O guia traz orientações importantes com relação a manuseio de roupas, talheres e higiene da casa. – Foto: Montagem de Beatriz Abdalla/Jornal da USP com ícones Flaticon e Iconfinder

Covid-19: guia ensina como conviver com familiares infectados

As medidas ajudam a impedir a propagação da doença para outras pessoas da casa e a desafogar os serviços do Sistema de Único de Saúde, que só devem ser procurados em casos mais graves

26/03/2020

Texto: Ivanir Ferreira
Arte: Beatriz Abdalla/Jornal da USP

No momento em que o coronavírus está avançando rapidamente por todas as regiões brasileiras, o Jornal da USP traz para o leitor um guia prático de saúde para conviver com familiares com suspeita ou infecção confirmada pela covid-19 e que estão em isolamento domiciliar. Quem faz as recomendações são a professora Anna Luiza Lins Gryschek e a especialista em laboratório Erica Gomes Pereira, da Escola de Enfermagem (EE) da USP. As duas também são pesquisadoras do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva na EE.

“As preocupações para evitar o contágio e a propagação da doença são importantes e aliviam a procura pelos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).” No entanto, mesmo após o paciente ter tido avaliação médica e recomendação de isolamento domiciliar, é comum surgirem dúvidas sobre o que deve ser feito e os cuidados com alguém da família que apresentou os primeiros sinais da doença e convive no mesmo espaço físico de outras pessoas saudáveis.

Anna Luiza Lins Gryschek - Foto: Arquivo pessoal

Anna Luiza Lins Gryschek, professora e coordenadora das disciplinas Enfermagem e Biossegurança e Enfermagem em Doenças Transmissíveis da Escola de Enfermagem (EE) da USP – Foto: Reprodução/Lattes CNPq

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Anna Luiza, que coordena as disciplinas Enfermagem e Biossegurança e Enfermagem em Doenças Transmissíveis, reitera que os prontos socorros e os hospitais de referência devem ser as últimas opções a serem consideradas para se levar uma pessoa que apresente sintomas leves da covid-19, porque são lugares de foco de contaminação e transmissão também de outras doenças. As Unidades Básicas de Saúde (UBS) devem ser procuradas quando o paciente já apresentar desconforto respiratório associado com tosse e febre. Fora desse quadro, o protocolo é ficar em casa pelo período recomendado pelas autoridades de saúde – 14 dias a contar da data de início dos sintomas – e tomar os devidos cuidados para não permitir que o vírus seja transmitido para as outras pessoas que residam no mesmo local.

Recomendações

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Quarto individual e ventilado

Permanecer em casa em um cômodo isolado e que tenha boa ventilação: um quarto, por exemplo, ou se a casa for pequena, a sala. A ideia é que a pessoa não circule por todos os ambientes para não contaminar os demais da família. A cama não pode ser compartilhada (exceção: mães que estão amamentando devem continuar amamentando com o uso de máscara e medidas de higiene, como a lavagem constante de mãos).

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Casa pequena

Se a casa for pequena e tiver um único cômodo, o paciente deve manter distancia dos demais membros da família por pelo menos 1,0 m. As pesquisadoras lembram que, em alguns casos, o paciente poderá se encaminhado pelos profissionais de saúde das UBSs para hospitais de campanha caso ocorra evolução do quadro clínico. Limpar (mais de uma vez por dia) as superfícies que são tocadas frequentemente com solução contendo alvejante (1 parte de alvejante para 99 partes de água).

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Banheiro

Reservar banheiro para uso exclusivo da pessoa doente. No caso de haver apenas um banheiro na casa, toda vez que o paciente utilizá-lo é importante que ele esteja usando máscara cirúrgica e seja feita higienização com água, sabão e hipoclorito de sódio do vaso sanitário, da torneira, da maçaneta e de toda região que for tocada pelo paciente. Se possível, mantê-lo bem ventilado.

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Único cuidador

Uma única pessoa na casa deve exercer a função de cuidador, de preferência quem está em boas condições de saúde e não tem riscos associados (não ser idoso nem portar doenças crônicas, por exemplo). O paciente não pode receber visitas e deverá sair de casa apenas em caso de emergência com uso de máscara cirúrgica, evitando multidões e quando possível o transporte público.

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Higienização das mãos 

Todas as pessoas da casa devem lavar as mãos com água e sabão por diversas vezes durante o dia, especialmente antes de comer, cozinhar e após ir ao banheiro. Em relação ao cuidador, o zelo com a higiene deve ser redobrado em caso de proximidade da pessoa doente, se estiver em contato com secreções (saliva, suor e catarro) e com áreas tocadas pelo paciente (cama, criado mudo, cadeira). Dar preferência ao uso do papel toalha para secar as mãos. Caso não seja possível, utilizar toalha de tecido e trocar sempre que estiver úmida.

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Pratos/talheres e roupas

As refeições devem ser levadas ao paciente dentro do quarto. Pratos, talheres, copos, bandejas e demais utensílios domésticos não podem ser compartilhados e devem ser lavados separadamente. Roupas pessoais, toalhas, fronhas e lençóis devem ser colocados em saco plástico e também lavados separadamente com sabão e água entre 60 e 90ºC.

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Regiões comuns

Limpar e desinfetar áreas comuns e objetos e superfícies tocadas com frequência.

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Lenços descartáveis

É aconselhável o uso de lenços descartáveis para higienização nasal, em espirros e tosses. O cuidador e demais familiares devem evitar tocar olhos, nariz e boca com as mãos.

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Máscaras cirúrgicas

O paciente deve utilizar máscara cirúrgica o tempo todo. Caso não tolere ficar por muito tempo com a máscara, realizar medidas de higiene respiratória com mais frequência; trocar a máscara cirúrgica sempre que esta estiver úmida ou danificada. O cuidador não pode tocar ou mexer na sua própria máscara quando estiver perto do paciente.

Mais informações: gryschek@usp.br, com Anna Luiza Gryschek.