Plataforma virtual compartilhada vai ajudar no ensino de italiano

Projeto de pesquisador da USP possibilita a troca de atividades de ensino feitas com material didático virtual e livre

 06/12/2018 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 26/04/2019 as 13:33
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A ideia do projeto é usar as atividades de ensino de italiano de natureza virtual e livre nos Centros de Estudo de Línguas (CEL), projeto da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo que oferece cursos gratuitos de idiomas, fora da grade curricular obrigatória, para alunos matriculados nos ensinos fundamental, médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede pública. Material também estará disponível para o público amplo – Foto: Rômulo Souza

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O uso de materiais didáticos virtuais de uso livre pode ser uma boa alternativa para o planejamento de aulas dos professores de italiano da rede pública, mostra estudo de pós-doutorado do pesquisador Rômulo Francisco de Souza. Agora, ele está montando um repositório virtual onde professores desse idioma poderão compartilhar atividades produzidas a partir desse tipo de material.

A ideia é que esse repositório de atividades seja utilizado nas aulas de italiano do Centros de Estudo de Línguas (CEL), projeto da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo que oferece cursos gratuitos de idiomas, fora da grade curricular obrigatória, para alunos matriculados nos ensinos fundamental, médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede pública. Atualmente há mais de 200 unidades do CEL, sediados em escolas públicas de todo o Estado de São Paulo, e que oferecem cursos de inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, mandarim e japonês, conforme a demanda de cada região. Há italiano em 23 deles, atingindo cerca de 1.200 alunos, na faixa de 12 a 16 anos. O curso é oferecido em seis níveis (três anos).

“Com a campanha para compartilhamento de atividades de ensino em italiano, nós esperamos formar um conjunto de materiais didáticos para ser utilizado no CEL e, com tempo, ter o suficiente para apoiar as 480 horas do curso do italiano. A plataforma também estará aberta ao público amplo”, informa o pesquisador.

Professores interessados podem contribuir com o projeto e enviar atividades de ensino de italiano por meio deste link ou para o e-mail do pesquisador romulosouza@usp.br.

Rômulo Souza explica que, de uma forma geral, materiais didáticos virtuais de uso livre são aqueles que, enquanto bens culturais imateriais, circulam com menos entraves, além de serem uma alternativa à pirataria. “São essencialmente reutilizáveis e personalizáveis. O uso de licenças flexíveis e abertas (em oposição a licenças restritivas, como o copyright), em sua elaboração, é um dos principais fatores que lhes dá essas características.”

Durante o treinamento com os professores, eles aprenderam como desenvolver atividades de ensino de italiano a partir de materiais didáticos virtuais de uso livre – Foto: Rômulo Souza

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De acordo com o pesquisador, oficialmente, o Estado não tem uma política de uso de material didático para as aulas de italiano no CEL. Eventualmente, as escolas recebem verbas, o que torna possível a adoção de livros de prateleira; em outras, o professor produz o material ou ainda há doações de livros do governo italiano, mas isso tudo não é uma constante. Assim, a plataforma virtual atenderia a essa demanda.

Outro benefício da pesquisa é auxiliar na formação continuada dos docentes dos Centros de Estudo de Línguas. Nos dias 18 e 19 de setembro de 2018, Rômulo Souza ministrou um curso para professores de italiano dos CEL com o intuito de ensiná-los a desenvolver materiais didáticos virtuais de uso livre, considerando as realidades que vivenciam. “Essa orientação técnica visa a auxiliar os professores no desenvolvimento das competências necessárias para produzir materiais localmente, considerando as demandas das respectivas regiões e escolas em que atuam”, explica.

 

De forma geral, materiais didáticos virtuais de uso livre são aqueles que, enquanto bens culturais imateriais, circulam com menos entraves, além de serem uma alternativa à pirataria e serem essencialmente reutilizáveis e personalizáveis – Foto: Rômulo Souza

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Demanda

A proposta de Rômulo Souza em utilizar material didático virtual e livre foi baseada em estudos de outros dois pesquisadores da USP, Aline Peleteiro e Adalberto Pinheiro, que pesquisaram o CEL, levantando as características e as tendências do Centro de Línguas no que se refere ao material didático utilizado.

