Cuidadoras de pacientes com Alzheimer adoecem mais facilmente

Mulheres que exercem a função têm cinco vezes mais chances de desenvolverem depressão e ansiedade, constatou estudo

 02/05/2018 - Publicado há 6 anos
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Sobrecarga emocional e física das cuidadoras, muitas delas também idosas, é imensa – Foto: geralt / Flickr via Wikimedia Commons / Domínio público

Segundo o IBGE, a população brasileira era de aproximadamente 205 milhões de pessoas em 2016; destes, cerca de 30 milhões eram idosos. Seja por fatores genéticos ou pelo desgaste natural do tempo, muitos desses idosos desenvolvem problemas de saúde, sendo o Alzheimer uma das doenças mais recorrentes. Dados do Ministério da Saúde apontam que o mal atinge cerca de 30% da população com mais de 80 anos.

Com esse cenário e sabendo do grande número de mulheres idosas que exercem o papel de cuidadoras de doentes com Alzheimer, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP confirmaram, em estudo recente, que “cuidar de pessoas doentes pode deixar os cuidadores também doentes”.

A equipe analisou o dia a dia e a saúde de 62 mulheres idosas na mesma faixa etária. Destas, 31 eram parentes e cuidadoras de pacientes com Alzheimer e outras 31 não exerciam essa função e residiam na vizinhança. A comparação mostrou que as cuidadoras apresentaram 35,5% de sintomas de ansiedade e cerca de cinco vezes mais chance de terem depressão do que as idosas não cuidadoras.

Os resultados, conta a professora Nereida Kilza da Costa Lima, do Setor de Geriatria da FMRP, confirmam que “a sobrecarga emocional e física destas cuidadoras é imensa”. Antes do estudo, Nereida e sua equipe já conheciam o impacto negativo sofrido por aqueles que cuidam de idosos dementes, agora conseguiram quantificar esse impacto na população.

As idosas cuidadoras convivem diariamente com pessoas que, elas sabem, não terão melhora; em alguns casos, os pacientes até mesmo as agridem por não reconhecê-las. Segundo a professora, essa rotina gera um estresse muito alto.

Pelo estudo, verificaram que “a chance de diagnóstico de ansiedade foi 4,8 vezes maior” entre as cuidadoras. Os idosos com Alzheimer, dependendo do estágio da doença, necessitam de cuidados constantes, desde uma simples companhia até ajuda para se alimentar e cuidar da higiene pessoal.

A pesquisa mostrou que 90% das cuidadoras dedicam período integral aos pacientes; todas moram com eles. “Essa situação gera sobrecarga que vai além de seus poderes; para piorar, acabam realizando tudo sozinhas, sem apoio de outros familiares ou com dificuldade em aceitar ajuda de outras pessoas”, comenta a professora.

Níveis altos de colesterol também apareceram, agravando o quadro de saúde dessas cuidadoras. Acreditam os especialistas que sejam resultado de má alimentação e falta de tempo para cuidados com a própria saúde.

Segundo Nereida, os altos índices de depressão e ansiedade descobertos na pesquisa abrem uma nova visão para os profissionais da área da saúde, que, na maioria dos casos, durante os atendimentos, mantêm o foco nos doentes com Alzheimer, se esquecendo dos cuidadores.

Mais informações: e-mail nereida@fmrp.usp.br

 


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