Encontrado recife na foz do rio Amazonas

O litoral brasileiro é mapeado há pelo menos 500 anos. E guardou por todo esse tempo um segredo só agora revelado por cientistas: no local mais improvável, em plena foz do rio Amazonas, onde são lançados, por segundo, 175 milhões de litros de água doce com sedimentos, foi descoberto um conjunto de recifes com 10 mil km2!

 28/04/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 18/10/2019 as 11:34
Por
Mapa do Recife Amazônico

O litoral brasileiro é mapeado há pelo menos 500 anos. E guardou, por todo esse tempo, um segredo só agora revelado por cientistas: um conjunto de recifes com 10 mil km2! Está em frente ao litoral do Maranhão, Pará, Amapá e Guiana Francesa.

Improvável

O conjunto recifal está em plena foz do rio Amazonas, onde são lançados 175 milhões de litros de água doce por segundo. É o local mais improvável para esse tipo de formação, já que o recife recebe água doce e em quantidade variável, de acordo com as correntes marítimas.

Além disso, o rio Amazonas traz, desde os Andes, toneladas de sedimentos que influenciam o pH e deixam a água turva. Quando chega ao mar, o fluxo da água do rio causa mudanças na salinidade, no pH, na sedimentação e na penetração de luz.

Essas alterações são consideradas inadequadas para a estrutura recifal – e tornam ainda mais surpreendente a existência de uma estrutura com essa extensão.

No vídeo abaixo, veja imagens do recife, dos organismos encontrados e entrevistas com alguns dos cientistas que participaram da descoberta.

[embedyt] http://www.youtube.com/watch?v=R_MTZ338vOg[/embedyt]

 

O Recife Amazônico é um bioma único no mundo. Ele traz uma nova forma de equilíbrio ecológico que pode lançar ideias para enfrentar as mudanças climáticas globais, como a acidificação dos oceanos.

Mapeamento

Equipe e material coletado no navio

Um grupo de 39 pesquisadores de nove universidades brasileiras e uma americana mapeou a descoberta em uma expedição a bordo de um navio da Marinha brasileira. A pesquisa gerou um artigo publicado na revista Science Advances.

O primeiro autor do artigo é Rodrigo L. Moura (UFRJ). Fabiano Thompson (UFRJ) e Carlos Rezende (UENF) coordenaram a pesquisa. Os geólogos e oceanólogos Michel Mahiques, Rodolfo Dias e Eduardo Siegle, todos do Instituto Oceanográfico da USP, fizeram o mapeamento do fundo do mar e a caracterização física da estrutura dos recifes.

Condições ideais

Em geral, recifes estão em locais de água salgada, rasa, mais quente, com alta penetração de luz e menor sedimentação.

Essas condições favorecem os microorganismos que fazem fotossíntese e formam a base da cadeia recifal. Eles servem, direta ou indiretamente, de alimento para uma grande diversidade de algas, corais, esponjas, peixes e outros animais bentônicos.

Nova ecologia

Os cientistas chegaram à conclusão de que o Recife Amazônico representa um novo parâmetro de equilíbrio ecológico. Ali, por falta de penetração de luz, a base da cadeia alimentar são microrganismos quimiossintetizantes. Eles são capazes de transformar minerais em biomassa – matéria orgânica que pode ser usada como fonte de energia pel

Duas esponjas encontradas no Recife Amazônico

os outros habitantes do local.

Outra particularidade do recife recentemente caracterizado é a descoberta de novas espécies de diversos gêneros – desde micróbios a esponjas, por exemplo.

Pressões

Fabiano Thompson afirma que a estrutura recifal já está em risco por causa da exploração de óleo e gás na região.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.