As cores de Lasar Segall estão em cartaz no centro de São Paulo

Em cartaz no Sesc 24 de Maio, exposição inclui obras pertencentes ao acervo da USP

 01/11/2018 - Publicado há 5 anos
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Vídeo instalado no espaço da exposição mostra detalhes das obras de Lasar Segall – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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A história de Lasar Segall, um dos pintores que se destacaram na arte brasileira do século 20, movimenta o centro da cidade de São Paulo. Em 80 pinturas e seis desenhos, além de fotografias e documentos, a crítica e curadora Maria Alice Milliet conta a história do artista e traz, de forma inusitada, os seus sonhos, lembranças e lutas, através das cores que caracterizam cada uma de suas fases.

Lasar Segall: Ensaio sobre a Cor está no Sesc 24 de Maio, em seu espaço generoso, onde há o entra-e-sai de gente de todas as idades. Todos os dias, 10 mil pessoas circulam pela unidade, interessadas em lazer, esporte, saúde e cultura. A mostra enriquece essa programação, despertando a ação essencial de educar para a arte.

Crianças de escolas da cidade aprendem a observar os detalhes das cores, formas e temas de cada obra de Segall através de um vídeo projetado em uma grande tela instalada no centro da exposição. Para incentivar os espectadores, foi projetada uma arquibancada onde especialmente as crianças podem ficar à vontade. A estratégia para orientar o olhar dos espectadores foi utilizar uma linguagem visual que está nas mídias em geral.

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O espaço da exposição está dividido em quatro núcleos e foi projetado pelo arquiteto Pedro Mendes da Rocha – Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

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“Essa ação educativa é muito importante. O vídeo tem uma função didática, os espectadores vão ver as imagens recortadas e poderão reconhecê-las ao observar as obras”, explica a curadora Maria Alice Milliet. “Fui convidada há dois anos por Jorge Schwartz, na época diretor do Museu Lasar Segall, para coordenar a exposição. Um projeto que continuou na atual gestão de Giancarlo Hannud.”

 

Está no lugar de encontro de povos refugiados e das mais diversas origens, como africanos, coreanos, paraguaios, bolivianos.”

 

Emigrantes III (1936) : “É de gente que essa pintura trata”, observa a curadora Maria Alice Milliet – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Maria Alice buscou priorizar a cor. “A conquista da liberdade cromática marca todas as fases da pintura de Segall, artista lituano naturalizado brasileiro. A cor é a sua fortuna crítica. Decidimos, então, agrupar as obras na exposição seguindo os diferentes esquemas cromáticos”, afirma.

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Maria Alice Milliet, curadora da exposição: liberdade cromática – Foto: Marcos Santos/ USP Imagens

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Para realizar a exposição, o Museu Lasar Segall buscou a parceria com o Sesc São Paulo. “A presença do artista na região central de São Paulo é significativa”, observa a curadora. “Está no lugar de encontro de povos refugiados e das mais diversas origens, como africanos, coreanos, paraguaios e bolivianos. Nesse contexto, a exposição mostra a atualidade da arte de Lasar Segall, um pintor que retratou o drama de populações desterradas.”

A exposição reúne peças de coleções particulares e de instituições como o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, do Museu de Arte Contemporânea (MAC), também da USP, da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu de Arte de São Paulo (Masp), do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, da Fundação Edson Queiroz, da Fundação José e Paulina Nemirovsky e de coleções particulares.

 

O Homem Amarelo acentua o aspecto da liberdade no uso da cor não naturalista.”

 

O Homem Amarelo, de Anita Malfatti, obra do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Lasar Segall: Ensaio sobre a Cor está dividida em quatro blocos: Angústia: a cor emoção, Sob o Signo dos Trópicos: a paleta nacional, Compaixão: a não cor e Introspecção: a “cor Segall”. O espaço foi desenhado pelo arquiteto Pedro Mendes da Rocha, que projetou também a última retrospectiva do pintor, há dez anos.

Logo na abertura, está o polêmico quadro O Homem Amarelo, de Anita Malfatti, que faz o contraponto com as obras de Segall no primeiro núcleo. A obra de 1915/16 é do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP. “O Homem Amarelo acentua o aspecto da liberdade no uso da cor não naturalista”, explica Maria Alice. “A exacerbação de sentimentos se manifesta no desenho anguloso das figuras e no uso de cores intensas e contrastantes.” Nesse núcleo, o espectador se depara com os flagelos migratórios que surgem na obra de Segall, entre 1910 e 1923. A produção expressionista do artista pode ser observada nas obras Duas Amigas (1917/18 ou 1913), Morte (1919) e Gestante (1919).

O segundo núcleo, Sob o Signo dos Trópicos: a paleta nacional, aborda o período entre 1924 e 1935. “É o mergulho nacional do artista no Modernismo brasileiro. Sob a luz tropical, sua pintura ganha uma nova intensidade, em que sobressaem os vermelhos, os ocres terrosos e o verde exuberante da vegetação.”

O destaque deste núcleo é a obra Bananal (1927), que remete ao continente africano. Para dialogar com essa fase de Segall, a curadora Maria Alice selecionou O Sapo, de 1928, de Tarsila do Amaral. A obra pertence ao acervo do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado.

 

Portinari está presente com a obra Retirantes, de 1936. Como Segall, ele retratou o drama dos que vagueiam buscando um lugar.”

 

O núcleo Compaixão: a não cor registra o drama da Segunda Guerra Mundial e o deslocamento das populações marginalizadas. Nas obras entre as décadas de 1930 e 1940, Lasar Segall pinta com as cores rebaixadas. As telas de tons ocres, acinzentados, pretos e verdes rebaixados traduzem o sofrimento e a desesperança. “É de gente que essa pintura trata, gente sem nome e sem lugar”, observa Maria Alice. Nesse núcleo, o público vê as pinturas Emigrantes III (1936), Pogrom (1937) e Guerra (1942).

“Nesse contexto, Portinari está presente com a obra Retirantes, de 1936. Como Segall, ele retratou o drama dos que vagueiam buscando um lugar”, explica a curadora. Embora os dois sejam comentados como rivais, têm muito em comum. A arte de ambos traz o humano e retrata a luta, a dor e a coragem.

No quarto núcleo, Introspecção: a “cor Segall”, estão as obras produzidas entre 1940 e 1957. Registram a sua casa entre as montanhas de Campos de Jordão. Um lugar que traz as lembranças de sua infância na Lituânia. Tons sutis remetem à delicadeza do tempo vivido em um presente muito introspectivo. “Há matas, animais, cabanas, um lugar mítico do folclore da Europa, construídos com uma paleta sofisticada. Nessas obras permanecem os tons baixos, azuis, verdes e amarelos, cores tão requintadas quanto a pátina que recobre os troncos úmidos das árvores no interior da mata”, comenta a curadora.

No período que antecede a sua morte, em 2 de agosto de 1957, o artista passa a registrar o cotidiano das favelas, na tentativa de mostrar a dura realidade social. Maria Alice Milliet escolhe uma obra de Milton Dacosta, Composição (1955), de uma coleção particular, para dialogar com as obras de Segall.

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A exposição Lasar Segall: Ensaio sobre a Cor fica em cartaz até 5 de março de 2019, de terça-feira a sábado, das 9 às 21 horas, no Sesc 24 de Maio (Rua 24 de Maio, 109, Centro, São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3350-6300.


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