entre 80 e 100 identidades para transporte de judeus da Holanda para a França.

A Coleção Vozes do Holocausto publica depoimentos inéditos de sobreviventes do Holocausto. Um desses depoimentos, publicado no volume 4 da coleção, a ser lançado no dia 12, é de Anita Leocádia Prestes, filha de Olga Benário com o criador do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Luiz Carlos Prestes. Ela nasceu na prisão feminina da Gestapo (polícia secreta nazista), em Berlim, no dia 27 de novembro de 1936. Ficou pouco mais de um ano com sua mãe, até ser entregue para sua avó Leocádia e sua tia Lygia Prestes, que tinham feito uma campanha de mobilização internacional para resgatar a criança. Anita cresceu, formou-se historiadora, mas nunca viu sua mãe depois de separadas, pois Olga foi executada no campo de extermínio de Bernburg, na Alemanha, em 23 de abril de 1942.

Responsável pela salvação de vários judeus, a brasileira Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa possui seu nome no Museu do Holocausto, em Israel – Foto: Reprodução / Arqshoah / LEER-USP

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Anita Leocádia e sua avó Leocádia, em Paris, em 1948 – Foto: Reprodução / Arqshoah / LEER-USP

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O judeu alemão Siegfried Adler – Foto: Reprodução / Arqshoah / LEER-USP

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Genocídio singular

Cada um dos volumes 3 e 4 da Coleção Vozes do Holocausto é dividido em três partes. A primeira se refere a Refugiados e Sobreviventes, mostrando as diferentes nacionalidades e perfis dos judeus que fugiram do horror nazista. A segunda parte é dedicada aos Movimentos de Resistência, com testemunhos de judeus que fizeram parte de guerrilhas. Já a terceira parte trata dos Justos e Salvadores, reunindo informações daqueles que se dedicaram a salvar milhares de judeus do nazismo alemão e do fascismo italiano.

A professora Maria Luiza Tucci Carneiro – Foto: Cecília Bastos

Os dois volumes  fazem parte de uma coleção que deverá ter, ao todo, dez volumes. “Cada volume em média tem de 13 a 15 histórias de vida. O volume 3 traz 13 histórias e o volume 4 possui 12 histórias”, explica a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, coordenadora do LEER. Em fase de preparação, os volumes 5 e 6 deverão ser lançados no segundo semestre de 2019.

Segundo a professora Maria Luiza, a intenção foi entrevistar somente pessoas que vieram para o Brasil ou seus descendentes (filhos e netos). Ao todo, existem cerca de 350 entrevistas, sendo 280 em vídeo e outras 70 em áudio. E a quantidade aumentará com os 80 nomes que estão na lista de entrevistas já para o ano que vem. Esses testemunhos foram e serão registrados por uma equipe coordenada pela professora Rachel Mizrahi.

Os documentos digitalizados estão disponíveis no site do Arqshoah (www.arqshoah.com), incluindo as histórias publicadas na Coleção Vozes do Holocausto.

Ainda segundo Maria Luiza, “o principal objetivo da coleção é mostrar o Holocausto como um genocídio singular, único na história da humanidade, e, hoje, distanciados dos fatos, fazer uma avaliação dos elementos do nazismo e do fascismo para manter uma dialética do lembrar, ressaltando que é importante não esquecer o que aconteceu”.

Os volumes 3 e 4 da Coleção Vozes do Holocausto serão lançados no dia 12 de novembro, às 19 horas, no Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto (Rua da Graça, 160, Bom Retiro, em São Paulo).

 


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