Em Calama, na Expedição Ribeirinhos do Projeto FOB USP em Rondônia, a equipe da USP fica hospedada em um barco no Rio Madeira – Foto: Denise Guimarães/USP Imagens

Projeto da USP em Rondônia cria círculo virtuoso entre universitários e população local

Faculdade de Odontologia de Bauru leva atendimento em saúde para Monte Negro e Calama, possibilita a realização de pesquisas e ajuda na formação da graduação e da pós

 18/10/2016 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 13/07/2022 as 14:45

Autora: Valéria Dias

Autor: Moisés Dourado e Ana Júlia Maciel

Quase 3 mil quilômetros separam Bauru, no interior de São Paulo, do Estado de Rondônia. Mas a distância nunca impediu que um grupo de professores, alunos de graduação e de pós, além de funcionários da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP realizassem, três vezes ao ano, uma longa viagem até a região norte do Brasil. Tem sido assim há 14 anos: estamos falando do Projeto de Extensão Universitária FOB USP em Rondônia.

Os expedicionários em Porto Velho, com o Rio Madeira ao fundo, na última Expedição Ribeirinhos, realizada em setembro/2016 – Foto: USP Imagens

Em 2011, o projeto foi premiado: recebeu Menção Honrosa pela Qualidade e Sustentabilidade da Ação, na 4a edição do Prêmio Cidadania Sem Fronteiras

Iniciado em 2002, o projeto ajuda na formação dos alunos do último ano de graduação; proporciona o treinamento dos pós-graduandos para a docência e a gestão em saúde pública; e possibilita a realização de inúmeras pesquisas e a produção de artigos científicos. E a população local também é beneficiada: os alunos de graduação realizam atendimento gratuito nas áreas de odontologia e fonoaudiologia.

Em Monte Negro, cidade de 10 mil habitantes distante 250 quilômetros ao sul de Porto Velho (capital do Estado), o grupo viaja nos meses de janeiro e julho. E, desde setembro de 2013, outra viagem é realizada, desta vez para a comunidade ribeirinha de Calama, distrito de Porto Velho, com cerca de 3 mil habitantes, na margem direita do Rio Madeira e quase na divisa com o Estado do Amazonas. No lugar não há dentistas nem fonoaudiólogos. É a Expedição Ribeirinhos.

“Nos últimos 14 anos realizamos 33 expedições para Monte Negro com alunos de graduação. Fizemos algumas outras apenas com alunos de pós-graduação, para coleta de dados e realização de pesquisas, além de viagens para conversar com prefeitos e outras autoridades. Para Calama, já foram realizadas quatro expedições”, informa a atual coordenadora do projeto, a professora Magali Caldana, do Departamento de Fonoaudiologia da FOB.

Produção científica

Todas essas viagens e expedições já renderam a produção de duas teses de doutorado e uma dissertação de mestrado, além da publicação de 12 artigos científicos (um sobre Calama e 11 de Monte Negro) e apresentações nos principais congressos e eventos nacionais e internacionais de odontologia e fonoaudiologia.

Quando o projeto completou dez anos, foi lançado o livro Odontologia e Fonoaudiologia – Dez anos de Práticas Clínicas e Políticas Públicas em Projeto de Extensão: FOB-USP em Rondônia.

Posto de Saúde de Calama: muitos moradores chegaram de madrugada para conseguir atendimento com as equipes da USP – Fotos: Denise Guimarães/USP Imagens

E, em 2011, o projeto foi premiado: recebeu Menção Honrosa pela Qualidade e Sustentabilidade da Ação, na 4a edição do Prêmio Cidadania Sem Fronteiras, concedido pelo Instituto da Cidadania Brasil e pela Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Para participar do projeto, o aluno de graduação precisa cursar as disciplinas optativas Saúde Coletiva: Ações da USP em Rondônia I e II, oferecidas na FOB. Ao final, os melhores alunos são escolhidos para acompanhar as expedições por meio de provas e também pela avaliação dos pós-graduandos e dos professores responsáveis pela disciplina. Os alunos podem escolher se preferem viajar para Monte Negro em janeiro ou julho. Já os pós-graduandos precisam cursar a disciplina Pesquisa e Extensão: prática em Rondônia I e II.

