Campus de Piracicaba mostra obras do Salão de Arte Contemporânea

Exposição lembra os 50 anos do Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, que começou no campus da USP

 19/10/2018 - Publicado há 5 anos
Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba – Foto: Gerhard Waller

Tudo começou em 1968. Junto da confusão política e da incerteza econômica, veio a efervescência cultural. Nesse ambiente de embate de ideologias e necessidade de manifestações artísticas surgiu o Salão de Arte Contemporânea (SAC) de Piracicaba.

Ainda que de forma tímida, a primeira edição foi realizada no Centro Acadêmico Luiz de Queiroz (Calq) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. “O Calq abriga muitos eventos culturais, teatro, dança, música e arte contemporânea. Era um dos poucos locais na cidade, naquela época, que poderia abrigar uma mostra com telas de artistas locais e de outras cidades do País”, lembra o professor Antonio Natal Gonçalves, do Departamento de Ciências Florestais da Esalq, que em 1968 ingressou no curso de Engenharia Agronômica e trazia consigo a vontade de se formar e de se expressar artisticamente.

A primeira edição integrou um movimento que inaugurou outros salões, como o de Ribeirão Preto, e, 50 anos depois, o evento traz em sua essência vigor e longevidade traduzidos em sua diversidade artística.

Como parte das comemorações do cinquentenário do SAC Piracicaba, o professor Natal, que hoje integra a comissão organizadora da mostra, propôs uma “volta para casa”. No Museu Luiz de Queiroz, da USP em Piracicaba, parte do acervo do Salão está reunido na exposição SAC-50 anos.

Pintura de Bernardo Caro e Berenice Roledo – Foto: Gerhard Waller

“O Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba começou em 1968, a primeira edição foi realizada no Calq, por iniciativa de Ermelindo Nardin, que foi o intermediário, mas com apoio e incentivo do professor Walter Zanini, que era professor catedrático da época e diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Assim, nada mais justo do que comemorarmos trazendo parte desse acervo para a USP e podendo dialogar com a comunidade acadêmica.”

Cerca de 50 obras estão no Museu Luiz de Queiroz. Telas, esculturas, aquarelas, instalações e fotografias compõem um conjunto múltiplo de técnicas e temas e revelam uma diversidade artística da produção de arte contemporânea nacional.

Entre as telas, Multidão, de Leonelo Berti, chama a atenção a partir da referência com o período histórico na qual foi concebida. O ano era 1968 também e o trabalho foi apresentado na 1ª edição do SAC Piracicaba. “Naquela época vivíamos a ditadura e essa tela traz o pânico, o medo e a angústia do momento político. Hoje, aliás, estamos em um momento político muito parecido”, aponta o professor da Esalq, que também tem uma obra sua na exposição. Trata-se de Pontes do Pensamento, uma simulação de jogo da velha que remete a uma passagem da vida pessoal do docente. “Pontes do Pensamento coincide com o meu divórcio. Tanto o casamento quando o divórcio têm uma analogia com o jogo da velha: ou você ganha ou você perde e traz em si alternativas diversas.”

Projetar-se enquanto produz. A arte assim permite. Assim o fez Arayr Olair Ferrari, médico ortopedista que tem a obra Escultura, do SAC 1989. Nela temos a referência imediata do sobrepor de ossos do esqueleto humano, mais precisamente dos membros inferiores, esquematizados em sucata e seixos rolados. Ali, rocha e sucata traçam paralelo com as articulações e projetam uma prótese conceitual.

Obra de Marilu Trevisan – Foto:

Marilu Tevisan é arte-educadora, tem formação na área e sua obra Segmentos da Infância II, em xilogravura, evidencia o universo infantil. É simples, limpa, lúdica, traz a pureza infantil nas formas e cores.

Carga cativa A é realismo. De Bernardo Caro e Berenice Toledo, compôs o SAC 1982 e o professor Natal comenta a obra: “Foi uma época na qual os artistas estavam mergulhando no realismo social. A pintura contemporânea dialoga nesse estilo com a fotografia. Ficamos na dúvida se é foto ou é tela. Hoje temos o hiper-realismo dentro dessa tendência”.

“Tem muita gente jovem criando, utilizando as novas linguagens. Hoje o artista traz um perfil multimídia e esse acervo retoma sua origem a fim de dialogar com o passado e com o presente da arte contemporânea brasileira”, conclui o professor.

Pintura de Leonelo Berti – Foto: Gerhard Waller
Escultura de Arayr Olair Ferrari – Foto: Gerhard Waller
Gravura de Antonio Natal Gonçalves – Foto: Gerhard Waller

A exposição SAC-50 ficará aberta até 26 de outubro, das 8 às 17 horas, no Museu Luiz de Queiroz da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP (Avenida Pádua Dias, 11, Piracicaba). Entrada grátis.

Caio Albuquerque, de Piracicaba

 

 


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