Cinema da USP apresenta filmes originais e seus “remakes”

Até 16 de fevereiro, a primeira mostra do Cinusp em 2025 exibe produções de diferentes origens e suas refilmagens

 Publicado: 29/01/2025 às 14:16
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Cartaz com duas fotos que mostram os olhos de dois homens.

Arte sobre capa da mostra Remakes (2025) – Foto: Reprodução/Cinusp

A fim de apresentar ao público diferentes releituras de narrativas, personagens e conflitos já trabalhados nas telas antes, o Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) abre sua programação de 2025 com a mostra Remakes. Até 16 de fevereiro, serão exibidas sete duplas e uma tríade de sessões — todas com filmes originais acompanhados de suas respectivas adaptações. As exibições acontecem nas salas do Cinusp instaladas no Centro Cultural Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, e no Centro MariAntonia da USP, na Vila Buarque, região central de São Paulo.

Clara Barra, curadora do Cinusp, afirma que “muitas recriações se tornaram icônicas ao oferecer novos olhares críticos e trocas culturais interessantes”. Ela aponta o reaproveitamento de histórias como uma prática frequente na indústria cinematográfica, que reproduz sucessos de bilheteria e emplaca continuações de títulos aclamados pelos espectadores. Ainda assim, Barra garante que os remakes da mostra, mais do que renovar produções antigas, também agregam novos contextos às obras e propõem reflexões ao público. “Tem remakes que são mais referenciais, reconstruindo todo o enredo e a caracterização, e tem outros que deslocam completamente a premissa da história”, acrescenta Barra.

Theo Gama, também curador do Cinusp, reitera: “Cada filme tem suas readequações e peculiaridades próprias”.

Filmes em dose dupla 

Duas mulheres sentadas à beira de uma piscina.

Matou a Família e Foi ao Cinema (1969) – Foto: Reprodução/Cinusp

Barra conta que a exibição conjunta dos filmes originais e de suas refilmagens foi planejada justamente para o período de férias, de modo que os visitantes do Cinusp assistam a ambas as versões. “Pensamos na programação dos filmes juntos para que o público, geralmente com mais tempo livre durante o recesso, consiga fazer a dobradinha e ver os dois no mesmo dia”, relata. Ela enfatiza que os espectadores, ao assistirem às sequências de filmes, podem desenvolver uma visão comparativa entre as obras e perceber as referências presentes nas adaptações.

Mulher com um revólver nas mãos.

Matou a Família e Foi ao Cinema (1991) – Foto: Reprodução/Cinusp

A mostra contará com duplas como Os Infiltrados (2006), produzido a partir de Conflitos Internos (2002), e Hex (1980), baseado em As Diabólicas (1955), além do trio Tudo que o Céu Permite (1955) e suas duas refilmagens, O Medo Consome a Alma (1974) e Longe do Paraíso (2002). Entre os títulos em cartaz, os principais destaques dos curadores são o longa Yojimbo (1961) e seu remake não autorizado Por um Punhado de Dólares (1964) e os representantes brasileiros Matou a Família e Foi ao Cinema (1969) e sua releitura homônima de 1991.

“Muitas pessoas que viram Por um Punhado de Dólares não sabem que é um remake de Yojimbo, porque este, por si só, é um filme icônico”, comenta Theo Gama. Enquanto Yojimbo, do cineasta japonês Akiro Kurosawa, retrata um samurai em meio a disputas entre duas facções no Japão do século 19, Por um Punhado de Dólares, do italiano Sérgio Leone, apresenta um forasteiro que chega a uma cidade mexicana e, similarmente, encontra dois grupos rivais em guerra. O curador explica que, ao produzir uma releitura não oficial da narrativa, Leone introduziu um novo paradigma ao gênero western e lançou o ator Clint Eastwood, protagonista do filme, ao estrelato. Ainda assim, o diretor do remake teve de pagar uma indenização a Kurosawa pelo plágio do trabalho. As sessões acontecerão nos dias 30 de janeiro, às 16h e às 19h, e 10 de fevereiro, no mesmo horário, no Centro Cultural Camargo Guarnieri, e no dia 2 de fevereiro, às 16h e às 18h, no Centro MariAntonia.

