Peixe-zebra é testado como modelo para experimentos com anestésico

Espécie Danio rerio possui similaridades genéticas com humanos e fornece respostas robustas

 19/01/2017 - Publicado há 7 anos
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Peixe Zebrafish
Zebrafish, que mede cerca de 3 cm, foi usado em experimentos com cetamina, no Departamento de Química da FFCLRP

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Um pequeno peixe, com cerca de 3 centímetros de tamanho, o zebrafish (Danio rerio), popularmente conhecido como peixe-zebra, mostrou-se um excelente modelo animal no estudo e detecção da cetamina, uma droga usada como anestésico veterinário para animais de grande porte. “A cetamina é aplicada em doses terapêuticas nos procedimentos operatórios dos animais de grande porte ou até mesmo, em alguns casos, em animais de pequeno porte”, conta o químico Eduardo Geraldo de Campos.

O pesquisador utilizou os peixes-zebra em experimentos no Laboratório de Análises Toxicológicas Forenses do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFLCRP) da USP, onde desenvolveu sua dissertação de mestrado Zebrafish como organismo-modelo para análises de efeitos comportamentais e toxicológicas da cetamina empregando cromatografia em fase gasosa e estatística multivariada. Campos teve a orientação do professor Bruno Spinosa De Martinis e o projeto teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A cetamina já foi usada, nos anos 1970 e 1980, como adulterante em comprimidos de ecstasy (metilenodioximetanfetamina), droga sintética cujo efeito na fisiologia humana é a diminuição da reabsorção da serotonina, dopamina e noradrenalina. A cetamina possui propriedades alucinógenas e já passou a ser utilizada como droga única, inclusive. “Trata-se de uma droga proibida, de uso controlado e sua prescrição é feita somente por médicos e médicos veterinários”, diz o pesquisador. “Por isso pode ser considerada de interesse forense por ser já classificada como uma droga de abuso.”

O estudo

Campos iniciou sua pesquisa no ano de 2014. “A ideia sempre foi a de caracterizar alguns efeitos provocados pela droga, que ainda não é muito conhecida em alguns aspectos, mas também testar o zebrafish como modelo na pesquisa”, conta.

Nos experimentos, foram realizados, segundo Campos, dois estudos: a análise de efeitos comportamentais, especialmente o efeito ansiolítico — que já foi caracterizado na literatura — e a análise química. “A droga reduz comportamentos tipicamente ansiosos em zebrafish e os testes foram realizados no sentido de verificar esse efeito ansiolítico”, descreve o químico.

Em relação aos testes comportamentais, os animais passaram por uma avaliação conhecida como Teste de Claro/Escuro. “Neste teste, o aquário é dividido em duas partes: uma escura e outra clara”, explica. Quando o peixe transita de uma área para outra há registros em vídeo do comportamento. “Por exemplo, em um dos parâmetros avaliados, se o peixe passa mais tempo na área clara do aquário significa que ele está menos ansioso. Quando ocorre ao contrário, de o animal preferir a área escura, quer dizer que ele está mais ansioso”, completa.
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Peixe Zebrafish - Foto: Visual hunt
O teste Claro/Escuro permite aferir níveis de ansiedade nos peixes zebrafish – Foto: Visualhunt

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Após os registros em vídeo, os pesquisadores utilizaram métodos estatísticos multivariados para interpretar os resultados dos testes de forma mais precisa, com a contribuição da professora Aline Thaís Bruni, também Departamento de Química da FFCLRP. Esses métodos estatísticos avaliam diversos parâmetros comportamentais em uma mesma análise e permitem uma interpretação mais detalhada desses dados.

Os peixes também passaram por experimentos para detectar a cetamina em seus tecidos. Eles foram deixados em aquário que continha a substância. Em seguida, os cientistas retiraram amostras teciduais do animal que foram analisadas em um cromatógrafo em fase gasosa. “A cromatografia separa a droga de outras substâncias no tecido do animal e isso permite detectar a cetamina e quantificar quanto da substância continha o tecido”, explica o cientista. Segundo Campos, alguns mecanismos de ação da cetamina no organismo humano ainda não são muito bem estabelecidos. Parte dos resultados já foi publicada em revistas científicas de circulação internacional.

O Danio rerio é um peixe tropical de origem asiática, com tempo de vida médio entre três e cinco anos. É um importante organismo modelo, frequentemente utilizado em pesquisas genéticas e análises voltadas para a biologia do desenvolvimento.

Mais informações: e-mail egeraldocampos@usp.br, com Eduardo Geraldo de Campos


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