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A rua é um local público por onde transita a população das cidades e, como tal, espaço livre essencial para a vida urbana, sendo determinado pela maneira como os lotes são ocupados e utilizados, delimitando a paisagem. Porém, a relação entre os espaços públicos e privados tem sofrido com interferências que grandes condomínios horizontais fechados, com seus muros altos, estão provocando no desenho urbano.
Em artigo na revista Paisagem e ambiente – Ensaios, Karin Schwabe Meneguetti e Gislaine Elizete Beloto questionam o papel de espaços privados como organizações condominiais, shoppings e os chamados “condomínios horizontais fechados” nas ruas. Estes, na visão das autoras, se tornam espaços marginalizados e utilizados exclusivamente para circulação, principalmente de veículos.
As pesquisadoras apontam os benefícios da “diversidade de uso e ocupação ao longo das ruas, no intuito de suavizar”, nas palavras delas, a “presença inexorável” dos condomínios horizontais fechados. Tal diversidade é uma alternativa para o convívio equilibrado entre os condomínios e as ruas externas a eles e, quando presente, traz “ganho considerável na qualidade da paisagem da via pública“.
Como exemplo de experiência com resultados positivos, as autoras apresentam o caso do loteamento denominado Jardim Imperial, na cidade de Maringá (PR). Lá, a solução encontrada para a questão dos muros postados de frente para as ruas do entorno foi uma sequência de lotes abertos junto a esses muros, que desse modo ficam escondidos, preservando-se a vida da rua.
Visando a uma melhor compreensão da paisagem urbana, as autoras adotam uma análise morfológica que classifica os condomínios inseridos na malha urbana de Maringá em três tipos. O Tipo 1 comporta “condomínios com áreas reduzidas e dispersos na malha urbana“; o Tipo 2 se estabelece “em áreas de fundo de vale e configura-se pela negação das áreas de proteção ambiental“; e o Tipo 3 comporta paisagens formadas pelos lotes externos, próximos aos condomínios fechados, com os muros completamente ocultos e a “vida da rua mantida”, que é o modelo mais adequado quando se quer preservar a harmonia entre espaço público e população.
Para uma melhor qualidade de arquitetura da paisagem, Meneguetti e Beloto enfatizam a urgência de “ações de planejamento”, “de diálogos constantes entre o setor público, o setor privado e a sociedade“, no sentido de repensar-se a aprovação dos grandes empreendimentos imobiliários e priorizar tanto a qualidade visual quanto a sensação de segurança que o espaço público deve proporcionar.
Karin Schwabe Meneguetti é arquiteta pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e professora associada da graduação e da pós-graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Gislaine Elizete Beloto é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e professora adjunta da graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
MENEGUETTI, Karin Schwabe; BELOTO, Gislaine Elizete. Entre a rua e o muro: A construção de uma interface nos condomínios horizontais fechados. Paisagem e Ambiente – Ensaios, São Paulo, n. 37, p. 35-49, 2016. ISSN: 2359-5361. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/paam/issue/view/7991/showToc. Acesso em: 19 ago. 2016.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP