Estudo analisa fatores que favorecem a opção pela bicicleta

Existência de ciclofaixas, lotação de ponto de ônibus e condições meteorológicas favoráveis podem influenciar na opção ou não pelas bicicletas

 29/07/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 02/08/2016 as 20:10
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Sistema BiciMAD de bicicletas elétricas compartilhadas em Madrid, Espanha. Fonte: Spotahome (2014)
Sistema BiciMAD de bicicletas elétricas compartilhadas em Madri, Espanha – Foto: Spotahome

Um trabalho da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP aponta as variáveis que estimulam o uso das bicicletas, como existência de ciclovias e ciclofaixas, lotação do ponto de ônibus e condições meteorológicas favoráveis. Elas foram levantadas pelo engenheiro Leonardo Dal Picolo Cadurin em pesquisa que buscou uma alternativa de deslocamento para os 4,5 km que devem ser percorridos por quem vai da Área 1 à Área 2 do campus da USP em São Carlos.

Cadurin analisou a viabilidade, sob o ponto de vista da demanda, de se implantar um sistema com bicicletas elétricas do tipo pedelec compartilhadas, elaborando 16 possíveis cenários para escolha entre a bicicleta elétrica e o ônibus circular existente, de modo a identificar as preferências dos alunos. Entre as principais conclusões, está o aumento de até três vezes na probabilidade de escolha da bicicleta em relação ao ônibus quando há presença de ciclovias e ciclofaixas entre as duas áreas.

A análise da demanda aconteceu a partir de uma pesquisa de preferência declarada, aplicada junto aos estudantes que frequentam a Área 2, que é a área mais nova e mais distante da região central da cidade de São Carlos. Hoje, os alunos têm a opção de fazerem o percurso em uma linha de ônibus circular operada pela USP, cujo tempo médio de viagem é de 15 minutos. “As variáveis escolhidas para a pesquisa foram a presença ou ausência de ciclovias ou ciclofaixas entre as duas áreas, lotação ou não do ponto de ônibus e condições meteorológicas, como frio, moderado, calor e possibilidade de chuva”, relata o engenheiro.

A pesquisa resultou em informações de preferência a respeito de 16 cenários, que correspondem às combinações das variáveis citadas. “Para cada cenário, o respondente expressou sua preferência: ônibus operado pela USP ou bicicleta pedelec compartilhada”, aponta o pesquisador. “O estudo partiu da premissa de que os dois sistemas de transporte operariam de modo complementar.”

O estudo partiu da premissa de que os dois sistemas de transporte operariam de modo complementar.

Após a pesquisa de preferência declarada, foram coletados dados do histórico meteorológico de São Carlos para os anos de 2011 a 2015. “Estes dados, juntamente com as informações da preferência declarada, foram inseridos em uma planilha eletrônica que permitiu estimar as probabilidades de escolha das bicicletas compartilhadas, em relação ao ônibus, para os cenários desejados”, destaca Cadurin.

Decisão

Planilha eletrônica desenvolvida para a estimação da probabilidade de escolha da bicicleta pedelec compartilhada. Fonte: cedida pelo pesquisador
Planilha eletrônica desenvolvida para estimativa da probabilidade de escolha da bicicleta pedelec compartilhada. Fonte: cedida pelo pesquisador

A partir das informações obtidas, foi possível verificar qual o peso, em termos quantitativos, que as variáveis têm na decisão do público-alvo. “Os resultados evidenciaram um aumento de até três vezes na probabilidade de escolha da bicicleta em relação ao ônibus quando há presença de ciclovias e ciclofaixas entre as duas áreas”, relata o engenheiro. “Já o ponto de ônibus da USP, quando considerado cheio, resultou em um aumento próximo ao dobro”.

Quanto às condições meteorológicas, a pesquisa constatou que os meses e estações mais secos e com temperaturas mais baixas apresentam maior probabilidade de uso das bicicletas. “Embora o foco da pesquisa não fosse a estruturação do sistema, algumas características foram estipuladas para que os alunos tivessem melhores condições de responderem diante dos 16 cenários”, afirma Cadurin. “O custo para utilizar as bicicletas foi considerado como gratuito, da mesma maneira como atualmente funciona o sistema de ônibus da USP em São Carlos.”

A retirada das bicicletas foi considerada como imediata, enquanto para utilizar o ônibus a pessoa necessita esperar pelos horários da grade. “Por fim, o tempo de viagem foi considerado como de 15 minutos para o ônibus e de 10 a 25 minutos para a bicicleta, já que esse fator depende muito das condições físicas da pessoa”, observa o pesquisador. “Como uma das maiores barreiras para se utilizar bicicletas convencionais é o esforço físico, optamos por um sistema com bicicletas elétricas do tipo pedelec, que possuem um motor elétrico para auxiliar a pessoa somente enquanto pedala.”

Cadurin ressalta que sistemas com bicicletas elétricas compartilhadas já existem no mundo todo, inclusive em universidades. “Em São Carlos, a implantação do sistema depende da decisão e vontade dos gestores da Prefeitura do campus e, claro, da postura da Reitoria”, afirma. “Investir na estruturação dos campi da USP para deslocamentos por modos não motorizados é uma decisão que envolve quebra de paradigmas e destinação de recursos financeiros, mas que, com certeza, colocaria a Universidade em um nível ainda mais elevado de desenvolvimento, servindo como referência para o Brasil e o mundo.”

O trabalho teve a orientação de Antônio Nélson Rodrigues da Silva, professor titular do Departamento de Engenharia de Transportes (STT) da EESC.

Mais informações: email leonardodpc88@gmail.com, com Leonardo Dal Picolo Cadurin


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