Atividade aeróbia promove adaptações musculares desde o início

Pesquisa investigou as adaptações fisiológicas dos músculos frente ao esforço físico em modelos animais

 18/02/2021 - Publicado há 3 anos
A pesquisa buscou compreender como aconteciam as adaptações fisiológicas dos músculos frente ao exercício físico aeróbico – Foto: Orlando Kissner / Fotos Públicas

 

Exercícios aeróbios promovem adaptações celulares benéficas aos músculos desde a primeira sessão. Foi o que revelou um estudo do Laboratório de Fisiologia Celular e Molecular do Exercício, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, em conjunto com a Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford (Estados Unidos).

Doutoranda Vanessa Azevedo Voltarelli, autora da pesquisa

Observando modelos animais submetidos a exercícios aeróbios, a pesquisa buscou compreender como aconteciam as adaptações fisiológicas dos músculos frente ao esforço físico. A autora da pesquisa é a doutoranda Vanessa Azevedo Voltarelli, que realizou o estudo sob orientação da professora Patrícia Chakur Brum, da EEFE. Nos Estados unidos, a supervisão foi do professor Daniel Bernstein.

Os benefícios gerados pela prática de exercícios estão relacionados à capacidade das nossas células se adaptarem às sobrecargas de esforço físico e um dos principais órgãos favorecidos é a musculatura esquelética, que possui funções essenciais como locomoção, controle do metabolismo, reserva energética, dentre outras. Vanessa explica que compreendendo os mecanismos pelos quais os exercícios físicos fazem bem ao organismo, é possível encontrar proteínas ou vias celulares que podem auxiliar no tratamento e prevenção de várias doenças, como as crônicas (obesidade, diabete, hipertensão, por exemplo) e outras que impedem as pessoas de se exercitar, como a distrofia muscular. Outro olhar que remete à importância da pesquisa seria voltado para o esporte de alto rendimento. Os resultados auxiliariam no desenvolvimento de novos protocolos de treinamentos para melhora de desempenho.

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Nesse contexto, dentro das células musculares, as organelas denominadas mitocôndrias desempenham um papel essencial, sendo consideradas as usinas celulares de produção de energia para a musculatura. Porém, os processos celulares e moleculares envolvidos nessa interface entre mitocôndrias e exercício ainda não são completamente compreendidos, relata Vanessa.

Buscando elucidar esses fatores, a pesquisadora observou em seu estudo camundongos que foram submetidos a exercícios físicos aeróbios, em esteira rolante. “Os resultados ajudam a compreender os mecanismos do sistema nervoso simpático e da musculatura esquelética do corpo humano, cujo funcionamento é muito similar ao do animal”, diz.

Ligações de hormônios aos receptores adrenérgicos

A pesquisadora explica que, durante o exercício físico aeróbio, o organismo apresenta aumento significativo da atividade nervosa simpática, com liberação dos hormônios adrenalina e noradrenalina, também conhecidos como catecolaminas.

A professora Patrícia Chakur Brum é orientadora da pesquisa feita no Laboratório de Fisiologia Celular e Molecular do Exercício, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP – Foto: Arquivo pessoal do pesquisador

Segundo a autora do estudo, parte das adaptações mitocondriais ao exercício pode ser resultante da ligação desses hormônios aos seus receptores celulares presentes na musculatura esquelética, denominados receptores β2-adrenérgicos (β2-AR).

Os resultados do estudo indicam que as catecolaminas liberadas durante o exercício se ligam aos seus receptores nas células do músculo esquelético e desencadeiam o aumento da função das mitocôndrias. Isso leva ao aprimoramento do motor energético por meio da produção de ATPs ( a principal molécula transportadora de energia nos seres vivos), responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas.

Segundo a orientadora da pesquisa, a professora Patrícia Chakur Brum, esses resultados  são inovadores. Até então, se pensava apenas que treinamentos feitos mais a longo prazo ativavam esses receptores. No entanto os dados da pesquisa mostram que as sinalizações dos receptores adrenérgicos controlam o metabolismo das células, ou seja, das usinas de mitocôndrias que produzem as ATps.

Na opinião de Patrícia, a descoberta de novos mecanismos associados aos benefícios dos exercícios físicos é muito importante, principalmente nessa pandemia, período em que as pessoas diminuíram bastante os níveis de atividade física, relata. O aprimoramento no mecanismo celular pode ser observado desde a primeira sessão de exercício físico. O estudo mostra que há um efeito direto do sistema nervoso simpático aumentado durante a sessão de exercício sobre a eficiência do funcionamento mitocondrial no músculo esquelético.

Ilustração: enviada pelo pesquisador

Estímulo ao exercício físico

Segundo Vanessa, a descoberta de novos mecanismos associados aos benefícios do exercício físico pode estimular governos a aumentar a implementação de políticas públicas de promoção da atividade física. Pode também convencer um maior número de pessoas a se envolver em programas de exercícios físicos, uma vez que boa parte da população mundial ainda é considerada sedentária, explica.

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O trabalho obteve financiamento do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq). O artigo completo, intitulado β2-Adrenergic Signaling Modulates Mitochondrial Function and Morphology in Skeletal Muscle in Response to Aerobic Exercise, foi publicado no periódico Cells MDPI.

Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE

Ouça a entrevista da pesquisadora Vanessa Azevedo Voltarelli ao Jornal da USP no Ar:

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Mais informações:
e-mails:
pcbrum@usp.br, com Patrícia Charkur Brum;
vavoltarelli@gmail.com, com Vanessa Azevedo Volgarelli


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