Pesquisa da USP associa vírus Zika a inflamação no olho em adultos

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP acabam de publicar a primeira descrição de inflamação intraocular em adultos causada pelo vírus Zika, o mesmo que é transmitido pelo Aedes aegypti.

 22/06/2016 - Publicado há 8 anos
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Pesquisa inédita da FMRP foi publicada nesta quarta-feira, dia 22/06, em revista médica considerada uma das mais importantes do mundo na área

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP acabam de publicar a primeira descrição de inflamação intraocular em adultos causada pelo vírus Zika, o mesmo que é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

Até então, a comunidade científica acreditava que a Zika adquirida causava somente conjuntivite. “Essa é uma manifestação nova e potencialmente mais grave do quadro ocular. Pela primeira vez na literatura científica, está descrita a Zika adquirida em associação com inflamação dentro do olho. Eram conhecidas somente as alterações oculares causadas pela Zika congênita, aquela em que os bebês podem desenvolver lesões graves e permanentes”, relata o professor João Marcello Furtado, do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia da Cabeça e Pescoço da FMRP.

O professor diz que essa é também a primeira vez que o material genético do vírus foi isolado a partir de amostras de líquido de dentro do olho, o chamado humor aquoso que fica na câmara anterior do olho. “Essa é uma demonstração de que o vírus pode ultrapassar as barreiras que protegem o olho contra infecções”, alerta Furtado.

A descrição está na edição de hoje, dia 22/06, de uma das mais importantes revistas da área médica no mundo, a The New England Journal of Medicine. Além do professor Furtado, participam do trabalho o professor Benedito Antonio Lopes da Fonseca, o médico oftalmologista Tomás Teixeira Pinto, do Hospital das Clínicas da FMRP, e Taline Klein e Danillo Espósito, do Laboratório de Virologia da FMRP.

Achados clínicos

O caso relatado na The New England Journal of Medicine é de um homem de cerca de 40 anos que teve sintomas compatíveis com a Zika, associados a olho vermelho. Num primeiro momento, o paciente e o médico acreditaram ser conjuntivite. Entretanto, diz o pesquisador, na avaliação oftalmológica foi evidenciada inflamação intraocular, a chamada uveíte.

As uveítes podem ser causadas por agentes infecciosos como vírus, bactérias ou protozoários ou por doenças autoimunes. Pela suspeita de que essa inflamação era causada pelo vírus Zika, foi coletada amostra do líquido intraocular, o humor aquoso. “Os exames de sangue do paciente deram positivos para Zika e, para nossa surpresa, a amostra do material intraocular também continha material genético do vírus Zika”.

Furtado relata que o olho direito do paciente estava com uma inflamação leve oito dias após o início dos sintomas. Na semana seguinte, verificaram inflamação moderada no olho esquerdo, mais intensa do que a do olho direito.  No momento em que detectaram a inflamação no olho esquerdo, a visão deste olho piorou 50% de acordo com a tabela de acuidade visual. “A visão do olho esquerdo já era pior desde criança. A inflamação desse olho rebaixou a visão temporariamente. Mas, após tratamento, voltou ao que ele considerava normal para esse olho. O olho direito ficou com acuidade visual sem alterações”, relata Furtado.

O paciente foi tratado com colírio à base de corticoide, tratamento padrão para os casos de uveítes. “Não existe tratamento específico para inflamação ocular causada pelo Zika, nosso plano foi a tentativa de controle da inflamação, o que conseguimos uma semana após o início do tratamento”. A acuidade visual do olho esquedo também voltou ao normal para os padrões do paciente após esse período.

O pesquisador lembra que a inflamação dentro do olho, na parte anterior, tem como possíveis complicações o desenvolvimento de catarata e o aumento da pressão do olho, que, se ocorrer de maneira prolongada, pode levar ao desenvolvimento de glaucoma. Daí a necessidade de tratamento imediato e adequado.

Veja, a seguir, entrevista com o professor João Marcello Furtado, concedida ao Núcleo de Divulgação Científica da USP:

(Serviço de Comunicação Social da PUSP-RP / Núcleo de Divulgação Científica da USP)


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