“É difícil.” “Não tenho dinheiro.” “Não tenho capacidade.” “Prefiro fazer curso técnico.” Essas afirmações são de estudantes de duas escolas públicas de São Carlos e mostram a percepção que eles têm da Universidade. Realizada pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, a pesquisa demonstra que existe uma separação entre a universidade pública e o aluno do ensino básico gratuito.
Cursos são desconhecidos
A pesquisa indicou que a maioria dos estudantes da Álvaro Guião (66%) e da Etec (82%) pretende fazer faculdade ao terminar o ensino médio. O estudo buscou, ainda, entender os motivos da falta de interesse daqueles que não almejam ir para o ensino superior. Foi então que surgiram as respostas: “É difícil”; “Não tenho dinheiro”; “Não tenho capacidade”; “Prefiro fazer curso técnico”. De acordo com Gabriela, essas afirmações demonstram como a falta de informação ainda é muito presente nas escolas da rede pública.
Outro objetivo da pesquisa é identificar quanto os alunos da rede pública conhecem sobre a Universidade – em especial sobre o ICMC e o curso de Estatística e o de Matemática Aplicada e Computação Científica. Entre as oito graduações oferecidas pelo instituto, o trabalho analisou essas duas carreiras, que são as mais novas e com a menor relação candidato/vaga. Foi identificado que quase todos os alunos conhecem a USP em São Carlos, mas poucos sabem sobre os dois cursos em questão.
Poucos também sabem que um estatístico pode atuar nas áreas de marketing, finanças, saúde e comunicação, por exemplo, transformando dados brutos em informações importantes para esses setores. Com o objetivo de possibilitar aos futuros universitários saber o que é ensinado em cada curso de graduação oferecido pelo ICMC e onde poderão trabalhar depois de formados, o instituto disponibiliza o Guia Faça Parte do Futuro.
O guia foi um dos materiais utilizados pelas pesquisadoras para levar informações a respeito do ICMC e da USP aos estudantes. Como parte do projeto foram realizadas, ainda, palestras e rodas de discussão com os alunos. “Nós levamos o professor Mário de Castro e ele falou um pouco sobre o que um estatístico faz, mostramos alguns vídeos do ICMC e falamos sobre as bolsas. Quando fomos apresentar os resultados da pesquisa já levamos uma divulgação do ICMC para lá”, explica Gabriela. O projeto da estudante foi reconhecido como um dos melhores trabalhos apresentados durante a VII Semana da Estatística, que aconteceu de 6 a 9 de junho, em São Carlos.
É preciso compreender as fontes de motivação e informação
“Como somos uma escola central, acreditamos que os alunos queiram estudar na USP ou pelo menos saibam o que tem lá. Eu estou há 12 anos na Álvaro Guião e me surpreendi com os resultados da pesquisa”, diz a professora de matemática da escola, Maria Laura Trindade. Segundo ela, o projeto foi muito benéfico para os estudantes: “Isso é muito importante, porque a universidade parece uma coisa muito distante, eles acham que não vão conseguir passar no vestibular.”
Ela acredita que o conteúdo dessa pesquisa vai ajudar a escola a entender melhor os estudantes: “Podemos identificar o perfil dos alunos e trabalhar no interesse deles pela Universidade”. De acordo com a professora Cynthia, orientadora do projeto, entre os candidatos aprovados no vestibular, o número de jovens originários de São Carlos é bastante reduzido, comparado à quantidade de vagas oferecidas. Sendo assim, é importante despertar vocações e descobrir talentos entre os estudantes da região.
A intenção de Cynthia é dar continuidade à análise e coleta de dados com alunos de ensino médio, pré-vestibulandos e ingressantes no ICMC: “Pretendemos realizar uma série de pesquisas para entendermos desde como e onde o jovem busca informação, até o que os motiva a escolher uma determinada carreira”. Os dados coletados servirão para subsidiar possíveis alterações nas grades curriculares dos cursos e contribuir com a divulgação das áreas de saber do ICMC. “Por meio da identificação das necessidades desse público, o instituto será capaz de planejar ações estratégicas de marketing e comunicação para suprir essas demandas”, conclui.
Por Alexandre Wolf / Assessoria de Comunicação do ICMC, com edição do Jornal da USP