Qual o sentido filosófico de igualdade na educação que se quer libertadora?

Artigo na revista “Educação e Pesquisa” discute o conceito e o valor da igualdade ao se pensar em uma educação emancipadora

 03/06/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 04/06/2019 as 15:11

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Para Paulo Freire, educadores e educadoras devem ser colocar em pé de igualdade e saber escutar educandos e educandas – Foto: yohoprashant via Pixabay

O que significa igualdade na relação entre quem se dispõe a ensinar e quem se dispõe a aprender? A questão é discutida em artigo publicado na revista Educação e Pesquisa. A partir da frase do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), “Ninguém é superior a ninguém”, o texto apresenta um enfoque filosófico da palavra “igualdade”, exposta pelo educador como “condição de uma educação libertadora para a qual aceitar e respeitar a diferença”. O conceito de igualdade de Freire é comparado com o do pensador francês Joseph Jacotot (1770-1840), que enfatizava “a igualdade intelectual dos seres humanos como princípio de uma educação emancipadora, do povo”.

De acordo com o artigo, Freire ressaltava “a importância de educadores e educadoras se colocarem em pé de igualdade e saber escutar educandos e educandas” com respeito, tolerância, disponibilidade à mudança e, sobretudo, humildade, “como virtude pedagógica”, o que seria uma exigência para uma educação emancipadora. Freire, cujo conceito de igualdade está implícito em sua afirmação “ninguém é superior a ninguém”, entendia a igualdade como princípio, como natureza, como realidade e como existência.

Mais famoso educador brasileiro entendia a igualdade como emancipação social e como conscientização – Foto: Premier Companies via Pixabay

Sobre a questão da emancipação na educação, o texto apresenta o conceito de Jacotot, que no século 19 defendeu “a igualdade intelectual dos seres humanos como princípio de uma educação emancipadora, do povo”. Para o pensador francês, a emancipação intelectual e individual é baseada no princípio da igualdade das inteligências. Freire, no entanto, entende a igualdade como emancipação social e como conscientização.

Nesse contexto, o artigo afirma que o filósofo francês Jacques Rancière (1940), no livro O mestre ignorante (publicado em 2004), enfatizou que Freire e Jacotot estavam preocupados com o compromisso político, com a “emancipação/libertação do povo”, a favor de uma pedagogia “a favor dos excluídos e excluídas”. No que se refere às diferenças, Jacotot afirma que a igualdade é impossível de ser institucionalizada ou propagada como forma de emancipação social, ao contrário de Freire, que afirma ser importante não esquecer da igualdade como condição social necessária da diferença.

Saber libertador precisa refletir a realidade dos alunos, com respeito às experiências diferentes de cada um – Foto: mcmurryjulie via Pixabay

A igualdade precisa estar na vida, dentro e fora da escola, pois o educador ensina, mas também aprende com os alunos. O artigo destaca que a igualdade é parte de “uma prática educacional como seu princípio político é uma condição para que as diferenças sejam enriquecedoras e não aniquiladoras”, o que determina a verdadeira contribuição da educação.

Segundo o autor do artigo, Freire propôs a aplicação de um método de alfabetização cujo objetivo principal é o de estimular os(as) alunos(as) a refletirem sobre a realidade vivida. O educador defendia um “saber libertador” que reflita a realidade do(a) aluno(a), no respeito às experiências e realidades diferentes de cada um.

Artigo
KOHAN, W. Paulo Freire e o valor da igualdade em educação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 45, n. e201600, p. 1-19, 2019. ISSN: 10.1590. DOI: https://doi.org/10.1590/s1678-4634201945201600. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ep/article/view/157832. Acesso em: 18 maio 2019.

Contato
Walter Omar Kohan – Professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e cientista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
wokohan@gmail.com

Margareth Artur / Portal de Revistas USP

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