Entre as características do CEL, os pesquisadores citam a presença de turmas multisseriadas (alunos de várias séries na mesma sala), a impossibilidade de compra de material didático impresso de língua italiana, seja pelo alto custo ou por questões legais relativas às políticas de compra e utilização na rede pública; e dificuldade de encontrar material didático adequado ao público-alvo, em sua maioria adolescentes e crianças.

Já nas tendências apontadas pelos dois pesquisadores estão: a distribuição gratuita aos alunos e professores; o veto à comercialização; a disponibilização de versão on-line e a necessidade de adaptação constante do material pela equipe pedagógica do CEL, respeitando as particularidades regionais, além da importância da participação ativa dos professores em sua elaboração como elemento-chave para sucesso do empreendimento, uma vez que eles conhecem o público-alvo e suas reais necessidades.

“Os materiais didáticos virtuais e livres conseguem atender a essas demandas”, destaca Rômulo Souza. Segundos ele, esses materiais são personalizados e personalizáveis. Personalizados porque podem ser adaptados para as necessidades de cada região (idades, cultura, perfil da turma, classe social, etc.) e personalizáveis pois são produzidos pensando na possibilidade de serem modificados, além de terem licenças flexíveis para uso de áudio e textos.

Exemplo de atividade desenvolvida com material didático virtual livre – Foto: Rômulo Souza

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Problemas e soluções

Durante o trabalho de orientação técnica, Rômulo Souza pôde perceber algumas dificuldades com o tema relatadas pelos professores, mas que podem se tornar uma referência para a elaboração de programas de formação continuada. São elas:

Dificuldade na utilização de programas de autoria (onde são produzidos os materiais didáticos livres e virtuais). Sobre isso, o pesquisador aponta que há programas semelhantes ao Word (Windows), e que poderiam ser oferecidos cursos para os professores produzirem material com esses programas de autoria.

Exemplos de atividades desenvolvidas com professores de italiano utilizando materiais didáticos virtuais de uso livre – Foto: Rômulo Souza

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Também foi observada dificuldade em identificar insumos adequados ao material didático. Ele cita como exemplo um professor que queira usar em aula uma música da Laura Pausini (cantora e compositora italiana). Em aula isso seria possível, mas no repositório do material não, pois, devido ao copyright, seria necessária autorização da artista.

Outro ponto foi uma preocupação com o gerenciamento do processo de design do material didático. Para o pesquisador, há várias soluções possíveis, entre elas a criação de comunidades. Ele conta que muitos professores, por ministrarem muitas aulas, acreditam que não têm tempo de produzir material. Aqui, ele considera que há um erro de interpretação, pois produzir material didático virtual e livre não é começar da estaca zero, pois os professores já fazem isso quando produzem material complementar. “O repositório virtual é uma resposta a isso, é criar uma comunidade de ensino. E o professor pode ter um problema que seja comum aos outros professores e, com a comunidade, pode compartilhar isso e criar soluções em conjunto”, diz.

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Também foi observada uma insegurança com relação à estrutura e aos recursos tecnológicos disponíveis nas escolas, os quais podem ser inadequados ou ausentes. Segundo o pesquisador, esse é um problema real apresentado pelos professores. Porém, ele acredita que tudo tem uma solução. “Muitas vezes é o caso de adequar os recursos, ou cobrar do poder público. Cada professor, comunidade ou diretoria de CEL pode pensar em como resolver. Depois, pode virar uma referência”, sugere.

O trabalho foi desenvolvido para o pós-doutorado do pesquisador, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, sob a supervisão da professora Fernanda Landucci Ortale, do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas. A pesquisa foi realizada com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Um artigo sobre a pesquisa Material Didático Virtual Livre para o ensino e a aprendizagem de italiano no âmbito dos Centros de Estudos de Línguas do estado de São Paulo: caminhos da pedagogia pós-método foi publicado na Revista Trabalho em Linguística Aplicada e está disponível neste link.

Mais informações: e-mail romulosouza@usp.br. A página para compartilhar atividades de ensino em italiano produzidas com material de uso virtual e livre é:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd1YVnMedE4CBEZHRiyR2k6HxaHwxb870PjsULE5oB88f1Upw/viewform


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