Partículas emitidas por impressoras a laser podem causar riscos à saúde do coração

Exposição prolongada a altas concentrações das partículas produzidas pelas impressoras altera funcionamento do órgão, indicam testes em animais

 28/05/2020 - Publicado há 5 anos
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Estudo simulou efeito do contato com impressoras funcionando ininterruptamente durante cinco horas diárias, semelhante às encontradas em pequenas gráficas; Impressoras de uso doméstico não apresentam risco, pois o tempo de exposição e a concentração de partículas são bem menores – Foto: Pixabay

 

As partículas emitidas por impressoras a laser podem comprometer a saúde do coração, revela pesquisa feita nos Estados Unidos, com participação brasileira. Testes em animais mostraram que a inalação constante de altas concentrações dessas partículas altera o funcionamento do órgão e pode aumentar o risco cardíaco. O estudo simulou o efeito do contato com impressoras funcionando ininterruptamente durante cinco horas diárias, semelhante às encontradas em pequenas gráficas. Os pesquisadores ressaltam que as impressoras de uso doméstico não apresentam risco, pois o tempo de exposição e a concentração de partículas são bem menores.

A pesquisa avaliou a função mecânica cardíaca de ratos durante e após a exposição às partículas emitidas pelas impressoras a laser no período de 21 dias. “As partículas emitidas pela impressora analisada no trabalho são compostas por 95% de carbono orgânico, 0,5% de carbono elementar e 2,5% de metais como alumínio, cobre e ferro, entre outros”, afirma a pesquisadora Renata Salatini, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que participou do estudo, coordenado por cientistas das universidades de Harvard e Louisville, nos Estados Unidos.

Os animais foram avaliados durante um período de cinco horas de exposição às partículas e 30 minutos, dois dias, cinco e dez semanas após serem expostos, quando foram obtidos dados do eletrocardiograma e do ventrículo esquerdo. De acordo com a pesquisa, a inalação constante dessas partículas causa alterações no funcionamento do coração.

“Ela compromete a mecânica do ventrículo esquerdo, gera um aumento da pressão interna e pode facilitar arritmias, ou seja, contrações ventriculares prematuras”, relata a pesquisadora ao Jornal da USP. “A maioria dos efeitos observados estão associados individualmente a doenças cardiovasculares, e juntos podem aumentar o risco cardíaco.”

Exposição

Renata explica que o estudo focou em altas concentrações de partículas geradas por impressoras funcionando de forma ininterrupta por um período de cinco horas por dia. “As concentrações utilizadas equivalem, por exemplo, às encontradas em oito locais especializados em cópias, pequenas gráficas, por exemplo, localizadas em Boston, nos Estados Unidos, dado publicado em estudos anteriores do mesmo grupo de pesquisa”, aponta. “Assim, quem trabalha nesses ambientes comerciais está mais exposto, assim como, dentro deste grupo, os que já apresentam alguma condição cardiovascular preexistente estão em maior risco.”

As pessoas que usam impressoras para uso pessoal em suas casas não estão expostas a concentrações tão altas de material particulado decorrentes das impressoras, ressalta a pesquisadora. “Apesar de existir a produção das partículas com a utilização da impressora a laser, as concentrações são muito baixas”, observa.

De acordo com a pesquisa, o tempo de exposição e a alta concentração do material particulado foram o motivo dos efeitos cardiovasculares apresentados. “Portanto, a diminuição deste tempo e das concentrações pode ser positiva para amenizar esses efeitos”, conclui Renata. As análises dos dados do ventrículo esquerdo e do eletrocardiograma dos ratos foram realizadas pela pesquisadora durante um ano de doutorado sanduíche na Universidade de Louisville, financiado pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

As conclusões do estudo são descritas no artigo Inhalation of printer-emitted particles impairs cardiac conduction, hemodynamics, and autonomic regulation and induces arrhythmia and electrical remodeling in rats, publicado no site Biomed Central em 29 de janeiro. O trabalho contou com participação de pesquisadores das Universidades de Louisville, Harvard e West Virginia, do Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (Estados Unidos) e da Universidade de Pequim (China).

Mais informações: e-mail resalatini@gmail.com, com Renata Salatini.


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