ESPECIAL USP PIRASSUNUNGA

USP em Pirassununga: onde a terra, os animais e as plantas geram conhecimento e alimentos de melhor qualidade

Dos estudos básicos às tecnologias de ponta, as pesquisas da FZEA vão do melhoramento animal ao alimento saudável

USP em Pirassununga: onde a terra, os animais e as plantas geram conhecimento e alimentos de melhor qualidade

Se você gosta de comer carne, certamente terá saboreado, em algum momento da vida, um pedaço proveniente de um animal melhorado geneticamente em um dos laboratórios da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) e da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, em Pirassununga.

Depois de passar por um portal em estilo colonial, uma estrada de bom asfalto e margeada por áreas verdes e de pastagens, em ambos os lados, é o caminho que leva ao prédio central da administração da FZEA. No trajeto é possível ver animais pastando tranquilamente: bois, búfalos, cabras, ovelhas, entre outros. E a vista se perde em busca de um ponto final!

A construção do prédio principal é da década de 1940, quando as instalações pertenciam à Escola Prática de Agricultura (EPA) Fernando Costa. Imponente, o edifício abriga a diretoria da unidade, órgãos centrais e alojamentos para alunos e visitantes, além do restaurante universitário. Na frente da entrada principal, um lago onde se pode ver carpas coloridas. E toda a estrutura é cercada por jardins bem cuidados, onde se pode ver e ouvir, durante todo o dia, pássaros das mais diversas espécies.

Em 1989, toda a área passou a integrar o Campus da USP de Pirassununga. Mas somente em 3 de julho de 1992 é que foi criada a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, pela Resolução USP nº 3.946. Em 2015, o campus foi renomeado como “Campus USP Fernando Costa”, de acordo com aprovação do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo.

Em agosto de 2018, uma equipe de profissionais do Jornal da USP permaneceu no campus de Pirassununga por três dias, coletando imagens e informações para a realização desta reportagem especial sobre o maior campus da Universidade de São Paulo.

Reportagem: Antonio Carlos Quinto
Arte: Larissa Fernandes
Fotografia: Cecília Bastos
Vídeos: 
Alan Petrillo, Dener Yukio, Graziella Zanfra, Letícia Sillmann, Tabita Said, Thales Figueiredo

Se você gosta de comer carne, certamente terá saboreado, em algum momento da vida, um pedaço proveniente de um animal melhorado geneticamente em um dos laboratórios da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga.

Depois de passar por um portal em estilo colonial, uma estrada de bom asfalto e margeada por áreas verdes e de pastagens, em ambos os lados, é o caminho que leva ao prédio central da administração da FZEA. No trajeto é possível ver animais pastando tranquilamente: bois, búfalos, cabras, ovelhas, entre outros. E a vista se perde em busca de um ponto final!

A construção do prédio principal é da década de 1940, quando as instalações pertenciam à Escola Prática de Agricultura (EPA) Fernando Costa. Imponente, o edifício abriga a diretoria da unidade, órgãos centrais e alojamentos para alunos e visitantes, além do restaurante universitário. Na frente da entrada principal, um lago onde se pode ver carpas coloridas. E toda a estrutura é cercada por jardins bem cuidados, onde se pode ver e ouvir, durante todo o dia, pássaros das mais diversas espécies.

Em 1989, toda a área passou a integrar o Campus da USP de Pirassununga. Mas somente em 3 de julho de 1992 é que foi criada a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, pela Resolução USP nº 3.946. Em 2015, o campus foi renomeado como “Campus USP Fernando Costa”, de acordo com aprovação do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo.

Em agosto de 2018, uma equipe de profissionais do Jornal da USP permaneceu no campus de Pirassununga por três dias, coletando imagens e informações para a realização desta reportagem especial sobre o maior campus da Universidade de São Paulo.

