A pandemia enfrentada atualmente no mundo nos revela vários tipos de realidade. Isso não seria diferente no Brasil, em que a desigualdade social fica mais evidenciada pela questão da ocupação dos espaços urbanos e pela falta de saneamento básico em alguns locais, o que prejudica os processos de cuidados com a saúde, tais como lavar a mão etc. A impossibilidade de fazer ações simples como essa, mas tão necessárias em nosso momento atual, expõe dois lados de uma mesma sociedade: um desenvolvido e outro em desenvolvimento.
Há uma tese de doutorado que trata justamente dessa questão da desigualdade, mostrando indicadores de urbanidade e de justiça espacial da cidade de São Paulo. “A referência principal da minha tese é uma referência da geografia humana, o geógrafo francês Jacques Lévy, mas também os teóricos críticos da cidade modernista e rodoviarista dos anos 60, além do material da ONU-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos)”, comenta Katia Canova, arquiteta, urbanista e doutora em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao Jornal da USP no Ar.
Relacionando esses três modelos, Katia comenta que urbanidade é a qualidade de vivência urbana e que esse conceito une três características: materialidade (paisagem), relações sociais que ela possibilita e a reação de sensibilidade que os dois primeiros itens causam nos habitantes em relação àquele espaço. O espaço público é o local que une todos esses atributos, através da observação e vivência, e foi como a arquiteta conseguiu criar indicadores que pudessem responder as questões em torno da urbanidade de São Paulo.
A urbanista conseguiu, através de 17 indicadores, separar o município em cinco faixas por desenvolvimento, da pior para a melhor situação. “Na nossa escala, partindo do azul, passando pelo verde, amarelo, laranja e chegando no vermelho, a tradução do mapa revela que onde tem azul quase todos os indicadores, ou a maioria, apontam uma situação boa de urbanidade e de justiça espacial. As situações entre verde, amarelo e laranja são intermediárias, ou seja, os indicadores mostram coisas positivas e outras medianas. Chegando no outro extremo, os territórios em vermelho são aqueles que todos, ou a grande maioria dos indicadores, apontam situações consideradas piores”, explica Katia.
Há uma faixa importante da cidade que tem uma urbanidade que a pesquisadora chama de média, e que pode ser encontrada nas áreas em verde, amarelo e laranja. Segundo Katia, poucos investimentos já fariam enorme diferença nesses bairros, principalmente ao atrair mais trabalhadores e diversificar as atividades, evitando o movimento que ocorre quando pessoas partem dessas áreas intermediárias para trabalhar nos bairros com melhor índice.
A tese pode ser acessada através deste link (Tese_KatiaCanova_extrato).
Ouça a entrevista completa no player acima.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.