Cinusp inaugura primeira mostra do ano com aventura e luta

A programação mescla diferentes artes marciais com narrativas comoventes e cômicas, oferecendo ao público um vasto repertório cultural

 27/01/2020 - Publicado há 4 anos
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Kung-fusão, paródia em homenagem ao cinema de luta chinês – Foto: Divulgação Cinusp

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Oriundas do Deus romano da guerra, Marte, as artes marciais têm em sua criação uma finalidade bélica. No entanto, com a invenção das armas de fogo, elas perderam esse sentido e continuaram existindo apenas pela tradição de determinadas culturas. Embora possuam técnicas bem diferentes, a formação moral e a melhora da capacidade física que elas promovem são pontos em comum muito utilizados pelo cinema. Pensando nisso, o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) abre a programação do ano, no dia 27 de janeiro, com a mostra Eles que Lutem, que apresenta um pouco desse gênero tão versátil.

“É um cinema muito rico, com um estilo próprio que passa por vários outros como o drama, a comédia e o suspense”, conta Lucas Silva, responsável pela curadoria dos filmes apresentados. Segundo ele, a mostra se preocupa em oferecer um panorama das diferentes lutas ao redor do mundo, do kung fu na China, passando pela capoeira no Brasil, até o boxe na Inglaterra. 

 

O Crisântemo e a Guilhotina, filme que mostra o sumô feminino no Japão, onde a profissionalização do esporte é proibida

 

Kung-fusão e O Crisântemo e a Guilhotina são alguns exemplos das artes marciais asiáticas presentes na programação. O primeiro é uma paródia de 2004 que narra a luta entre uma gangue e os moradores de um conjunto habitacional, e se destaca dos demais filmes de kung-fu pelos efeitos especiais utilizados para dar maior efeito de realidade. O segundo é de 2016 e conta a história de duas lutadoras de sumô que enxergam no esporte, cuja profissionalização é proibida no Japão, um refúgio da dura realidade em que estão inseridas. “A mistura entre luta e política aparece em muitos dos filmes escolhidos”, afirma Silva.

 

Em Besouro, mestre Alípio ensina a Manoel os golpes da capoeira e as virtudes da concentração e da justiça

 

Os filmes brasileiros na mostra são o do capoeirista Besouro (2009), que se passa na Bahia em 1920, onde, apesar da abolição da escravatura, os negros ainda eram tratados como escravos no interior. E 10 Segundos Para Vencer (2018), que conta a vida de um boxeador em busca do título mundial, é baseado na história real de Éder Jofre, mais conhecido como “Galinho de Ouro”. “São filmes antigos e recentes, de diferentes lugares e que representam vários tipos de artes e de lutadores”, diz Silva sobre a variedade da programação.

 

Menina de Ouro, filme ganhador de quatro Oscars, incluindo o de Melhor Filme

 

O boxe é uma das modalidades mais bem contempladas na mostra, especialmente em filmes norte-americanos. É o caso de Touro Indomável (1980), que narra a ascensão da carreira de um boxeador e a instabilidade familiar que seus comportamentos geram. É considerado hoje uma das obras-primas de seu diretor, Martin Scorsese. Menina de Ouro (2004) é outro que conta a história de uma boxeadora ao mesmo tempo em que traça um relato comovente sobre as condições sociais em que muitos desses lutadores surgem. O filme, dirigido por Clint Eastwood, foi indicado a sete Oscars e ganhou quatro: Melhor Filme, Direção, Atriz e Ator Coadjuvante. 

 

Jean-Claude Van Damme em O Grande Dragão Branco

 

“Não queremos mostrar apenas os diferentes tipos de luta, mas também quem está falando delas e as representando”, afirma Silva. De acordo com ele, alguns nomes clássicos em filmes desse tipo não poderiam faltar na programação. Jean-Claude Van Damme, por exemplo, viu sua carreira decolar ao estrelar O Grande Dragão Branco (1988), longa que influenciou toda uma década de filmes de artes marciais. 

 

Jackie Chan em A Lenda do Mestre Invencível II

 

Jackie Chan e Bruce Lee também tiveram uma grande importância nesse cenário pela representatividade oriental que ofereciam em seus filmes. “Eles foram os grandes responsáveis por diminuir a distância entre o Oriente e o Ocidente”, conta Silva. Em A Lenda do Mestre Invencível II (1994), o especialista em artes marciais Chan é protagonista e diretor de uma história de resistência contra a exploração estrangeira. E em Operação Dragão (1973) Lee, que morreu precocemente um mês antes do lançamento do filme, investiga um torneio de luta que serve de fachada para a venda de ópio.

 

Bruce Lee em Operação Dragão

 

Para Silva, cada um tem uma forma de relação com a luta, seja para proteção, esporte, hobby ou como filosofia de vida, mas, no geral, essas atividades pautam uma parte do caráter e da vida das pessoas que as praticam. “Nós apresentamos uma grande variedade de lutas, mas o papel da mostra é apresentar o impacto dessas artes marciais na vida de cada um.”

 

Sanshiro Sugata – A saga do judô, primeiro longa-metragem de Akira Kurosawa, conta a história do lutador inexperiente de jiu jitsu

 

Dangal, lutador aposentado Mahavir Singh Phogat, em busca do sonho de uma medalha indiana em um campeonato internacional

 

10 Segundos para Vencer: O pugilista Éder Jofre busca o título mundial com o treinamento de seu pai, Kid Jofre


Eles que Lutem
fica em cartaz de 27 de janeiro até 16 de fevereiro no Cinusp – Rua do Anfiteatro, 181, Colmeias – Favo 4. A entrada é gratuita. Para conferir a programação completa acesse o site do Cinusp.

 


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