Estudo da USP Ribeirão Preto traz novas informações o Saturnalia tupiniquim, que vivia na região do sul do Brasil - Ilustração: Rodolfo Nogueira

(Sem) Quebrar a cabeça

Crânio de dinossauro brasileiro é reconstruído digitalmente

20 anos depois de descoberta, microtomografia permitiu análise de crânio do Saturnalia tupiniquim preso em sedimento

Texto: Matheus Souza

11/09/2019

Foi em 1998 que a ciência descobriu o dinossauro Saturnalia tupiniquim, nos arredores do município de Santa Maria, Rio Grande do Sul. A espécie foi apresentada ao mundo em um estudo do qual participou o professor Max C. Langer, da USP de Ribeirão Preto, na época estudante de doutorado na Universidade de Bristol, na Inglaterra. A descoberta tornou possível uma série de pesquisas sobre o animal, porém, por causa do estado em que os fósseis foram encontrados, os ossos do crânio permaneceram desconhecidos até agora.

“Era muito difícil tirar o fóssil do sedimento no qual ele estava preso. Fazer isso da maneira tradicional, raspando o sedimento, poderia quebrar esses ossos, pois estavam muito frágeis”, explica Mario Bronzati, pós-doutorando do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). Hoje, vinte anos depois, o crânio do dinossauro pôde ser analisado com a ajuda de um microtomógrafo instalado na unidade. Os resultados foram publicados em artigo na revista científica PLOS ONE.

O Saturnalia pertence à linhagem de dinossauros conhecida como Sauropodomorpha. Os representantes mais famosos deste grupo são os pescoçudos saurópodos, os maiores animais terrestres que já habitaram a Terra. Entretanto, diferente desses descendentes, animais como Saturnalia (de 230 milhões de anos atrás) eram pequenos, com cerca de 1,5 metro de comprimento e pesando menos de 30 kg.

Crânio do Saturnalia - Ilustração: Rodolfo Nogueira / Divulgação

Com o uso da microtomografia computadorizada, os ossos do crânio do Saturnalia foram reconstruídos virtualmente em modelos 3D. A tecnologia usa raios-X para escanear objetos de todos os ângulos, tornando possível visualizar sua forma tridimensional. No caso dos fósseis, o aparelho consegue destacar as diferentes densidades dos ossos e da rocha no qual se encontram, permitindo separá-los digitalmente.

Através do estudo, os pesquisadores puderam inferir o tamanho da cabeça do dinossauro. O Saturnalia possuía um crânio de menos de 10 cm de comprimento, bastante pequeno em relação ao tamanho do animal. Como ele tinha pescoço longo, um crânio pequeno e leve daria maior agilidade e mobilidade para movimentos de cabeça e pescoço, podendo ter sido importante para uma maior eficiência na captura de presas.

“O crânio pequeno é característico da linhagem Sauropodomorpha, mas até então não havia confirmação de que isso também se aplicava para o Saturnalia“, diz Mario. Os novos dados também ajudam a consolidar a hipótese de que este traço esteja ligado à captura das presas, já que os dentes do dinossauro, serrilhados e curvados para trás, são comuns em animais que se alimentam de insetos e pequenos vertebrados. “Não é uma evidência definitiva, mas é um indício a mais de que essa característica poderia realmente estar ligada à predação”, completa o pesquisador.

Além de Mario Bronzati, o estudo teve a participação do professor Max C. Langer e do pesquisador Rodrigo Temp Müller, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia, da Universidade Federal de Santa Maria. A pesquisa contou também com apoio do Centro para Documentação da Biodiversidade da FFCLRP e financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Com informações dos pesquisadores

Mais informações: e-mail mariobronzati@gmail.com, com Mario Bronzati

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