Autor suíço lança na USP livro sobre a obra de Milton Hatoum

Evento será no dia 12 de junho, terça-feira, às 14 horas, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

 08/06/2018 - Publicado há 6 anos
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Manaus, a antiga “Paris da Amazônia”, cenário da obra de Milton Hatoum – Foto: Reprodução / Capa Milton Hatoum – Entre Oriente e Amazônia

Iluminar a origem e o horizonte migratório dos sírio-libaneses no Brasil. Foi esse o objetivo do pesquisador suíço Albert von Brunn ao escrever o livro Milton Hatoum – Entre Oriente e Amazônia, que será lançado no dia 12 de junho, terça-feira, às 14 horas, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP, com a presença do autor e do escritor amazonense Milton Hatoum. Publicado pela Editora Humanitas, o livro tem tradução de Rafael Rocca dos Santos. O evento de lançamento da obra terá a mediação do professor Mamede Mustafa Jarouche, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Especialista em literatura de língua portuguesa, von Brunn investiga, em seu livro, o universo ficcional de Milton Hatoum, que trafega entre o Oriente e o Amazonas. O projeto nasceu em 2009 e consistiu no estudo dos quatro primeiros romances do escritor descendente de libaneses: Relato de um Certo Oriente (1989), Dois Irmãos (2000), Cinzas do Norte  (2005) e Órfãos do Eldorado (2008). “Seguimos o escritor de Manaus à sua cidade natal, a antiga ‘Paris da Amazônia’, a qual ele é capaz de retratar com a maestria consumada de um dos melhores romancistas de nossa época”, escreve von Brunn.

O pesquisador suíço Albert von Brunn – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Von Brunn conheceu o escritor em julho de 1994, durante a Feira de Livros de Frankfurt, na Alemanha, que teve o Brasil como país convidado de honra e onde Hatoum apresentou Relato de um Certo Oriente. O pesquisador suíço escolheu esse livro porque, através dele, pretendia ampliar seus conhecimentos da cultura árabe, conforme ele revelou em entrevista ao Jornal da USP, dada num português fluente, que aprendeu em Portugal.

Em Milton Hatoum – Entre Oriente e Amazônia, von Brunn caracteriza cada um dos quatro romances do escritor. Ele vê Relato de um Certo Oriente como uma longa carta, em que a narradora é uma espécie de Sherazade amazonense, numa referência à tradição oral e aos contadores de histórias das Mil e Uma Noites. “É uma espécie de procura do tempo perdido na Amazônia”, analisa.

Dois Irmãos, o mais conhecido dos livros de Hatoum – adaptado para uma minissérie homônima da Rede Globo de Televisão, em janeiro de 2017 -, trata das relações ambivalentes entre os personagens Caim e Abel – ou Yaqub e Omar, na obra de Hatoum -, tendo como cenário a cidade de Manaus. Segundo von Brunn, o incesto é o motivo dominante do livro e a verdadeira vítima é um professor de francês, em alusão à morte da cultura europeia.

O professor Mamede Mustafa Jarouch, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, coordenará evento de lançamento do livro, que terá a presença do suíço Albert von Brunn e do escritor Milton Hatoum – Foto: Matheus Araújo / IEA

Cinzas do Norte, “romance mais político de Hatoum até agora”, como afirma von Brunn, pinta um retrato da geração da década de 1960, ameaçada e reprimida pelo regime militar. A obra foi vencedora do Prêmio Portugal Telecom de Literatura.

Por último, Órfãos do Eldorado – escrito a pedido da editora escocesa Canongate e adaptado para o cinema pelo diretor Guilherme Coelho – mostra o fim da belle époque amazônica. Nesse livro, percebem-se as marcas do poeta grego Konstantinos Kaváfis (1863-1933) e do escritor britânico Joseph Conrad (1857-1924). “Como nos poemas de Kaváfis, os amantes são marginalizados em uma sociedade que não tem espaço para eles”, escreve von Brunn. À semelhança do que ocorre no romance The Shadow Line, de Conrad, Hatoum confronta o leitor com uma série de heróis problemáticos, todos os quais falham na tentativa de construir uma vida no Brasil pós-guerra. “O que Milton Hatoum e Joseph Conrad têm em comum é a visão de um naufrágio como destino inevitável e o fato de que instrumentos de navegação (bússola, mapas, cartas náuticas) são incapazes de prevenir desastres.”

As fábulas entre o Amazonas e o Oriente

O escritor amazonense Milton Hatoum – Foto: Reprodução / Milton Hatoum – Entre Oriente e Amazônia

O prefácio do livro é assinado por Hatoum. Nele, o escritor faz reminiscências de infância. “A lembrança mais remota da presença do Oriente na minha infância vivida em Manaus remete-se a um espaço e a um corpo. O espaço chamava-se Pensão Fenícia, o corpo é o de um homem idoso, um libanês cujo nome revelava uma forte ressonância islâmica”, descreve. A pensão, perto do porto, abrigava imigrantes portugueses e orientais, “vozes que contavam histórias, anedotas, lendas e fábulas de dois mundos que eu desconhecia, mas imaginava: o Amazonas e o Oriente”. Como lembra Hatoum, “de certo modo, eu convivia com um Oriente real, revelado através de crenças e conflitos religiosos, da comida, do comportamento e hábitos sociais e da língua árabe”.

Além desse Oriente conhecido tão de perto por Hatoum, outra referência marcante nos seus escritos é a obra do escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986), que conheceu quando estudava Arquitetura na USP e fazia algumas disciplinas no Departamento de Letras. “O que mais me impressionou na obra de Borges, antes mesmo de me deslumbrar com o Oriente que ele comentava e inventava em seus ensaios e ficções, foi a linguagem, uma linguagem que combina imaginação e exatidão, ou exatidão na imaginação”, escreve.

O livro do pesquisador suíço Albert von Brunn – Foto: Reprodução

“O meu relato tenta recuperar e reinventar uma voz perdida num pequeno espaço chamado Fenícia, na longínqua Manaus. Mas essa voz é também plural: diálogo de vozes entre narradores do Ocidente e do Oriente que me ajudaram a inventar, ao longo de vários anos, uma história de um certo Oriente”, afirma Hatoum.

O lançamento do livro Milton Hatoum – Entre Oriente e Amazônia (Editora Humanitas, 110 páginas, R$ 30,00), de Albert von Brunn, acontece no dia 12 de junho, terça-feira, às 14 horas, na Sala Villa-Lobos da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP (Rua da Biblioteca, s/nº, Cidade Universitária, em São Paulo). O evento é gratuito e aberto ao público. Mais informações no site da Editora Humanitas


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