Monitorar qualidade do sono é vital para melhorar desempenho de atletas

Estudo analisa qualidade do sono de atletas, componente essencial para recuperação física e mental

 23/01/2019 - Publicado há 5 anos
Por
Acompanhamento visa detectar hábitos e comportamentos de atletas para entender como funciona o sono de cada um e o que pode ser feito para melhorá-lo – Foto: Bill Evans / Força Aérea dos EUA via USA Gov

.

.

Eestudo conduzido por pesquisadores da USP e da Load Control, startup com origem na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, identifica os parâmetros para monitorar o sono de atletas, sobretudo de esportes coletivos. A ideia é subsidiar o trabalho de quem está envolvido no treinamento e avaliação dos atletas. Uma má qualidade do sono pode levar ao acúmulo de fadiga, sonolência e alterações do estado de humor. Além disso, já foi demonstrado que atletas jovens, entre 12 e 18 anos, que dormem menos de oito horas por noite, possuem 1,7 vezes mais risco de lesão.

“O controle de carga busca atingir o ‘nível ótimo’ de desenvolvimento do atleta, melhorando seu rendimento e diminuindo o risco de lesões”, explica João Gustavo Claudino sobre o conceito que norteia o trabalho da startup que ele fundou. Para respaldar o processo de tomada de decisão dos profissionais do esporte (atletas, técnicos, preparadores físicos), a Load Control criou uma plataforma que busca transformar os dados dos esportistas em conhecimento aplicado. O serviço é pago e está disponível nas versões web e mobile.

Partindo de uma abordagem integral no monitoramento dos atletas, que ultrapasse o ambiente de treinamento, surgiu a necessidade de compreender a qualidade do sono. E a ausência de parâmetros específicos para o monitoramento da qualidade do sono de atletas, dentro da literatura científica foi um dos incentivos ao início da pesquisa.

Jogadores em ambiente de treinamento – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

 

Metodologia

Um total de 4083 atletas foram monitorados, majoritariamente homens (91%), com aproximadamente metade da amostra composta por jogadores de futebol (47%).

“30 instrumentos de medição foram utilizados para monitorar a qualidade do sono em atletas de esportes coletivos”, relata Claudino, que é membro do Laboratório de Biomecânica da EEFE. Entre os mais usados, estava a actigrafia, que é um método que utiliza um acelerômetro, semelhante a um relógio de pulso, e monitora continuamente os movimentos do corpo. A polissonografia (PSG), padrão ouro (método mais recomendado) da área, também foi utilizada. Além de cinco tipos de questionários e escalas. Todos os participantes eram esportistas competitivos, ou seja, definidos como profissionais, semiprofissionais, juvenis de elite ou colegiados da primeira divisão.

Por meio de uma revisão de artigos científicos selecionados sobre o tema, 10 parâmetros de qualidade do sono foram identificados: quatro inferidos pela actigrafia e outros seis por meios de questionários e escalas. Eficiência do sono, isto é, o número de minutos de sono dividido pelo número de minutos na cama; número de despertares e duração total do número de despertares são alguns desses critérios.

João Gustavo Claudino – Foto: Arquivo pessoal

“Uma recomendação para uma boa qualidade aponta para determinantes principais a serem seguidos: eficiência do sono de pelo menos 85%; adormecer em 30 minutos ou menos após deitar-se; acordar não mais do que uma vez por noite; e ter uma duração total do número de despertares de no máximo 20 minutos depois de adormecer inicialmente”, esclarece Claudino.

Apesar dos avanços obtidos pelo estudo, João Gustavo Claudino aponta que é apenas o início de um campo vasto de pesquisa, que carece de avanços científicos e tecnológicos como: um consenso sobre a definição conceitual dos parâmetros inferidos pela actigrafia e um método não invasivo de monitoramento dos ciclos de repouso-atividade humana, além da uniformidade dos algoritmos usados para calcular a qualidade do sono em dispositivos eletrônicos.

Higiene do sono

Para melhorar a qualidade do sono algumas estratégias podem ser tomadas. A higiene do sono consiste em hábitos simples que podem fazer uma diferença determinante.

Esses hábitos são divididos em quatro campos pela Load Control: ambiente, alimentação, organização e disciplina. Entre eles destacam-se:

  • Criar um ambiente de sono com pouca luz, temperatura adequada e evitar todos os estimulantes eletrônicos, ou seja, televisão, celular, computador, na hora antes de dormir.
  • Evitar ingerir alimentos com cafeína (café, chá preto, chocolate, refrigerante de cola), durante o período noturno.
  • Restringir atividades com altas cargas de estímulos físicos, cognitivos e/ou emocionais na hora antes de dormir.
  • Cochilar brevemente (5 a 30 minutos) em horário apropriado, perto do início da tarde e não durante a manhã ou à noite.

O artigo Which parameters to use for sleep quality monitoring in team sport athletes? A systematic review and meta-analysis, de João Gustavo Claudino, Tim J. Gabbet, Helton de Sá Souza, Mário Simim, Peter Fowler, Diego de Alcantara Borba, Marco Melo, Altamiro Bottino, Irineu Loturco, Vânia D’Almeida, Alberto Carlos Amadio, Julio Cerca Serrão e George P. Nassis, está publicado no site da BMJ Journals.

.

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.