Reportagem: Antonio Carlos Quinto
Arte: Larissa Fernandes e Thais H. dos Santos
Fotografia: Cecília Bastos
Vídeos: Alan Petrillo, Dener Yukio, Graziella Zanfra, Letícia Sillmann, Tabita Said, Thales Figueiredo

Milhões de metros quadrados dedicados à pesquisa

Total de pastos e áreas de cultivo

0

hectares (ha)

ou

0

milhões de metros quadrados (m2)

100 hectares de
pastagens tropicais

300 hectares de
culturas anuais

O que tem no campus

Duas unidades de ensino e uma de administração

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – FZEA

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – FMVZ

Prefeitura do Campus USP Fernando Costa – PUSP-FC

Rebanhos, produção animal e instalações

Bovinos (corte e leite)

Suínos

Equinos

Caprinos

Ovinos

Búfalos

Coelhos

Aves

Peixes

Instalações zootécnicas

Curral para o gado

Ordenha mecânica

Construções da década de 1940 que permanecem até hoje

Foto: Acervo Digital FZEA-USP

Referência: TELES, T.C. & IOKOI, Z.M.G. Campus de Pirassununga da USP – Memória e história. Edusp, 2005.) | Arte: Thais H. Santos

Os departamentos e cursos

No campus, estão cinco departamentos da FZEA: Ciências Básicas (ZAB), criado em 1992, Zootecnia (ZAZ), criado no mesmo ano; Engenharia de Alimentos (ZEA), implantado em 2003; Engenharia de Biossistemas (ZEB), criado em 2012; e Medicina Veterinária (ZMV), do mesmo ano. Nestes departamentos são ministrados quatro cursos: Medicina Veterinária; Zootecnia; Engenharia de Alimentos e Engenharia de Biossistemas.

A atual diretora da FZEA é a professora Elisabete Maria Macedo Viegas. No cargo há 1 no e 2 meses, Elisabete foi vice-diretora na gestão anterior, do professor Paulo Sobral, por um período de quatro anos. Seu mandato se encerra em agosto de 2021. Sua experiência como vice-diretora facilita em sua atuação, que é gerenciar todo o funcionamento burocrático de cerca de 120 funcionários e 110 docentes. “A diretoria é responsável pelos quatro cursos aqui da FZEA: ensino, pesquisa e extensão, graduação e pós-graduação”, descreve. Além disso, diretoria também atua nas questões administrativas, tanto em relação a funcionários como docentes. A FZEA conta atualmente com 118 docentes e um total de 126 funcionários técnicos administrativos. O atual vice-diretor é o professo Carlos Eduardo Ambrósio.

A FZEA tem uma íntima ligação com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) que é sediada no campus do Butantã, em São Paulo. A FMVZ possui cinco departamentos no campus da Capital  – Cirurgia (VCI), Clínica Médica (VCM), Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS), Patologia (VPT), Reprodução Animal (VRA), e um em Pirassununga, que é o Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP).

O atual diretor da Faculdade, professor José Antonio Visintin, conta que além do departamento sediado em Pirassununga, a FMVZ tem cinco filiais no campus: Departamento de Reprodução Animal; Departamento de Clínica Médica, Departamento de Cirurgia, Departamento de Prevenção e sanidade animal e Departamento de Patologia. “A partir de 2019, os alunos do quinto semestre da FMVZ deverão morar e estudar em Pirassununga, para desenvolverem tanto a parte teórica quanto a prática do curso”, explica o docente. Segundo ele, até o momento, eram os estudantes do quarto semestre que passavam uma temporada no campus da FZEA.

Visintin leciona regularmente no campus em Pirassununga. “Minha especialidade é a inseminação artificial e, a cada 15 dias, em média, dou aulas na FMVZ, em Pirassununga”, conta ele, que atualmente acumula os caros de diretor da FMVZ e de Superintendente de Segurança da USP

Diversidade científica
e tecnológica

Diversidade científica
e tecnológica

Se um visitante qualquer, que nunca esteve no campus e não tenha qualquer vínculo com a USP, fizer um passeio por lá pensará estar numa grande fazenda. E ele não fará ideia de que todas estas áreas devem ser usadas apenas na conservação, restauração, pesquisa, extensão e ensino! Os galpões e casas espalhados pelo campus abrigam laboratórios dos mais diversos, onde pesquisadores estudam ou desenvolvem tecnologias destinadas ao bem estar animal e à produção de alimentos em geral.

Dos estudos mais básicos às tecnologias de ponta, as pesquisas da FZEA vão desde o melhoramento animal como um todo, incluindo aspectos como conforto e bem estar e técnicas de melhoramento genético, até os mais novos conceitos de internet das coisas. Isso sem falar nas tecnologias que tornam alimentos mais saudáveis ou os inovam em todos os aspectos, até mesmo na embalagem!

