“Trovão Gigante”: USP participa de descrição de megadinossauro da África do Sul

Trabalho que descreveu gigante triássico teve participação do Laboratório de Paleontologia da USP em Ribeirão Preto

 31/10/2018 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 07/11/2018 as 17:19

Montagem sobre ilustração de Viktor Radermacher, estudante de paleontologia da Universidade de Witwatersrand

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Uma nova espécie gigante de dinossauro, o Ledumahadi mafube, foi descrita por uma equipe de pesquisadores liderados pelo professor e paleontólogo da Universidade de Witwatersrand, África do Sul, Jonah Choiniere. Na equipe está o pós-doutorando do Laboratório de Paleontologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, Blair McPhee, primeiro autor do estudo que foi publicado em setembro na revista Current Biology.

A equipe de pesquisa também inclui os paleocientistas da África do Sul Emese Bordy, da Universidade da Cidade do Cabo, e Jennifer Botha-Brink, do Museu Nacional da África do Sul em Bloemfontein, além do professor Roger BJ Benson, da Universidade de Oxford.

“Trovão Gigante”

O gigante triássico da África ganhou o nome em uma das 11 línguas oficiais da África do Sul e uma língua indígena na área onde o dinossauro foi encontrado, o Sesotho, que significa “um trovão gigante ao amanhecer”. “O nome reflete o grande tamanho do animal, bem como o fato de que sua linhagem apareceu nas origens dos dinossauros saurópodes. Ele homenageia a herança recente e antiga da África Austral”, diz Choiniere.

O Ledumahadi mafube foi encontrado na Província do Estado Livre da África do Sul. O herbívoro pesava 12 toneladas e tinha cerca de quatro metros de altura nos quadris. Era o maior animal terrestre vivo na Terra quando vivia, há quase 200 milhões de anos, com o dobro do tamanho de um grande elefante africano. É um dos parentes mais próximos dos dinossauros saurópodes. “O fóssil de Ledumahadi conta uma história fascinante não apenas de sua história de vida individual, mas também da história geográfica de onde viveu e da história evolutiva dos dinossauros saurópodes”, dizem os pesquisadores.

Os saurópodes, com peso de até 60 toneladas, incluem espécies conhecidas como o Brosurossauro. Todos os saurópodes comeram plantas e ficaram sobre quatro patas, com uma postura como os elefantes modernos. O Ledumahadi desenvolveu seu tamanho gigante independentemente dos saurópodes e, embora estivesse em quatro patas, seus membros anteriores teriam ficado mais agachados. Isso levou a equipe científica a considerar o Ledumahadi como um “experimento” evolutivo com tamanho corporal gigante.

 

O fóssil de Ledumahadi conta uma história não apenas de sua vida individual, mas também sobre a história geográfica de onde viveu e a história evolutiva dos dinossauros saurópodes

A primeira coisa que surpreendeu MacPhee, sobre este animal, é a incrível robustez dos ossos dos membros. Eram de tamanho semelhante aos gigantescos dinossauros saurópodes, mas enquanto os braços e as pernas desses animais são tipicamente bem finos, os do Ledumahadi são “incrivelmente grossos”. “Para mim, isso indicava que o caminho para o gigantismo dos sauropodomorfos estava longe de ser direto, e que o modo como esses animais resolviam os problemas habituais da vida, como comer e se mexer, era muito mais dinâmico dentro do grupo do que se pensava anteriormente.”

Novo método

Para mostrar que o Ledumahadi andava de quatro, como os dinossauros saurópodes posteriores, a equipe de pesquisa desenvolveu um novo método, usando medidas dos “braços” e “pernas”. A equipe também mostrou que muitos parentes anteriores de saurópodes ficaram de quatro, que essa postura corporal evoluiu mais de uma vez, e que apareceu mais cedo do que os cientistas pensavam anteriormente.

“Muitos dinossauros gigantescos andavam sobre quatro patas, mas tinham ancestrais que andavam sobre duas pernas. Os cientistas querem saber sobre essa mudança evolutiva, mas, surpreendentemente, ninguém criou um método simples para dizer como cada dinossauro caminhava até agora”, diz Roger Benson.

Ao analisar o tecido ósseo do fóssil através da análise osteo-histológica, Jennifer Botha-Brink estabeleceu a idade do animal. “Podemos ver, olhando para a microestrutura óssea fossilizada, que o animal cresceu rapidamente para a idade adulta. Anéis de crescimento, depositados anualmente e de espaçamento curto na periferia, mostram que a taxa de crescimento foi diminuindo substancialmente até que ele morreu, isso indica que o animal havia atingido a idade adulta”, diz Jennifer.

A pesquisadora diz ainda que “também foi interessante ver que os tecidos ósseos exibem aspectos tanto dos sauropodomorfos basais quanto dos saurópodes mais derivados, mostrando que o Ledumahadi representa um estágio de transição entre esses dois grandes grupos de dinossauros.”

Ledumahadi está intimamente relacionado com outros dinossauros gigantescos da Argentina que viveram em um tempo similar, o que reforça que o supercontinente de Pangeia ainda estava montado no Jurássico Antigo. “Isso mostra com que facilidade os dinossauros poderiam ter caminhado de Johannesburgo para Buenos Aires naquela época”, diz Choiniere. “Os dinossauros não observaram as fronteiras internacionais e é importante que nossos grupos de pesquisa também não”, concluiu, se referindo ao grupo de pesquisadores de diversas partes que colaboraram com os estudos.

Neste link você pode acessar vídeo produzido pela Universidade de Witwatersrand (Wits) que ilustra o Ledumahadi mafube. 

(Com informações dos pesquisadores)


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