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As ciclovias, devido à sua recente expansão em São Paulo, vêm sendo um tema muito debatido por urbanistas, economistas e especialistas de muitas áreas. O pesquisador Fábio Tieppo, do Núcleo de Economia Regional e Urbana da USP (Nereus), desenvolveu um estudo que trata da relação entre o preço dos imóveis de São Paulo e a expansão das vias para bicicleta pelo município. Ele apresentou os resultados em palestra realizada no Nereus, no último dia 8 de maio.
No século 21, os investimentos em ciclovias vêm aumentando com o passar dos anos, diz o pesquisador, tanto por questões urbanísticas quanto ambientais, pois o uso das bicicletas no transporte diminui a quantidade de carros nas ruas e, consequentemente, a emissão de gases poluentes. Para o aumento real do uso da bicicleta como transporte pelos cidadãos, o pesquisador apontou que não só o investimento em vias e infraestrutura para o transporte cicloviário é suficiente. É necessário que haja desestímulos ao uso dos automóveis, além dos incentivos à bicicleta, para que ocorra um aumento significativo.
Tieppo destacou também os benefícios e problemas trazidos pelo aumento do transporte por meio de bicicletas no meio urbano. Como prejuízos, citou o estreitamento de vias, o que pode criar ou aumentar congestionamentos de carros, e a redução de vagas, que pode reduzir o comércio em ruas que receberem ciclovias. Os benefícios apontados são o custo mais baixo da mobilidade; incentivo à saúde, devido à atividade física; segurança, pela redução de acidentes; e qualidade de vida, trazida pela recreação, diminuição da poluição, etc.
A apresentação trouxe dados da quilometragem de vias para bicicleta em grandes cidades desenvolvidas ao redor do globo. Nova York conta com 392 quilômetros (km) de ciclovias construídas e mais 900 km planejados, e Chicago possui 160 km e planeja a construção de mais 800 km.
O pesquisador deu exemplos de cidades na Europa que tiveram resultados muito positivos com os investimentos no transporte cicloviário. A Holanda, país que conta com a maior porcentagem de viagens realizadas em bicicleta, registrou uma diminuição muito grande no número de acidentes de trânsito fatais, quase inversamente proporcional ao crescimento das viagens de bicicleta.
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Pesquisas realizadas em São Paulo no ano de 2007 pela OD (Origem/Destino) – antes do incentivo às ciclovias, iniciado no ano de 2013 com o prefeito Fernando Haddad -, mostram que apenas 0,8% de todas as viagens em São Paulo eram feitas em bicicleta. Em 2014, juntamente ao aumento da malha cicloviária do município, o número de ciclistas cresceu 50%.
O aumento do número de pessoas usando a bicicleta e também da constância do uso, junto do crescente número de vias para bicicleta, teve impactos no mercado imobiliário. A pesquisa de Fábio Tieppo analisou essa influência.
Inicialmente, foi necessária a divisão dos tipos de ciclovia presentes na cidade, observando-se grande heterogeneidade. Após a análise, Fábio pôde classificá-las em seis diferentes tipos:
Contando com o banco de dados fornecido pelo site de busca de imóveis Zap, o dataZap, Fábio Tieppo mapeou os imóveis à venda ou para aluguel da cidade de São Paulo, dividindo o município em 350 zonas, das quais extraiu dados necessários para as conclusões. Para o estudo, Fábio levou em conta alguns fatores, como quantidade de quartos, banheiros, garagens, preço do condomínio, quantidade de suítes e idade do imóvel. Além das características do imóvel em si, o pesquisador também considerou os arredores, levando em conta saúde, segurança, transporte, educação e cultura.
Os resultados revelaram que os imóveis mais próximos das vias para bicicleta apresentavam uma valorização muito alta, e que, conforme aumentava a distância entre imóvel e ciclovia, a valorização caía rapidamente. Esse resultado é bastante importante para uma análise urbanística e econômica do fenômeno da expansão das ciclovias e mostra que ele envolve não só trânsito, mas também qualidade de vida, ecologia e economia.
Dado Nogueira/Assessoria de Imprensa FEA/USP