Esta estrutura departamental possibilita a variedade de pesquisas desenvolvida nas unidades onde os cientistas estudam e aplicam tecnologias como o desenvolvimento de um Sistema Wireless que é capaz de medir o bem estar de frangos no exato momento do abate, por meio do Eletroencefalograma (EEG). O objetivo é atender as exigências da União Europeia (UE) e proporcionar menor sofrimento ao animal. Ou um Sorvete sem Lactose, à base de água, com sabor “juçara” e baixo valor calórico! O produto, denominado sorbet (como são conhecidos os sorvetes à base de água), foi desenvolvido na FZEA e possui formulações probióticas e prebióticas. Até mesmo uma Membrana para tratamento de queimaduras já foi objeto de pesquisa na FZEA. Os cientistas utilizaram gelatina, quitosana, aloe vera e um muco excretado por caracóis para produzir um novo tipo de membrana para ser colocada na pele queimada, promovendo sua regeneração e a estimulação de células.

Mas há também um Projeto que busca aprimorar o processo reprodutivo em bovinos, que teve como principal objetivo descobrir as funções das vesículas extracelulares para minimizar efeitos negativos futuros da produção in vitro de embriões bovinos, como predisposição a problemas cardíacos, reprodutivos ou desenvolvimento de tumores na vida adulta. Foi na FZEA, no ano de 2004, que nasceu Independência, uma bezerra que foi fruto da manipulação de genes de uma vaca Nelore de alto padrão. Ela veio ao mundo no dia 9 de setembro daquele ano, dia do veterinário. O feito fez da USP de Pirassununga a quarta instituição brasileira a produzir clones bovinos.

A FZEA e a “revolução” da pecuária brasileira

“Se você gosta de comer carne, certamente terá saboreado, em algum momento da vida, um pedaço proveniente de um animal melhorado geneticamente em nossos laboratórios”, garante o professor Flávio Vieira Meirelles, responsável pelo Laboratório de Morfofisiologia Molecular e Desenvolvimento (LMMD), do Departamento de Medicina Veterinária (ZMV), lembrando as palavras do professor José Bento Sterman Ferraz, do Laboratório de Melhoramento Animal e Biotecnologia (GMAB), também do ZMV, que tem como diretor o professor Luciano Andrade Silva.

Os dois laboratórios tiveram e têm importância decisiva no desenvolvimento da pecuária nacional, tanto leiteira quanto de corte. “O GMAB reúne dados de produtores e das centrais de produção e é responsável por quase toda a melhoria genética do rebanho zebuíno nacional, com reconhecimento no Brasil e no exterior”, afirma Andrade Silva.

Já o LMMA atua na biologia do desenvolvimento de pesquisas básicas com gametas e embriões, usando terapias inovadoras com foco em células tronco. “É um laboratório que atua na área de reprodução visando aumentar a fertilidade dos rebanhos, ou seja, como melhorar e preservar raças identificando animais geneticamente superiores”, descreve o diretor, ressaltando que o Brasil é líder mundial na fertilização in vitro e exporta tecnologias do setor para diversos países. De acordo com o chefe do ZMV, muitas estratégias ali desenvolvidas poderão, no futuro, ser transferidas para humanos. Segundo Andrade Silva, os estudos foram responsáveis por uma “revolução na pecuária nacional”.

Desde o início do GMB, cujo pioneiro foi o professor José Bento Sterman Ferraz, a ideia era desenvolver um projeto onde poderiam selecionar animais de alta qualidade. “Na época se usava tecnologia computacional e transformavam esses dados da genética dos animais em informações aos produtores: os melhores touros e as melhores vacas”, conta.

Atualmente, os cientistas utilizam dados de genética molecular,  sequencia do DNA e variações de mutações pontuais que são estimadas por técnicas laboratoriais. “O grupo tem hoje dados de milhares de animais com sequenciamento completo do genoma ou centenas de milhares de marcadores genéticos em cada um dos animais reprodutivos”, estima o diretor do ZMV.

