Estudo quantifica abismo salarial entre homens e mulheres na medicina

Na disputa pelos maiores rendimentos, médica brasileira tem quatro vezes menos chances do que colega homem

 13/06/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 03/07/2019 às 13:37
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Arte sobre foto de Marcos Santos/USP Imagens

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No Brasil, a chance de um médico homem estar entre os mais bem remunerados da profissão é de 17,1%. Para as médicas mulheres, porém, essa probabilidade fica nos 4,1%. Este é um dos resultados de um estudo que mostra a existência de um abismo salarial entre homens e mulheres na medicina brasileira. O trabalho foi desenvolvido pelo grupo de estudos em Demografia Médica da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e aponta que, além da menor probabilidade de chegar ao topo da pirâmide salarial, as médicas brasileiras se concentram em faixas salariais mais baixas do que os homens.

Os resultados foram publicados em um artigo na revista médica BMJ Open. O estudo utilizou dados de uma pesquisa telefônica conduzida em 2014. Ao todo, 2.400 médicos de todo o País responderam a um questionário de 30 perguntas que cobriam tanto características sociodemográficas (gênero, idade, localidade) quanto outras relacionadas ao trabalho, incluindo jornada de trabalho semanal, número de plantões realizados, tempo de experiência profissional e especialidade médica. Eles também responderam se trabalham no Sistema Único de Saúde ou no sistema privado.

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O grupo de pesquisa rodou os dados em um modelo estatístico que pretendia estabelecer quais as relações entre essas diversas variáveis e a remuneração mensal dos médicos – o que inclui salários, pagamentos por consultas e serviços, bônus e incentivos. A hipótese inicial supunha que o gênero dos profissionais era um fator de confusão, cuja influência desapareceria quando o modelo fosse ajustado para dar conta de características específicas de volume de trabalho e outros fatores capazes de afetar o valor dos pagamentos.

Foram divididas seis categorias de renda mensal. A mais baixa reúne as remunerações mensais inferiores a US$ 3.857 (R$ 8 mil, utilizando como referência o dólar a R$ 2,0742, valor correspondente à cotação média de 2013). A mais alta, rendimentos superiores a US$ 10.762 (ou R$ 22.322, utilizando a mesma cotação). Os autores do artigo alertam que os valores podem ter sidos subestimados, já que a informação sobre renda foi autodeclarada.

No cômputo dos pesquisadores, 80% das mulheres na profissão estão nas três categorias de renda mais baixas, enquanto 51% dos homens estão nas três faixas de maiores rendimentos. Apesar da literatura especializada sugerir que fatores como menores jornadas de trabalho poderiam influenciar na renda inferior das mulheres, quando os pesquisadores ajustaram os dados para comparar os salários de profissionais com características de trabalho similares, o abismo entre homens e mulheres não desapareceu. Para além do gênero, os pesquisadores não encontraram qualquer fator que pudesse explicar as diferenças de rendimentos.

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“As características relacionadas ao trabalho não influenciam, não estão associadas a essa diferença. Isso sugere que existem outras variáveis que podem estar influenciando e precisam ser estudadas”, afirma Giulia Mainardi, a primeira autora do artigo, explicando que nem mesmo a maior presença das mulheres em especialidades que costumam ser pior remuneradas – como pediatria, ginecologia e clínica geral – foi capaz de explicar as diferenças salariais.

A pesquisadora lembra que a profissão médica está passando por um processo de feminização. Hoje, há mais mulheres do que homens na universidade e, embora a realidade não seja a mesma no conjunto dos profissionais formados, a tendência deverá se refletir no mercado de trabalho no futuro. “A gente sugere que sejam feitos mais estudos que abordem aspectos culturais da mulher (e) uma análise também mais qualitativa em relação a isso”, acrescenta Giulia.

O trabalho teve financiamento do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), da Fapesp e do UK Medical Research Council.

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