“Existem dois tipos de variação no DNA. A genética, que é herdada e se mantém ao longo da vida do indivíduo, e a epigenética, que são marcadores depositados no DNA – por exemplo, a partir da exposição a fatores ambientais. O foco do nosso estudo é a metilação – adição de grupamentos metil em determinados pontos do DNA”, explica o pesquisador. A hipermetilação pode reprimir a atividade de determinados genes, enquanto um DNA hipometilado pode gerar instabilidade genômica e causar problemas no nível celular.
Segundo o pesquisador, o TDAH possui um alto componente genético – cerca de 80% da variabilidade populacional na desatenção e hiperatividade é atribuída a fatores genéticos. No entanto, fatores ambientais associados ao transtorno, como o uso de nicotina durante a gestação, podem ter implicações no desenvolvimento cerebral via modulação epigenética. “A epigenômica pode ser a ligação entre o ambiente e o nosso genoma, mas alguns estudos mostram que ela pode também fazer parte de um fenômeno que chamamos de herdabilidade perdida. Ou seja, aspectos genéticos que ainda não descobrimos e que podem estar envolvidos com o transtorno.”
Entre 2021 e 2023, com o financiamento da BBRF, a equipe poderá analisar 180 amostras de pacientes com TDAH e 180 controles, usando um biochip que avalia mais de 880 mil sítios de metilação espalhados pelo genoma. A partir de uma leitura de fluorescência, é possível saber se em determinado sítio há a hipo ou hipermetilação. Feitas as análises das amostras, os dados serão processados e passarão por análises de bioinformática e bioestatística. “Esperamos encontrar alguns sítios diferencialmente metilados que nos permitam identificar potenciais mecanismos biológicos envolvidos com TDAH. Isso abriria novas possibilidades de pesquisa, como estudos em modelos animais ou cultura celular para validar esses mecanismos.”
Embora o projeto use dados de 180 pacientes, menos da metade da amostra original, Rovaris destaca que o último estudo publicado com varredura do epigenoma de adultos com TDAH contou com apenas 100 amostras de pacientes. “O que chama atenção é que temos uma amostra ampla, com 600 pacientes, e muito bem caracterizada. Estamos buscando financiamento para conseguir analisar a amostra completa, já que esse tipo de estudo exige equipamentos com alto custo de manutenção”, acrescenta. Outro diferencial é que o DNA de cada paciente foi colhido três vezes ao longo de 13 anos de seguimento, tornando possível examinar também a permanência ou não das marcas encontradas.
Além da colaboração do grupo PRODAH da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um dos mais importantes no cenário internacional que estuda TDAH, Rovaris firmou uma parceria com o Hospital das Clínicas da USP para realizar coletas de amostras de pacientes em São Paulo, que estão previstas para o início de 2021. O cientista destaca a importância da multidisciplinaridade de sua equipe e colaboradores, que conta com biomédicos, farmacêuticos, biólogos, psiquiatras, psicólogos, neurologistas e cientistas da computação.
Da Acadêmica Agência de Comunicação
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