Parcerias

Nos laboratórios da FZEA, boa parte dos projetos de melhoramento animal já é feito em parceria com grandes produtores. “Parte da produção de embriões vem desta parceria com os produtores rurais e com empresas de melhoramento genético”, informa Andrade Silva, ressaltando que a “universidade é responsável pela transferência de tecnologia”. As parcerias com as empresas que fazem seleção de reprodutores permitem que se criem catálogos para o produtor saber qual a melhor característica que ele necessite: ganho de peso depois da desmama ou peso ideal para o abate.

De acordo com o professor, o Brasil é responsável por cerca de 60% de todos os embriões produzidos in vitro no mundo. “E uma boa parte desta tecnologia foi trabalhada aqui na FZEA”, comemora. As pesquisas na FZEA também envolvem o gado leiteiro, mas a maior concentração está mesmo nos animais de corte da raça Nelore.

Hospital Veterinário

O campus da FZEA abriga também a Unidade Didática Clínico Hospitalar de Medicina Veterinária (UDCH) – Hospital Veterinário da FZEA. A unidade tem a finalidade de apoiar o ensino, a pesquisa e a extensão do curso de graduação em Medicina Veterinária e do Programa de Pós-Graduação em Biociência Animal, e presta atendimento veterinário a animais enfermos.

Em funcionamento desde 2013, o Hospital Veterinário conta com ambulatórios, centros cirúrgicos, setores de diagnóstico laboratorial e por imagens, alocados em aproximadamente 3 mil m2 de área construída. No primeiro semestre de 2018, foram realizados mais de 1.200 atendimentos clínico-cirúrgicos de cães, gatos, equinos, bovinos e pequenos ruminantes.

O Hospital é aberto ao público e os atendimentos clínicos e cirúrgicos de pequenos e grandes animais são realizados por médicos veterinários, residentes, alunos de pós-graduação e professores. 

Trator trabalhando o feno no campus Pirassununga

Cirurgia no Hospital Veterinário

Gado de leite no campus de Pirassununga

Produção de leite

Animais muito bem alimentados

Para que o produto final seja saudável e de boa qualidade, os pesquisadores da FZEA estudam de forma constante formulações de rações que resultem em carnes, leites e derivados de melhor qualidade. E tudo é testado por lá mesmo. “Aqui na FZEA estudamos, por exemplo, a produção de alimentos funcionais com suplementação de selênio e vitamina E, por exemplo”, conta o professor Saulo da Luz e Silva, do Departamento de Zootecnia (ZAZ). “Aqui temos nossa própria fábrica de rações e realizamos diversos experimentos visando uma suplementação que torne a carne e o leite bovinos, por exemplo, mais saudáveis. Assim como com os bovinos, os experimentos envolvem suínos, caprinos, ovinos e aves”, descreve.

E por falar em aves e suínos, o professor destaca os experimentos no sentido de diminuir o uso de antibióticos nas rações desses animais. “Os antibióticos são usados na alimentação animal para promover o crescimento e na prevenção de doenças”, descreve Silva, salientando que a suplementação alternativa à base de selênio e vitamina E vem sendo testada para reduzir o uso dos antibióticos. “Aliás, essa redução atende exigências do mercado brasileiro e também do exterior”, lembra o docente. Além deste estudo específico, Silva ressalta que outros testes vêm sendo realizados com o objetivo de substituir componentes sintéticos por produtos naturais, como extratos à base de cravo, canela, orégano e alho, entre outros.

Além da boa alimentação dos animais, outra preocupação dos cientistas que atuam no ZAZ é o bem estar. “Se o animal estiver plenamente confortável, isso terá influência direta na boa qualidade do produto final e no aumento de vida de prateleira desses derivados”, explica o professor.

Nos laboratórios do ZAZ também são estudados procedimentos para o abate de animais que atendam as exigências do mercado nacional e internacional. “A exceção é feita a mercados específicos, de acordo com algumas exigências religiosas”, lembra o professor Lucio Francelino Araújo, também do ZAZ. A recomendação dos principais mercados é que todo animal seja insensibilizado antes do abate. “No caso dos peixes, por exemplo, estudamos a insensibilização elétrica em tilápias, o que melhora a qualidade da carne”, informa Araújo.

