Espécies de ratos-do-brejo esclarecem conexões entre áreas alagadas da América do Sul

O estudo reconheceu sete espécies dos roedores, uma a mais do que era conhecido pela ciência, provenientes do Nordeste brasileiro em áreas úmidas na Floresta Atlântica e Caatinga

 01/12/2020 - Publicado há 3 anos
Estudo desenvolvido na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, em Piracicaba, estabelece nova visão sobre origem e evolução desse grupo de roedores – Foto: Claudemir Pelicice Rodas – Flickr

Uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, estabeleceu novos limites das espécies de ratos-do-brejo e de sua distribuição geográfica. O estudo reconheceu sete espécies dos roedores, uma a mais do que era conhecido pela ciência, provenientes do Nordeste brasileiro em áreas úmidas na Floresta Atlântica e Caatinga.  O trabalho trouxe ainda uma nova visão que sugere a existência de distintas conexões temporais entre as áreas úmidas dos biomas florestais da América do Sul. Segundo os pesquisadores, o reconhecimento dessas espécies e de suas distribuições geográficas tem implicações para a conservação delas e de seus biomas.

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A pesquisa foi realizada pela pós-doutoranda Joyce Rodrigues do Prado e pelo professor Alexandre Reis Percequillo, ambos do Departamento de Ciências Biológicas da Esalq e do Programa de Pós-Graduação Interunidades (Esalq/Cena), junto à professora Lacey Knowles, da University of Michigan.

Vulneráveis

Os ratos-do-brejo, do gênero Holochilus, são amplamente distribuídos pelos biomas da América do Sul e exibem hábito de vida semi-aquático, ocupando áreas abertas das planícies tropicais. Segundo Joyce, a especificidade de habitat e hábito faz com que esses roedores se tornem vulneráveis às alterações na paisagem devido às mudanças climáticas e pela ação antrópica. “Essas ações estão transformando as paisagens ocupadas pelos roedores, principalmente devido à expansão da agropecuária e o aumento considerável dos incêndios em uma das nossas maiores planícies alagadas, o Pantanal”, disse.

A pesquisadora ainda explicou que o trabalho sugere que estas espécies de rato-do-brejo apresentam histórias independentes para cada um dos biomas sul-americanos e, com a atual crise da biodiversidade e as taxas de extinção sem precedentes, a eliminação de uma única espécie representará a perda de importante parte de histórias evolutivas únicas.

“A América do Sul abriga uma fauna única e diversa de mamíferos, mas a origem e a história destes animais nos biomas do continente ainda são pouco conhecidas e seu estado de conservação merece muita atenção face às drásticas mudanças ambientais das últimas décadas”, disse a pós-doutoranda.

Genômica

O estudo foi o primeiro no País a utilizar métodos genômicos para delimitar espécies de roedores e descrever sua diversidade. Os pesquisadores se basearam no exame de espécimes preservados em diversos museus de história natural e coleções científicas do Brasil, EUA e Europa. A maioria dos espécimes da nova espécie no Nordeste é resultante de extensos trabalhos de campo realizados pelo Serviço Nacional de Peste (SNP), depositados no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN) durante a década de 1950.

“O incêndio que devastou esta instituição nos privou de importantes e insubstituíveis exibições e coleções. Gostaríamos de destacar que os museus e coleções brasileiras são testemunhos de nossa história e fornecem um acesso crítico em nossa busca pelo conhecimento de nossa biodiversidade”, finaliza a pesquisadora.

O trabalho recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Da Assessoria de Comunicação da Esalq 

Mais informações: e-mail comunica-esalq@usp.br, na Assessoria de Comunicação da Esalq


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