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Pesquisas exploram a ciência do olhar no futsal
Estudos da Escola de Educação Física e Esporte da USP mostram como a visão dos jogadores pode moldar o jogo
Partida de futsal entre Argentina e Egito nos Jogos Olímpicos da Juventude 2018 – Foto: Sandro Halank – CC BY-SA 4.0
Em uma partida esportiva, o sucesso de uma jogada depende de inúmeros fatores que envolvem desde o treinamento adequado para que o atleta atinja seu melhor desempenho físico até as instruções táticas elaboradas pelos treinadores. Porém, há um elemento essencial em jogo que muitas vezes não recebe a devida atenção: o olhar do jogador.
Pesquisas conduzidas na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, sob coordenação do professor Umberto Cesar Corrêa, têm procurado explorar esse aspecto do jogo, especialmente no futsal. Esses estudos investigam o comportamento do olhar dos jogadores durante passes, finalizações e dribles, analisando como a informação visual e a coordenação interpessoal influenciam a tomada de decisão. Os resultados trazem insights valiosos para o treinamento e a elaboração de estratégias mais eficazes.
O olhar nas finalizações e a variabilidade da busca visual
Em um dos estudos, os resultados mostraram que, ao realizar um chute ao gol, os atletas adaptaram seus padrões de olhar para focar em quatro fontes principais de informação: o defensor mais próximo, o goleiro, o chão da quadra e a bola. A bola, no entanto, foi a informação mais fixada, independentemente da configuração de marcação, indicando sua importância crítica para garantir um contato preciso no chute. Na pesquisa, 18 partidas de futsal foram analisadas, com 32 jogadores equipados com rastreadores oculares. A partir disso, foram selecionadas 45 sequências de jogadas envolvendo passes e finalizações.
As análises também apontaram que quanto maior o tempo de posse da bola maior a variabilidade da busca visual. Isso implica que os jogadores, com o tempo, exploram ativamente o ambiente à procura de um ângulo ideal para o chute, regulando suas ações por meio de informações visuais dinâmicas. No entanto, a variabilidade na busca visual não foi influenciada pela magnitude, velocidade ou variação dos ângulos entre o chutador, o defensor mais próximo e o goleiro.
A geometria por trás do passe eficaz
Outro estudo destacou a importância da geometria na tomada de decisão durante passes. Os jogadores não apenas buscam o maior ângulo possível entre companheiros e defensores, mas também o que emerge mais rapidamente. Isso reforça que o passe é influenciado pela percepção contínua das mudanças espaciais, exigindo uma leitura dinâmica do jogo. De forma mais precisa, foi identificado que os jogadores devem se atentar para um ângulo ótimo de 72º entre eles e seus companheiros ou defensores para maximizar a eficácia do passe.
Assim, a prática ideal envolve a criação de situações que desafiem o atleta a desenvolver percepção e ajuste rápido, além de adaptar a velocidade do passe conforme o surgimento de espaços entre os jogadores. Dessa forma, o sucesso no passe não é apenas uma questão de “para quem” passar, mas de “quando” e “como” executar a ação.
O desafio do drible: tempo de reação e antecipação
Se, de um lado, os estudos exploraram o comportamento óptico dos jogadores de linha, do outro investigaram também o comportamento dos goleiros. Neste caso, foram analisados 50 chutes em partidas de futsal.
Os pesquisadores observaram que, quando o goleiro antecipava o movimento do chute, isso resultava em gols com maior frequência, especialmente em chutes realizados das zonas central e ofensiva, e a uma distância entre 5,97 e 7,84 metros. Isso sugere que a antecipação é uma estratégia arriscada, especialmente em zonas críticas, e que os goleiros precisam encontrar o equilíbrio entre agir com rapidez e esperar o momento certo para reagir.
Integração e aplicações práticas
Esses estudos reforçam a ideia de que cada elemento do jogo está interligado. A capacidade de adaptação da busca visual, a execução precisa de passes e a criação de espaços são fundamentais para o sucesso ofensivo. Do ponto de vista do defensor, movimentos imprevisíveis e leitura rápida do adversário são essenciais para bloquear um drible, enquanto os goleiros devem calibrar suas respostas para não se antecipar de forma precipitada.
Com base nesses achados, os pesquisadores sugerem que as práticas de treinamento devem incluir situações de múltipla escolha, nas quais os jogadores desenvolvam sintonia perceptiva e ajuste interpessoal rápido. Além disso, propor atividades que exijam diferentes tempos de resposta e antecipação pode ajudar os goleiros a otimizar suas ações e tomar decisões mais eficazes durante os jogos.
Mais informações: umbertoc@usp.br, com o professor Umberto Cesar Corrêa
*Da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
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