
O litoral brasileiro é mapeado há pelo menos 500 anos. E guardou, por todo esse tempo, um segredo só agora revelado por cientistas: um conjunto de recifes com 10 mil km2! Está em frente ao litoral do Maranhão, Pará, Amapá e Guiana Francesa.
Improvável
O conjunto recifal está em plena foz do rio Amazonas, onde são lançados 175 milhões de litros de água doce por segundo. É o local mais improvável para esse tipo de formação, já que o recife recebe água doce e em quantidade variável, de acordo com as correntes marítimas.
Além disso, o rio Amazonas traz, desde os Andes, toneladas de sedimentos que influenciam o pH e deixam a água turva. Quando chega ao mar, o fluxo da água do rio causa mudanças na salinidade, no pH, na sedimentação e na penetração de luz.
Essas alterações são consideradas inadequadas para a estrutura recifal – e tornam ainda mais surpreendente a existência de uma estrutura com essa extensão.
No vídeo abaixo, veja imagens do recife, dos organismos encontrados e entrevistas com alguns dos cientistas que participaram da descoberta.
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O Recife Amazônico é um bioma único no mundo. Ele traz uma nova forma de equilíbrio ecológico que pode lançar ideias para enfrentar as mudanças climáticas globais, como a acidificação dos oceanos.
Mapeamento

Um grupo de 39 pesquisadores de nove universidades brasileiras e uma americana mapeou a descoberta em uma expedição a bordo de um navio da Marinha brasileira. A pesquisa gerou um artigo publicado na revista Science Advances.
O primeiro autor do artigo é Rodrigo L. Moura (UFRJ). Fabiano Thompson (UFRJ) e Carlos Rezende (UENF) coordenaram a pesquisa. Os geólogos e oceanólogos Michel Mahiques, Rodolfo Dias e Eduardo Siegle, todos do Instituto Oceanográfico da USP, fizeram o mapeamento do fundo do mar e a caracterização física da estrutura dos recifes.
Condições ideais
Em geral, recifes estão em locais de água salgada, rasa, mais quente, com alta penetração de luz e menor sedimentação.
Essas condições favorecem os microorganismos que fazem fotossíntese e formam a base da cadeia recifal. Eles servem, direta ou indiretamente, de alimento para uma grande diversidade de algas, corais, esponjas, peixes e outros animais bentônicos.
Nova ecologia
Os cientistas chegaram à conclusão de que o Recife Amazônico representa um novo parâmetro de equilíbrio ecológico. Ali, por falta de penetração de luz, a base da cadeia alimentar são microrganismos quimiossintetizantes. Eles são capazes de transformar minerais em biomassa – matéria orgânica que pode ser usada como fonte de energia pel

os outros habitantes do local.
Outra particularidade do recife recentemente caracterizado é a descoberta de novas espécies de diversos gêneros – desde micróbios a esponjas, por exemplo.
Pressões
Fabiano Thompson afirma que a estrutura recifal já está em risco por causa da exploração de óleo e gás na região.