Já Matou a Família e Foi ao Cinema, cuja primeira versão é dirigida por Júlio Bressane, coloca-se, segundo Barra, como um dos marcos do cinema marginal brasileiro. “Ele é muito simbólico para o movimento, já que tem uma história fragmentada e provocativa, além de uma direção muito livre. O título acontece nos primeiros minutos de filme: um garoto carioca de classe média mata os pais e vai ao cinema para assistir a um filme sobre lésbicas.” A adaptação do longa é do cineasta Neville d’Almeida, que dirigiu títulos populares da pornochanchada — gênero nacional conhecido por mesclar erotismo e humor. Ao trazer Cláudia Raia e Alexandre Frota para contracenar com Maria Gladys no remake, D’Almeida adiciona toques novelescos e pornográficos à narrativa original. “É um filme que referencia o Brasil da redemocratização, em que as novelas assumem um papel cultural importante”, completa Barra. As sessões ocorrerão às 16h e às 19h dos dias 3 e 11 de fevereiro, apenas no Centro Cultural Camargo Guarnieri.

Clara Barra e Theo Gama também destacam a tríade de filmes presente na mostra. Tudo que o Céu Permite é do cineasta alemão Douglas Sirk, que dirigiu o filme nos Estados Unidos. “Na história, uma dona de casa viúva se apaixona por seu jardineiro e sofre retaliações por se tratar de um relacionamento entre uma mulher rica e mais velha e um homem pobre e mais novo”, descreve Barra. Em 1972, o diretor alemão Rainer Fassbinder refaz a obra e a intitula O Medo Consome a Alma, de modo a incluir discussões sobre etnia e imigração no enredo. “É a mesma narrativa, mas há, então, uma faxineira que se apaixona por um imigrante marroquino também mais novo que ela. Eles sofrem muito preconceito da sociedade.” Já em 2002, Todd Haynes, diretor ligado ao cinema queer, produz a terceira versão do filme: Longe do Paraíso. “Desta vez, o marido da protagonista se descobre gay, e ela, ao lidar com a sexualidade reprimida dele, se apaixona novamente pelo jardineiro, que é negro”, conta a curadora. Os longas serão exibidos em sessões únicas no dia 14 de fevereiro, às 16h, 19h e 21h, também no Camargo Guarnieri.

Mulher de cabelos morenos, sorrindo.

A curadora do Cinusp, Clara Barra – Foto: Arquivo Pessoal

Homem de óculos e com barba.

O curador do Cinusp, Theo Gama – Foto: Arquivo Pessoal

Conversa com Neville d’Almeida e homenagem a David Lynch

Homem sorrindo.

O cineasta Neville d’Almeida – Foto: Leo Lara/Universo Produção/Flickr

No dia 11 de fevereiro, o Cinusp traz o cineasta Neville d’Almeida para uma conversa com o público após a exibição das duas versões de Matou a Família e Foi ao Cinema. “Ele ficou muito honrado com o convite e falou que sempre quis ver os dois filmes passando juntos. Acho que vai ser muito interessante ouvi-lo falar sobre essa troca que ele e Júlio Bressane tiveram”, comenta Barra. 

Além do encontro com D’Almeida, a programação incluiu, no dia 28, a exibição do filme Veludo Azul, de David Lynch, como uma homenagem ao cineasta estadunidente, que morreu no dia 15 passado.

Homem de cabelos brancos.

O cineasta estadunidense David Lynch – Foto: Georges Biard / CC BY-SA 3.0

A mostra Remakes, do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), está em cartaz até 16 de fevereiro (domingo), em sessões às 16, 18, 19 e 21 horas, nas salas do Cinusp instaladas no Centro Cultural Camargo Guarnieri da USP (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, São Paulo) e no Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antônia, 258, Vila Buarque, região central de São Paulo, próximo às estações Higienópolis-Mackenzie e Santa Cecília do metrô). Entrada grátis. A programação completa da mostra e mais informações estão disponíveis no site do Cinusp.

* Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro


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