Tecnologia mais precisa detecta agressividade de câncer de próstata

Nova tecnologia oferece mais segurança diagnóstica para tumores de próstata localizados

 01/12/2017 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 04/12/2017 as 9:30
Exame sem similar nacional, que analisa microRNAs, e que pode evitar tratamentos agressivos e cirurgias desnecessárias, deve chegar ao mercado no final 2018 – Foto: The Journal of Cell Biology/Flickr-CC

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Pesquisadores de Ribeirão Preto usam biologia molecular e inteligência artificial no desenvolvimento de um exame que melhora o diagnóstico e a terapia do câncer de próstata. Testes com a nova técnica estão em andamento nos laboratórios da startup Onkos Diagnósticos Moleculares, ligada ao Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto, instalado no campus da USP, e mostram alta capacidade na identificação acurada da agressividade desses tumores.

“Prever o comportamento biológico de um tumor e classificá-lo quanto ao risco de recidiva ou metástase é primordial para definir o melhor tratamento e auxiliar na decisão da real necessidade de cirurgia em casos de câncer de próstata localizado”, assegura o biólogo molecular Marcos Santos, CEO da startup. E hoje, os parâmetros utilizados no Brasil “são subjetivos e falhos. Quase 60% dos pacientes classificados atualmente como de alto risco jamais desenvolvem metástases e passam por tratamentos intensos desnecessariamente”.

O pesquisador utiliza amostras coletadas de pacientes em tratamento no Hospital de Câncer de Barretos, no interior de São Paulo. Elas são analisadas e comparadas entre três grupos distintos de pacientes com câncer de próstata: “saudáveis”, não apresentaram recidiva bioquímica ou metástase em seis anos; “recidivados”, aqueles com recidiva bioquímica em cinco anos, e  “metastáticos”, que desenvolveram metástase em até cinco anos.

Como o objetivo é eliminar a subjetividade da atual classificação de riscos desses pacientes, os pesquisadores investigam a atividade de moléculas chamadas microRNAs. Elas são como pequenos RNAs que não traduzem a informação do DNA em proteína com função específica, mas com capacidade de controlar a atividade do próprio RNA. Em determinados processos patológicos, como o câncer, essas microRNAs atuam reprimindo ou desregulando uma expressão gênica para ter atividade oncogênica ou mesmo suprimi-la.

Assinaturas genéticas definem diagnóstico

Santos conta que buscam informações personalizadas de como o tumor se comporta e se desenvolve de forma objetiva. Para tanto, a nova tecnologia deve ser capaz de encontrar um grupo de microRNAs que crie assinaturas genéticas específicas para cada um desses grupos de pacientes, como se fossem impressões digitais e, depois, desenvolver um algoritmo que saiba diferenciar esses perfis biológicos. “Isso é feito com auxílio de técnicas de biologia molecular e inteligência artificial”, explica.

Ao analisar uma amostra de câncer de próstata de um paciente “nosso algoritmo identifica qual seu perfil biológico e identifica com qual desses grupos ela tem maior similaridade, gerando assim um escore de risco”. Esses escores são classificados do mais baixo – ou seja, mais parecido com pacientes do grupo saudável – para o de maior risco, mais parecido com o grupo de pacientes metastáticos.

A pesquisa, que conta também com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), já apresenta resultados animadores. Os testes revelam alta capacidade na identificação da real agressividade do tumor de próstata localizado; fato que é comemorado por Santos, uma vez que “a maioria dos pacientes, classificados atualmente como de alto risco, é reclassificada como de baixo risco pelo nosso exame”.

Trata-se de um método “mais preciso que o atual e que beneficia não somente o paciente mas também gera economia de recursos ao sistema de saúde, melhorando a sua eficácia”. É que exames similares são oferecidos por empresas norte-americanas e estão disponíveis no Brasil. Entretanto, a amostra é coletada e enviada para os Estados Unidos, onde é analisada. “O custo destss exames é inacessível à nossa população, já que custam cerca de R$ 12 a R$ 15 mil.”

Com a tecnologia desenvolvida em solo brasileiro, a estimativa é que os exames fiquem até 80% mais baratos. A economia ao sistema de saúde brasileiro viria da capacidade da técnica em sugerir ao médico oncologista informações que deem suporte à tomada de decisões clínicas mais precisas. Pacientes detectados com baixo risco podem não necessitar de procedimentos mais intensos ou “tratamentos e cirurgias caras”, garante Santos, que espera colocar o novo produto à disposição do mercado até o final de 2018.

Rita Stella, com informações de Ana Cunha

Mais informações: (16) 981520398, e-mail ana.cunha@medialink.com.br


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