Nutrição em avícola

Cavalos no campus de Pirassununga

Professor Lúcio Araujo, do Departamento de Zootecnia, estuda modificações genéticas para adaptar espécies de aves a regiões de climas quentes

Produção de suínos em Pirassununga

Na busca pelo melhor alimento

É no Departamento de Engenharia de Alimentos (ZEA) que as pesquisas caminham no sentido de proporcionar ao homem o “melhor alimento”. Não somente na qualidade, bem como nas alternativas que surgem com alimentos tradicionais e alternativos, novas formulações, etc. Até mesmo as embalagens dos produtos finais são motivos de estudos no ZEA, com o desenvolvimento de embalagens comestíveis e biodegradáveis.

“Aqui nos preocupamos com toda a cadeia de produção do alimento”, garante a professora Christianne Elisabete da Costa Rodrigues. Além disso, no ZEA, pesquisadores também atuam no desenvolvimento de alimentos enriquecidos. Para isso, estudam como obter novos compostos de ação biológica e os respectivos processos de extração desses componentes. “Atuamos também com a microencapsulação de componentes como antioxidantes, probióticos e prebióticos para o enriquecimentos de produtos cárneos, por exemplo”.

Os cientistas do ZEA também estão preocupados com os resíduos agroindustriais. “Avaliamos o potencial de alguns resíduos que resultam de diversos processamentos. Um exemplo disso é a borra de café e as cascas das amêndoas de cacau. Ambos são ricos em antioxidantes e podem ser processados e reaproveitados na produção de fármacos e alimentos”, descreve a professora.

Há também as pesquisas que visam a produção de embutidos mais saudáveis, com a redução de sal e gordura, como informa o diretor do ZEA, professor Marco Antonio Trindade, atual chefe do departamento. “Podemos também melhorar o produto final, substituindo os antioxidantes tradicionalmente usados por extratos vegetais, como o orégano, por exemplo”, descreve. E porque não embalagens comestíveis? Isso já tem sido objeto de estudos há tempos no ZEA, segundo Trindade. Ele também conta que o departamento possui um laboratório de análises sensoriais, onde as inovações com os novos produtos são testadas e aprovadas.

Borra de café examinada no Laboratório de Produtos Naturais do Departamento
de Engenharia de Alimentos 

Fachada do departamento de Engenharia de Alimentos

Laboratório de Produtos Naturais do Departamento de Engenharia de Alimentos 

Laboratório de Processamento de Pães e Massas, do Departamento de Engenharia de Alimentos, no campus de Pirassununga

Laboratório de Processamento de Pães e Massas, do Departamento de Engenharia de Alimentos,
no campus de Pirassununga

Cabras estressadas também são objeto
de estudos

Assim como os seres humanos, os animais também se estressam a ponto de terem prejudicadas algumas de suas funções vitais, como a reprodução por exemplo. “De um modo geral pensamos no estresse como algo negativo. Mas nem sempre é assim”, ressalta o professor João Alberto Negrão, do Laboratório de Fisiologia Animal, do Departamento de Ciências Básicas. Segundo o pesquisador, quando ocorre o estresse é porque estamos nos adaptando e evoluindo. “E isso também acontece com os animais. Contudo, quando o estresse dura um tempo maior nós o consideramos estresse crônico”, descreve.

Em nosso laboratório, estudamos a influência do estresse crônico no desenvolvimento dos fetos e na lactação, principalmente em ruminantes. Nesse sentido, um estudo orientado por Alberto Negrão vem analisando o comportamento de cabras gestantes expostas a estresse crônico.

A pesquisa desenvolvida por Priscila dos Santos Silva avaliou os índices de cortisol na placenta das cabritas em processo de gestação. “O cortisol é um indicador de bem estar. Quando o nível está baixo, é sinal de que o animal está tranquilo”, explica a pesquisadora.

Priscila acompanhou cabras gestantes, da raça Saanen, que tiveram estresse crônico provocado pelo calor, que causou modificações placentárias nas fêmeas e interferiu no desenvolvimento fetal e desempenho dos cabritinhos. “Analisamos o terço final da gestação”, conta a pesquisadora. Também foram avaliados o comportamento materno-filial, as respostas termorregulatórias e peso dos cabritos do nascimento até os 60 dias de vida.

