Projeto inédito no Brasil busca voluntários para testar tratamento domiciliar de depressão

Combinação de estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) e atividades cognitivas será aplicada por meio de aparelho conectado ao telefone celular

08/06/2021

Por Júlio Bernardes
Arte: Lívia Magalhães/Jornal da USP

O Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) procura voluntários para testar um novo método de tratamento de depressão. A terapia, que será oferecida gratuitamente, combina estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) e atividades cognitivas e será aplicada na casa dos participantes, por meio de um aparelho conectado ao telefone celular. Podem se inscrever no estudo pessoas de 18 a 59 anos de idade, com diagnóstico de depressão, por meio de um questionário disponibilizado pelo projeto na internet.

O tratamento é realizado com um aparelho portátil de ETCC, que é conectado, via bluetooth, a um aplicativo de smartphone. “As sessões de ETCC são realizadas durante 30 minutos por dia, em ambiente domiciliar, sob supervisão remota de nossa equipe de pesquisadores”, explicam os psiquiatras André Brunoni e Lucas Borrioni, que coordenam o projeto. “Antes de usar o aparelho em casa, todos os participantes receberão treinamento presencial em nosso centro de pesquisas, no IPq.”

Lucas Borrioni - Foto: Reprodução/LinkedIn
Lucas Borrioni - Foto: Reprodução/LinkedIn

O estudo com a terapia remota é inédito no Brasil, e a técnica foi testada apenas em um estudo piloto, de pequena escala, no IPq. “A ETCC é um método aprovado recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e que ainda é pouco usada nos serviços de saúde”, explicam os pesquisadores. “Trata-se de uma modalidade indolor e não-invasiva de neuromodulação, na qual o participante fica sentado enquanto recebe a estimulação, que dura 20 minutos.”

Os psiquiatras explicam que a ETCC é uma técnica segura, indolor e eficaz para o tratamento da depressão, podendo ser combinada ou não com medicações antidepressivas. “O princípio básico de ação da ETCC é a aplicação de uma corrente elétrica de intensidade muito baixa, equivalente à corrente de uma pilha comum, através de áreas do cérebro que estão disfuncionais durante os episódios depressivos”, descrevem. “O procedimento não é invasivo e não requer anestesia. A ETCC, desta forma, modula positivamente o funcionamento de regiões cerebrais afetadas, podendo acarretar o alívio dos sintomas depressivos.”

Efeito antidepressivo

Segundo os pesquisadores, a principal inovação do estudo, em relação a outros estudos com ETCC realizados pela equipe do IPq, é a possibilidade da realização concomitante de atividades cognitivas durante a sessão de ETCC, em ambiente domiciliar. “As duas modalidades simultâneas podem ter um efeito antidepressivo melhor do que cada uma isoladamente”, apontam. “Outro aspecto interessante do nosso estudo, em tempos de pandemia, é a possibilidade de deslocamento mínimo, com grande parte das avaliações e supervisão através de recursos de telemedicina.”

“[A estimulação transcraniana por corrente contínua, ETCC] trata-se de uma modalidade indolor e não-invasiva de neuromodulação, na qual o participante fica sentado enquanto recebe a estimulação, que dura 20 minutos.”

André Brunoni - Foto: Reprodução/LinkedIn
André Brunoni - Foto: Reprodução/LinkedIn

Ao todo, o estudo avaliará 210 participantes durante um período de seis semanas. “Neste período, uma parte será randomizada para receber placebo, e a outra parte, diferentes combinações dos tratamentos ativos”, planejam os médicos. “Após as seis semanas iniciais, os participantes poderão escolher se desejam receber os tratamentos ativos, de forma aberta, por até seis meses, se houver indicação médica para continuarem no estudo.”

Os requisitos básicos para participar do estudo são: ter idade entre 18 e 59 anos, diagnóstico de depressão unipolar, sem outros diagnósticos psiquiátricos conflitantes, e sem doenças clínicas graves, por questões de segurança. Aos participantes, é facultado o direito de permanecer em uso de doses estáveis de antidepressivos que já estejam em uso antes de ingressar no estudo. O estudo está sendo realizado no Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação (SIN) do IPq, sob a coordenação do professor André Brunoni.

As pessoas interessadas devem inicialmente responder ao questionário através deste link. “As respostas serão avaliadas e, se houver critérios clínicos e de segurança, os participantes serão convidados a participar de uma videoconferência com nossa equipe de pesquisadores, onde serão confirmados os critérios de inclusão e de segurança, para ingresso no estudo”, afirmam os pesquisadores. “Por se tratar de uma pesquisa clínica envolvendo seres humanos, houve aprovação pelo Comitê de Ética do HC, respeitando-se todos os princípios bioéticos e de consentimento livre e esclarecido.”

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