Cinemateca Brasileira retorna às atividades

A instituição está sob nova gestão depois de um ano e três meses fechada e deve voltar a atender o público no ano que vem

 08/12/2021 - Publicado há 2 anos
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Cinemateca Brasileira foi fundada em 1946 por iniciativa de Paulo Emílio Salles Gomes – Fotomontagem com imagem de Wikimedia

 

No dia 29 de julho de 2021, a Cinemateca Brasileira enfrentava o quinto incêndio desde sua origem em 1940 — dessa vez em um galpão na Vila Leopoldina, que guardava cerca de 1 milhão de documentos da antiga Embrafilme. Responsável pela preservação da produção audiovisual brasileira, a Cinemateca sofreu vários dramas além do fogo: alagamentos, falta de funcionários, cortes de verbas em 2020 e ficou fechada por um ano e três meses. Para reverter esse cenário histórico de tragédias, no dia 18 de novembro foi anunciada a retomada parcial das atividades da Cinemateca Brasileira, sob a nova gestão da Organização Social Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC).

A professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e diretora executiva da SAC, Maria Dora Mourão, vai dirigir a Cinemateca neste período emergencial de três meses até que um contrato de gestão por cinco anos seja firmado. A previsão é que a Cinemateca possa ser frequentada pelo público em 2022. Até lá, o Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca (BCC) estará novamente acessível com muitos textos e produções audiovisuais. Para a diretora, a Cinemateca é a memória audiovisual do país e fundamental do ponto de vista cultural, do ponto de vista social, histórico e da educação. “Voltar ao período de auge é o nosso objetivo” , ressalta Maria Dora.

Mas a trama da direção da Cinemateca, criada por iniciativa de Paulo Emílio Salles Gomes em 1946, possui alguns entraves. De março de 2018 a dezembro de 2019, a responsável era a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp). Depois não houve renovação do contrato pelo então ministro da Educação, Abraham Weintraub. Após as chaves serem entregues ao governo federal, os repasses de verba foram cortados, não houve outro chamamento público para uma nova entidade ocupar o posto, funcionários ficaram sem receber salários e houve atrasos de pagamentos de contas. Nem a promessa do comando de Regina Duarte, ex-secretária especial de Cultura, foi cumprida. “Depois que o governo federal solicitou as chaves e fechou a Cinemateca, não houve de fato uma gestão”, lamenta Maria Dora, que acompanha as atividades da instituição há 20 anos.

O maior acervo audiovisual da América do Sul, com cerca de 250 mil rolos de filmes e mais de 1 milhão de documentos, como roteiros, cartazes e livros, ficou sem uma entidade gestora desde o dia 31 de dezembro de 2019. Até que, um dia depois do incêndio de julho de 2021, o governo federal publicou edital para contratar uma entidade para gerir e preservar a instituição, vencido pela SAC. “Demorou para que a SAC assinasse o contrato emergencial, por questões burocráticas, e se iniciou faz uns 15 dias apenas”, conta Maria Dora. “A ideia é a SAC entrar para não deixar a Cinemateca totalmente fechada porque é muito perigoso ter um acidente com o acervo, principalmente o de nitrato, um material que é inflamável e que precisa ser verificado todos os dias.”

Em relação à tragédia de julho, o fogo teve início durante a manutenção do sistema de ar condicionado realizada por uma empresa terceirizada, de acordo com os bombeiros. Maria Dora afirma que ainda não tem o laudo pericial, portanto, não há informação sobre a quantidade exata do conteúdo que foi perdido no incêndio. “Sabe-se que muitos papéis foram queimados e a maior parte dos documentos era da Embrafilme. Já muitas cópias de filmes de difusão foram perdidas, as originais ficaram no outro prédio. Temos que ver o que foi perdido tanto pelo fogo do incêndio como pela água dos bombeiros”, explica a diretora.

Incêndio em um galpão da Cinemateca Brasileira em julho de 2021 – Foto: Senado Federal

 

Em paralelo com o contrato emergencial de três meses com a Secretaria Nacional do Audiovisual do Ministério do Turismo, foi feito o edital de chamamento para a contratação de uma nova Organização Social (OS) com o contrato de cinco anos, o qual a SAC também ganhou. Para o contrato com duração maior, foi necessário iniciar o processo de mudança da SAC, que era uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), para uma OS. Assim que o processo for finalizado a SAC procederá à eleição de seu conselho e à escolha de seus diretores para então passar a gerir plenamente a Cinemateca pelos próximos anos.

Esse acordo de cinco anos prevê a destinação pelo governo federal à SAC de R$ 14 milhões anuais para exercer suas atividades. Maria Dora aponta que a gestão ainda é obrigada a captar 40% desse valor como parte do contrato. Estima-se que, pelos cálculos, o ideal seriam 10 milhões a mais por ano, segundo a diretora.  Além disso, a proposta de abertura emergencial da Cinemateca conta com a recontratação de 40 colaboradores com investimento do Instituto Cultural Vale. No momento há apenas 18 funcionários, sendo que entre 2008 e 2013 chegou a ter 140 no local.

Maria Dora descreve algumas prioridades e novos rumos para a Cinemateca neste período emergencial. “Precisamos  resolver a questão da manutenção, como o telhado na Vila Clementino, analisar e diagnosticar a parte técnica e a infraestrutura para poder religar as máquinas, já que entrou água. Há o risco de ocorrer um curto-circuito”, alerta a diretora. Ela ainda comenta que pretende digitalizar o acervo, inclusive de nitrato, continuar com o sistema de difusão e formação com cursos na instituição e divulgar mais conteúdos no site. 

 


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