Priscila avaliou 47 cabras. Destas, 24 foram submetidas ao estresse por calor numa câmara climática. Outras 23 permaneceram em ambiente com temperatura normal (grupo controle). Dentre as principais conclusões, a pesquisa permitiu constatar que o estresse crônico provocado por calor, no terço final de gestação de cabras, estimulou maior atividade de cuidados das fêmeas para com os cabritos recém-nascidos. “Detectamos um impacto negativo na eficiência placentária e menor ganho de peso dos filhotes nos primeiros 15 dias de vida. Mas isso não interferiu no desempenho ao desmame”, descreve Priscila.

Na placenta das cabras, o estresse diminuiu a capacidade do órgão em converter o cortisol e cortisona. “Com essa capacidade reduzida, mais cortisol foi transmitido para os fetos, o que chega a ser prejudicial ao desenvolvimento do sistema nervoso central dos animais”, constata a pesquisadora. Ou seja, esta capacidade reduzida pode causar alterações neurológicas, menor peso ao nascer, etc.

Mas e as cabras criadas nas regiões quentes e áridas do nordeste brasileiro? Segundo Priscila, nestas condições os animais acabam se adaptando. “Mesmo assim, os resultados de um estudo como esse podem recomendar que o produtor construa instalações que proporcionem maior conforto ao animal, reduzindo o estresse e a maior produção de cortisol. Certamente, terão cabritos mais saudáveis, uma produção de leite e carne com melhor qualidade e esses efeitos serão prolongados na fase adulta”, garante Alberto Negrão, lembrando que este é um estudo inédito realizado na FZEA.

As tecnologias
de última geração
chegam ao campo

Conceitos de “internet das coisas” já estão sendo aplicados em diversos estudos e experimentos na FZEA. No Departamento de Ciências Básicas (ZAB) já existem projetos para o monitoramento remoto de qualidade de águas, em reservatórios, e de controle de estresse em animais. No Laboratório de Física Aplicada e Computacional (Lafac), o professor Ernane Xavier vem desenvolvendo e orientando estudos nesse sentido. “Podemos, por exemplo, operar um sistema de produção num ‘chão de fábrica’ de alimentos de forma remota”, conta. E esta experiência, segundo ele, já está sendo implantada na prática, em fase de testes, numa empresa de produtos alimentícios.

“Podemos controlar remotamente as quantidades dos ingredientes que compõem a receita de um molho, por exemplo. No processo, totalmente automatizado, os cientistas instalam sensores nos compartimentos que reúnem os ingredientes, cujas quantidades estão previamente modeladas”, explica o docente, que também é chefe do ZAB.

Todo esse sistema possui uma comunicação via internet que permite aferir, em tempo real, qualquer alteração no sistema. Xavier exemplifica: “se um dos compostos estiver fora da dosagem, receberei em meu telefone celular uma mensagem de WhatsApp, o que permitirá a comunicação imediata com a linha de produção para que sejam feitas as devidas correções”, garante.

Porcos inteligentes

O mesmo conceito será testado, em breve, com animais. Mais especificamente os porcos. “Pergunte e eles respondem!”, afirma o pesquisador. Com os estudos atuais, Xavier e o professor Adroaldo José Zanella, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), do campus da Capital (Butantã) vislumbram uma “comunicação” entre o animal e o homem que permita maior controle das necessidades dos bichos.

O professor Zanella vem realizando estudos em Pirassununga sobre o comportamento de leitões. Com base em suas pesquisas e na cooperação com Xavier e outros cientistas da Escola Politécnica (Poli), a ideia é desenvolver sistemas que permitam uma “comunicação” com os porcos. “Eles irão nos informar sobre suas condições”, descreve Zanella.

Esta possibilidade está se tornando realidade graças à “internet das coisas”. “Imagine que um leitão possa ‘avisar’ sobre a temperatura de seu corpo, se a ração está boa ou ruim, sobre a qualidade e quantidade da água, dentre outras informações”, sugere Zanella. Os conhecimentos e os experimentos dos dois cientistas que estão unidos nesta empreitada  possibilitam vislumbrar esse futuro, que já nem é tão distante como pode parecer.

