Brasil vai estar entre mais afetados por mortes em ondas de calor

Pesquisa sugere que Brasil, Colômbia e Filipinas terão mais mortes por fenômeno que crescerá com mudança climática

 15/08/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 19/08/2019 as 16:35
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Esta imagem mostra a tendência da temperatura do Ártico entre agosto de 1981 e julho de 2009. Devido ao aquecimento global, que é exacerbado no Ártico, vemos um aquecimento significativo ao longo deste período de 28 anos – Foto: NASA GISS Scientific Visualization Studio / Domínio público via Wikimedia Commons

A mudança climática poderá aumentar o número de mortes relacionadas às ondas de calor entre 2031 e 2080, comparado ao período que vai de 1971 a 2020. Segundo uma pesquisa publicada na revista científica PLOS Medicine, os países mais afetados seriam Brasil, Colômbia e Filipinas. Já Europa e Estados Unidos seriam as regiões menos afetadas.

Os modelos construídos pelos pesquisadores consideram projeções que podem variar entre baixa, média e alta ocorrência de ondas de calor. No caso do Brasil, o estudo aponta para um aumento de até 25% nas mortes relacionadas com esses eventos climáticos em um cenário de baixa ocorrência. Se a ocorrência das ondas de calor for alta, as mortes podem aumentar em até 75%.

“Todos os modelos mostram que no Brasil aumentarão a frequência e intensidade de ondas de calor e, por sua vez, aumentará o número de mortes”, afirma a meteorologista Micheline Coelho, uma das coautoras do estudo. Pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, ela foi a responsável pelas análises que se referem ao País.

O estudo indica que, entre as regiões analisadas (Américas do Norte, Central e do Sul, Europa setentrional, central e meridional, Leste da Ásia, Sudeste Asiático e Oceania), as áreas próximas da linha do Equador correm mais riscos do que as áreas temperadas. Para se ter uma ideia, no pior cenário projetado – que inclui variáveis demográficas, de emissões de gases estufa e de adaptação ao clima – o número de mortes relacionadas às ondas de calor subiria 2000% na Colômbia e 150% na Moldávia.

Formação de uma onda de calor – Ilustração: Domínio público via Wikimedia Commons

Os pesquisadores analisaram dados sobre mortalidade e séries históricas de temperaturas registradas em 412 cidades, de 20 países. Para calcular as projeções de incremento na mortalidade, eles utilizaram também dados disponibilizados de modelos climáticos globais, os mesmos que o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, na sigla em inglês) usa para produzir seus relatórios.

Não existe um conceito aceito universalmente pela comunidade científica para definir o que é onda de calor. Em geral, diz-se que uma onda de calor é um fenômeno no qual faz mais calor do que o comum ao longo de vários dias. Representa um problema de saúde na medida em que afeta a termorregulação dos organismos.

A termorregulação é um mecanismo de equilíbrio da temperatura que, em humanos, age para manter nosso organismo sempre em torno de 37°C. Quando o tempo do lado de fora vira e a temperatura do ambiente oscila, o sistema de termorregulação entra em ação para dissipar ou reter o calor do corpo.

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Locais de comunidades e variação média porcentual do excesso de mortes relacionadas a ondas de calor em 2031-2080, em comparação com 1971-2020, no Cenário RCP8.5 e cenário populacional de alta variante, com suposição de não adaptação – Fonte: RCP, Representative Concentration Pathway

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“Quando o ambiente está muito quente, o organismo não consegue fazer essa troca e a regulação do nosso corpo perde o equilíbrio, podendo levar a graves problemas ou à morte. O desequilíbrio da temperatura corporal promove mudanças em hormônios e enzimas, atingindo os mais diversos órgãos”, explica Micheline Coelho.

O artigo oferece, ainda, sugestões para mitigação e adaptação à mudança climática, como a implementação de políticas mais rigorosas para a redução das emissões de gases de efeito estufa, a criação de sistemas de alerta e de centros urbanos de resfriamento e o desenvolvimento de tecnologias de casas inteligentes.

A pesquisa foi desenvolvida por um grupo colaborativo formado por pesquisadores de vários países, do qual fazem parte Micheline Coelho e o médico patologista Paulo Saldiva, atual diretor do IEA.


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