Desafio de vacinar contra covid-19 começa com 2,8 milhões de brasileiros

Campanha de vacinação precisa superar escassez inicial de doses, problemas administrativos do SUS e desinformação. Instituto Butantan e Fiocruz aguardam doses prontas e também o Ingrediente Ativo Farmacêutico (IFA), que permitirá a produção das vacinas no Brasil.

 18/01/2021 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 22/07/2024 às 12:19
Foto: Instituto Butantã/Divulgação
Apesar de o Brasil ter experiência de mais de 40 anos em campanhas nacionais de vacinação, professor aponta alguns desafios a serem superados no caso da covid-19 – Foto: Marcello Casal Jr/AgenciaBrasil

Fabiana Mariz e Júlio Bernardes

A campanha nacional de vacinação contra a covid-19 vai ser iniciada ainda em janeiro com 6 milhões de doses da vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Intituto Butantan. De acordo com o plano de vacinação divulgado pelo Ministério da Saúde, a aplicação das duas doses da vacina deve ser feita em cerca de 2,8 milhões de pessoas, priorizando trabalhadores da saúde que atendem casos de covid, pessoas idosas e com deficiência institucionalizadas (em Instituição de Longa Permanência para Idosos, antigamente chamadas de asilos e casas de repouso) e população indígena.

“Devido ao número reduzido de doses disponível, optou-se por estabelecer prioridades entre os grupos que serão vacinados inicialmente, de profissionais da saúde, idosos e indígenas”, comenta o professor Expedito Luna, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). “Por exemplo, o próprio Ministério da Saúde estima que haja cerca de 6 milhões de profissionais de saúde no País e, como a vacina requer duas aplicações, só para esse grupo seriam necessárias 12 milhões de doses. Assim, decidiu-se vacinar primeiro os profissionais envolvidos diretamente no atendimento dos casos de covid-19.”

Expedito Luna, professor da FMUSP – Foto: Reprodução

De acordo com o professor, o plano não se aprofundou nas ações de vigilância que devem ser feitas para monitorar efeitos adversos. “Não se trata apenas de fazer a notificação de eventos ocorridos até 30 dias após a aplicação da vacina”, destaca. “É necessário fazer uma investigação desses efeitos para saber se há relação com a vacina, como no caso de idosos com doenças preexistentes, uma análise que não é apenas clínica, mas também epidemiológica, é preciso que Estados e municípios tenham condições de fazer essa verificação.”

Outro aspecto pouco detalhado do plano, de acordo com Luna, é o registro das doses que serão aplicadas. “É preciso saber quem foi imunizado, quando e qual vacina recebeu, até porque no momento a troca de tipos de vacina de uma dose para outra não é recomenda”, aponta. “O registro também é importante para que não haja casos de pessoas tomando vacina mais de uma vez, como aconteceu com a febre amarela em 2018.”

Apesar de o Brasil ter experiência de mais de 40 anos em campanhas nacionais de vacinação, o professor aponta alguns desafios a serem superados no caso da covid-19. “A cobertura vacinal caiu nos últimos cinco anos, principalmente devido a problemas administrativos do SUS, como falta de profissionais e deficiência na distribuição e armazenamento. Mesmo o funcionamento das Unidades Básicas de Saúde em horário comercial limita seu acesso”, afirma. “Com a covid-19, todos esses problemas se somam à desinformação sobre as vacinas. Isso reforça a exigência de um esquema de divulgação da campanha na mídia, o que também não é detalhado no plano do Ministério da Saúde.”

Coronavac: 46 milhões de doses até abril

Até abril, o Butantan espera entregar ao Ministério da Saúde 46 milhões de doses da vacina – Foto: Shutterstock

Em entrevista coletiva realizada nesta segunda (18) no Palácio dos Bandeirantes, o governador João Doria informou que o Instituto Butantan pediu à Anvisa o registro emergencial para um segundo lote de 4,8 milhões de novas doses da vacina contra o coronavírus.

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que não será necessário requisitar outro pedido a cada novo lote. “Uma vez aprovada, a produção do Butantan será feita de acordo com essa autorização, podendo chegar a 35 milhões de doses.”

O contrato do Instituto Butantan com a chinesa Sinovac prevê a entrega de 8,7 milhões de doses até 31 de janeiro. “Faltam 2,7 milhões de doses, que poderão ser produzidas quando a nova remessa de insumos chegar ao Brasil”, afirma Covas. O IFA – Ingrediente Farmacêutico Ativo, que é o princípio ativo da Coronavac, depende do aval do governo chinês para ser liberado.

 

Oxford/AstraZeneca

Caso não ocorra a chegada do Ingrediente Farmacêutico Ativo, o contrato com a AstraZeneca, que é a fornecedora, prevê que a empresa terá que fornecer à Fiocruz doses prontas. Na imagem, Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), unidade da Fiocruz responsável pela produção da vacina – Foto: Divulgação

Dois milhões de doses do imunizante desenvolvido pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford deveriam chegar ao Brasil em 16 de janeiro, o que não ocorreu. O governo federal destacou um avião para buscar unidades na Índia. O lote é parte da importação solicitada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ao laboratório Serum.

A negativa oficial da Índia ao Itamaraty aconteceu depois de vários desencontros entre o planejamento dos indianos e o que foi anunciado pelo governo federal. De acordo com o jornal indiano The Times of India, a prioridade do governo indiano é garantir, primeiro, a sua própria campanha de vacinação.

Até o fechamento desta reportagem, não havia nenhuma previsão de data para a chegada das vacinas.

Além dos 2 milhões de doses prontas, a Fiocruz também aguarda com a linha de produção pronta o Ingrediente Farmacêutico Ativo, previsto para chegar da China até o dia 25 de janeiro. O cronograma da Fiocruz estabelece a entrega de 1 milhão de doses até 15 de fevereiro, 50 milhões de doses até abril e 100,4 milhões de doses até julho de 2021.

Caso não ocorra a chegada do IFA, o contrato com a AstraZeneca, que é a fornecedora, prevê que a empresa terá que fornecer à Fiocruz doses prontas.

Já no segundo semestre deste ano, não será mais necessária a importação do IFA, que passará a ser produzido também na Fiocruz, após conclusão da transferência de tecnologia. De agosto a dezembro, serão mais 110 milhões de doses de vacinas produzidas inteiramente na instituição, garantindo autonomia para o País e continuidade da vacinação.

Com informações da Fiocruz e do Instituto Butantan


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