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Instituto Marielle Franco e Kunhã Nimbopuruá são agraciados com o Prêmio USP de Direitos Humanos José Gregori
Edição 2024 é a 20º outorga da premiação, que reconhece pessoas e instituições que se destacam pelo trabalho na área de direitos humanos
A Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP realizou, no dia 6 de dezembro, a entrega do Prêmio USP de Direitos Humanos José Gregori de 2024.
A cerimônia foi realizada na Sala do Conselho Universitário e homenageou o Instituto Marielle Franco, na categoria institucional, e Catarina Delfino dos Santos (Kunhã Nimbopuruá, no nome indígena), na categoria individual.
Criado em 1999 e entregue pela primeira vez em 2000, o Prêmio USP de Direitos Humanos é concedido com a intenção de identificar e reconhecer pessoas e instituições que tenham contribuído significativamente para a difusão, disseminação e divulgação dos direitos humanos no Brasil. Entre os agraciados nas 19 edições anteriores do prêmio estão nomes como Zilda Arns Neumann, Drauzio Varella, Dorina Nowill, Abdias do Nascimento e padre Julio Lancellotti, além de instituições como Universidade Zumbi dos Palmares, Fundação Gol de Letra e Viva Rio. Morto em setembro de 2023, José Gregori recebeu a láurea postumamente em dezembro do mesmo ano e, em 2024, passou a dar nome à premiação como reconhecimento por seu histórico de trabalho em prol da democracia e da ampliação dos direitos humanos no País.
“Há muitos anos acompanho a entrega deste prêmio, e sempre entendi essas solenidades como momentos muito estruturantes dos compromissos da USP com a sociedade. Este ano posso dizer que a cerimônia traz para mim um sentido muito especial e significativo, que é o esforço feito cotidianamente na nossa Pró-Reitoria para reconhecer as potências das nossas tradições, das lutas e das características que configuram a nossa universidade e, com isso, sermos capazes de sinalizar o futuro. Este é um desafio imenso, mas que nos constitui como universidade. Estarmos aqui hoje premiando essas pessoas, com a participação das autoridades máximas da Universidade, que são o reitor e a vice-reitora, e ouvindo a nossa Comissão de Direitos Humanos é quase um presente num mundo tão violento e agressivo como o que temos vivido atualmente e em especial nas últimas semanas. A Universidade cumpre hoje um papel primordial na vida e no mundo social, apontando caminhos, perspectivas e a centralidade da vida democrática e dos direitos humanos”, afirmou a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lucia Duarte Lanna.
Para o reitor, Carlos Gilberto Carlotti Junior, as duas homenagens do dia apontam para uma convergência: “Temos hoje duas causas sendo reconhecidas pela Universidade. Duas causas voltadas para a promoção de mudanças na sociedade, que melhoram a vida no planeta, o que é uma situação semelhante à da própria USP, que se empenha também em ser um vetor de mudanças na sociedade”.
Carlotti ressaltou as características dos premiados que os tornam tão representativos em relação às questões sociais mais atuais: “Muito se fala em preservação de meio ambiente e mudanças climáticas, mas ninguém pode nos ensinar mais a respeito disso do que os povos originários, que estão aqui há séculos, acumulando conhecimento e preservando o ambiente, a água, a flora e a fauna. É preciso resgatar esse conhecimento e, com ele, aprender sobre a natureza e o meio ambiente. Por isso, parabenizo nossa premiada Catarina por sua luta e por sua defesa pela recuperação dessa condição do povo indígena, e agradeço pelos ensinamentos sobre como podemos retornar às melhores condições ambientais que já tivemos neste país. Em relação à Marielle, para além das mais do que necessárias investigações e punições pelo crime por ela sofrido, houve uma mudança muito grande na sociedade brasileira em apoio às causas que ela defendeu. Trata-se de um reconhecimento de que aqueles valores pelos quais ela lutava devem ser recuperados e valorizados pela sociedade, e o instituto tem cumprido a missão de manter viva a defesa da luta que a Marielle teve em vida”.
Também participaram da cerimônia a vice-reitora, Maria Arminda do Nascimento Arruda; o presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP, Gustavo Ungaro; e o diretor de Direitos Humanos e Políticas de Reparação, Memória e Justiça da PRIP, Renato Cymbalista, além das filhas de José Gregori e outras autoridades acadêmicas e representantes da comunidade.
Homenageados de 2024
O Instituto Marielle Franco foi criado por sua família para promover ações de justiça e memória especialmente voltadas às mulheres negras, às pessoas LGBTQIA+ e à população periférica, propondo debates e ações sobre mudanças nas estruturas sociais que possam resultar em um mundo mais justo e igualitário.
Para o representante do instituto e pai de Marielle, Antonio Francisco da Silva Neto, uma premiação vinda da USP tem um simbolismo especial: “Todas as homenagens que recebemos em nome de Marielle e do instituto são reconhecimentos das instituições e da sociedade civil pela sua atuação em defesa dos direitos humanos, e aqui na USP não é diferente. Aqui se estuda, se respira e se pratica a verdadeira democracia. Dentro das salas de aula e pelos bancos externos, todos aqui sabem que o futuro pertence aos que se preparam hoje”, afirmou.
Catarina Delfina dos Santos, que nasceu em 1950, na Terra Indígena Bananal, da etnia Tupi Guarani, no litoral de São Paulo, esteve presente durante a década de 1970 na composição da Organização das Nações Indígenas (ONI), ao lado de Ailton Krenak e de outras lideranças indígenas reconhecidas atualmente. Formada em Pedagogia, esteve à frente da educação escolar indígena do Estado de São Paulo durante as décadas de 1990 e 2000 e é reconhecida como liderança indígena pela atuação em várias frentes, como a luta pelo território, saúde, cultura e educação.
Ao receber o prêmio, Catarina agradeceu a oportunidade e lembrou a importância do seu trabalho com as novas gerações de indígenas: “As terras indígenas que habitamos são muito cobiçadas por empreendedores, o que nos causa muita insegurança, por isso entendo que nós, anciãos, temos um trabalho importante a fazer com os mais jovens para a preservação do nosso espaço e do nosso povo. Temos tido muito contato com indígenas que moram nas periferias e já não trazem mais a tradição e a língua originária, meninos e meninas que têm até vergonha de participar de apresentações, por exemplo. Então vamos fazendo um trabalho para que comecem a se interessar e, assim, fortalecer nossa cultura, nossa fala e nossas tradições de antes”.
O evento integra a programação especial da PRIP realizada na semana que antecede o Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado no dia 10 de dezembro, e que inclui a reinauguração do Memorial às Vítimas da Ditadura, localizado na Praça do Relógio da Cidade Universitária, com a recuperação física do monumento e inclusão de novos nomes.
A gravação da cerimônia de entrega do Prêmio USP de Direitos Humanos José Gregori de 2024 pode ser assistida a seguir.
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