Adroaldo Zanella é um estudioso do comportamento de leitões e é docente na área de bem estar animal. Ele garante que muitas das pesquisas realizadas com suínos podem servir de modelo para aplicações em humanos. Em experimentos recentes, ele tem estudado fêmeas em períodos de gestação. Constatou-se, entre outras coisas, que a administração de fibras às fêmeas gestantes muda as características comportamentais dos filhotes. “Eles ficam menos agressivos”, afirma o docente.

Outra observação do pesquisador é que o campus de Pirassununga possui o maior sistema de celas individuais para fêmeas do Brasil. “As fêmeas suínas são altamente sociais e partem procurando alimentos em cerca de 60% do tempo. Mas o que acontece fora desse tempo é a base para estudos do enriquecimento ambiental”, salienta Zanella. E como parte desses estudos, os cientistas irão estudar os animais num ambiente fora das celas individuais. “Os suínos não comem onde defecam. Daí será dedicada uma área onde eles possam defecar e outra exclusiva para alimentação”, descreve. E nestas áreas, mais amplas e onde os animais poderão fazer suas escolhas, haverá comedouros automáticos que irão identificar cada porco. “Nos comedouros serão instalados ‘transponders’ que abrirão as portas de forma automática”. Além disso, a área de criação terá painéis que serão controlados pelos animais, alterando a temperatura a que estará exposto, ventilação, etc. “A ideia é trazer o suíno como fornecedor de informações sobre seu comportamento social, preferência de espaço e parceiros. Até mesmo sua expressão facial será identificada”, afirma o cientista. Segundo Zanella, cada animal terá instalado em seu corpo “sensores que contarão suas histórias”. Quando ele entrar no alimentador ou ter acesso a um bebedouro será tirada uma foto que será confrontada a um repositório de imagens que mostrará a expressão facial do animal em diversos estados: estado emocional positivo ou negativo, o que permitirá a melhor tomada de decisões.

A unidade, que está sendo chamada de suinocultura do ano 2050, será integrada com sensores ligados a propostas de internet das coisas, “que fornecerá todas as informações e as disponibilizará em tempo real à comunidade acadêmica e à sociedade civil.” 

A tecnologia virtual também vem sendo aplicada até no controle de qualidade da água. “É tudo remoto!”, como bem define o professor Xavier. Ele informa que está em curso um projeto que é resultado de uma parceria da FZEA com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), do Governo Federal. “Num dos lagos aqui da FZEA temos instalado um sistema remoto alimentado por energia solar, que pode monitorar a água e nos informar as principais condições, químicas e físicas”, descreve. De acordo com o professor, além de uma ação preventiva sobre a qualidade das águas, o sistema permite o monitoramento em tempo real. Usando conceitos de internet das coisas, diante de qualquer anormalidade, o sistema dispara informações por diversos modos de comunicação, como o WhatsApp, por exemplo. “Basta estarmos interligados”, garante o professor.

Professor Ernane José Xavier Costa, no Laboratório de Física Aplicada e Computação no campus de Pirassununga

Laboratório de Tecnologia de Alta Pressão

Coleta de dados com alunos de residência e graduação no Laboratório de Morfofisiologia Molecular e Desenvolvimento, da Faculdade de Zootecnia
e Engenharia de Alimentos

Camila Reis, mestranda no Laboratório Cultivo de Células-Tronco e Terapia Gênica no campus de Pirassununga

A importância do bom ambiente “animal”

As avançadas tecnologias também estão sendo testadas quando o assunto é o bem estar animal. Quanto mais conforto, melhor produtividade. E o conforto dos animais pode ser medido e melhor administrado com os estudos que vêm sendo desenvolvidos na área de ambiência animal.

Boa parte dessas pesquisas é desenvolvida no Departamento de Engenharia de Biossistemas (ZEB), como descreve a professora Luciane da Silva Martello. “No nosso grupo de zootecnia de precisão um dos focos principais é investigar no uso de medidas não invasivas para avaliação animal e sistema produtivo”, descreve. Segundo a docente, há projetos em andamento e também já finalizados nesse sentido. Um deles é o uso de um colar dotado de um sistema de GPS que monitora o comportamento do animal. “O boi no pasto, por exemplo!”, diz. Com o sistema, o produtor poderá aferir a frequência da movimentação do animal. “É possível saber quanto tempo ele ficou de pé ou parado, por exemplo, e isso será transformado numa importante informação ao produtor. Ficará mais fácil gerir o sistema em prol de uma boa produtividade”, garante Luciane.