Atendimento odontológico – Fotos: Denise Guimarães/USP Imagens

“Em Calama, as viagens ocorrem em setembro. As aulas terminam em dezembro. Em dois meses, esse aluno será um cirurgião dentista, um fonoaudiólogo. Se ele não aprendeu até agora, quando irá aprender?”

Os da graduação devem estar no último ano e espera-se que estejam suficientemente preparados para saber exatamente o que deve ser feito durante os atendimentos. “Em Calama, as viagens ocorrem em setembro. As aulas terminam em dezembro. Em dois meses, esse aluno será um cirurgião dentista, um fonoaudiólogo. Se ele não aprendeu até agora, quando irá aprender?”, questiona o professor José Roberto de Magalhães Bastos, do Departamento de Odontologia, e coordenador de 2002 a 2006 do FOB USP em Rondônia.Os alunos que mais se destacam em Monte Negro são convidados para acompanharem a Expedição Ribeirinhos até Calama. “Essa viagem é realizada na Semana da Pátria, quando os alunos não têm aula”, esclarece a professora Magali. “Mas para Calama o aluno precisa ter um perfil bem específico, pois a viagem é totalmente diferente”, informa a docente. O grupo também é menor, com cerca de 25 participantes.

Deslocamentos

Atendimento fonoaudiológico – Fotos: Denise Guimarães/USP Imagens

Os deslocamentos para Monte Negro são realizados em avião de voo comercial ou com apoio da Força Aérea Brasileira (FAB), que disponibiliza, quando é possível, uma aeronave para levar os expedicionários até Porto Velho. De lá, o grupo, geralmente em torno de 40 pessoas, se desloca de ônibus até chegar ao município. Durante duas semanas eles atendem à população da cidade e às comunidades da região.

Para Calama a logística é diferente. Os mais de 3 mil quilômetros que separam Bauru de Porto Velho são percorridos em um ônibus da USP, com paradas apenas para o café da manhã, almoço, jantar e banho dos participantes, além do abastecimento do veículo. E como o único meio de chegar a Calama é pelo Rio Madeira, é preciso navegar durante 12 horas até chegar à comunidade ribeirinha.

Ação de saúde coletiva na EMEI Dra. Ana Adelaide Grangeiro, de Calama – Foto: Denise Guimarães/USP Imagens

Além de meio de transporte, a embarcação também serve de hotel e restaurante ao grupo. Os atendimentos são realizados em três ou quatro dias. Na primeira e na segunda expedição, eles conseguiram o apoio da FAB. Como a viagem entre Bauru e Porto Velho durou aproximadamente seis horas, o tempo de permanência em Calama foi maior: cinco dias.

Mas nem sempre a FAB pode disponibilizar um avião. A última expedição, realizada entre 1° e 10 de setembro, levou 72 horas para chegar a Calama. Isso porque os expedicionários tiveram de enfrentar um congestionamento que deixou o ônibus parado sete horas na estrada, além do furo de um pneu. Isso atrasou a viagem em 19 horas. Entretanto, em nenhum momento esses contratempos foram capazes de desanimar os expedicionários: chegando a Calama, eles foram descarregar o barco e montar as clínicas no posto de saúde local para, no dia seguinte, começar os atendimentos, que foram realizados nos dias 5, 6 e 7 de setembro.

Leia mais sobre o projeto FOB USP em Rondônia na reportagem especial do Jornal da USP

Acompanhe nas próximas semanas a série de reportagens sobre a 4a Expedição Ribeirinhos do Projeto de Extensão Universitária FOB USP em Rondônia, que será publicada no Jornal da USP Especial, em novembro.


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