Assim como os animais, plantações também podem ser monitoradas por meio de imagens de câmeras de infravermelho, termográficas e por sistemas de escaneamento a laser. De acordo com o professor Rafael Vieira de Souza, do ZAB, algumas dessas técnicas estão disponíveis e outras vêm sendo pesquisadas no sentido de “melhorar a produtividade sempre”.

Souza faz parte do Laboratório de Instrumentação e Controle (LICon), do ZAB. É lá que os cientistas estudam formas cada vez menos invasivas para obterem informações, de plantas e animais, que permitam diagnósticos precisos para que sejam tomadas as melhores decisões para melhorar a produtividade. “Um boi pode ser pesado quando for ao bebedouro, por exemplo”, explica o docente. “Ao mesmo tempo, um sistema de escaneamento a laser nos dará informações sobre seu estado geral e uma câmera termográfica irá fornecer dados sobre a temperatura do animal”, ressalta. Com o uso da Inteligência Artificial (IA), os dados colhidos serão cruzados e analisados.

O professor ressalta que todos esses sistemas já estão disponíveis aos cientistas. “Realizamos diversos testes para melhor utilizar os equipamentos”, salienta. Ele destaca a possibilidade, que já vem sendo testada, do uso de um drone que capta imagens de uma extensa plantação, por exemplo. Para tanto, o equipamento leva consigo uma câmera multiespectral que obterá imagens que permitirão ao agricultor identificar desde pragas na cultura até plantas invasoras.

Falam os coordenadores

Os quatro cursos FZEA – Engenharia de Alimentos, Engenharia de Biossistemas, Medicina Veterinária e Zootecnia – têm como característica comum excelentes índices de empregabilidade de seus egressos. Aqui, os  coordenadores falam das características gerais de cada programa e algumas particularidades de cada profissão.

Mobilidade internacional

Há pouco mais de 15 anos, a Comissão de Relações Internacionais (CRI) da FZEA foi fundada com o objetivo de promover a mobilidade internacional. “E vem conseguindo isso com sucesso”, garante o professor Raul Franzolin Neto, coordenador da CRI. Segundo ele, neste período foram enviados a programas internacionais mais de 700 alunos, sendo 131 do curso de veterinária, 122 de zootecnia, 391 da engenharia de alimentos e 82 do curso de biossistemas.

“Para que o aluno se candidate a uma bolsa no exterior, que dura cerca de seis meses, deve demonstrar interesse e um excelente desempenho acadêmico”, recomenda Franzolin, lembrando que os EUA e a França são os destinos mais procurados. “Em 2017 a FZEA ocupou a sétima posição entre as unidades que mais enviaram alunos ao exterior: ao todo 110 estudantes”, contabiliza o coordenador.

Mas há também o movimento contrário, ou seja, os alunos que vêm do exterior para complementar seus estudos na FZEA. Nesse período, como enumera Franzolim, um total de 95 estudantes vieram da Colômbia, outros 72 da França, 58 dos EUA, 35 do Peru e 16 do México. Além dos estudantes que passam temporadas na FZEA, o coordenador também destaca as delegações provenientes do exterior. “Temos ainda firmados cerca de 99 convênios com muitos países, de todos os continentes”, lembra Franzolin, lembrando que “estes convênios envolvem docentes, alunos e até funcionários”.

O coordenador ressalta que os alunos são estimulados desde o início da graduação a participarem do programa de internacionalização. “E o processo é muito competitivo”, garante. Na graduação, segundo o coordenador, normalmente é a partir do segundo ano que o estudante poderá participar da concorrência para realizar parte de sua graduação no exterior.

Para os programas de duplo diploma, o tempo é maior. “Os alunos ficam 2 anos e meio no exterior e, após a formação, estará apto a trabalhar no Brasil e no país onde fez parte de seu curso”, explica Franzolin. Para docentes, há a modalidade dos cursos pós-doc, onde o docente pode permanecer no exterior, em média, de 1 a 1 ano e meio. “A internacionalização influi na qualidade e na formação, influenciando no posicionamento da USP nos rankings educacionais”.


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