Cientistas brasileiros e argentinos identificaram, pela primeira vez, um anfíbio fluorescente. Trata-se de uma espécie de perereca, a Hypsiboas punctatus, que emite um brilho esverdeado e azulado quando está sob a luz do luar.
O fato é inédito pois contraria “a ideia de que no ambiente terrestre a fluorescência existiria apenas em insetos”, afirma o professor Norberto Peporine Lopes, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, local onde foi identificada a substância responsável pela emissão de luz desses anfíbios.
A descoberta foi ao acaso. O biólogo argentino Carlos Taboada, da Universidade de Buenos Aires, tentava entender a função do pigmento biliverdina, que dá coloração verde aos anfíbios, mas faz com que alguns insetos emitam fluorescência vermelha. Ao iluminar a H.punctatus, espécie de rã das florestas tropicais, com raio ultravioleta, observaram um intenso brilho verde.
Para explicar as bases químicas do fenômeno, Taboada veio ao Brasil e se juntou ao professor Lopes. Foi então que conseguiram identificar os compostos responsáveis pela emissão de luz desses anfíbios que chamaram de ‘hyloínas’.
Lopes comenta que se trata de mecanismos diferentes dos encontrados nos vaga-lumes, a bioluminescência, que depende apenas de reações químicas. Na fluorescência, explica, as moléculas absorvem luminosidade externa – no caso dessas pererecas, a luz da lua – e reemitem a luz em um comprimento de onda maior.
Os pesquisadores observaram que esses animais possuem estrutura de pele translúcida com uma camada repleta de cristas. Essas características, segundo eles, parecem ser importantes para a ocorrência da fluorescência e indicam ainda que outras espécies de anfíbios, com tipo de pele correlata, devem possuir o mesmo poder.
O primeiro relato ocorreu na Argentina, mas os cientistas verificaram que o fenômeno é válido para as pererecas da mesma espécie no Pantanal brasileiro. Eles acreditam que esse brilho tenha função de comunicação visual, pois simulações que realizaram em laboratório mostraram que as emissões fluorescentes que emitem são facilmente reconhecidas por seus pares que pelo olho humano.
O professor Lopes comemora o fato de que abrem “um novo caminho para a compreensão evolutiva da fluorescência” e, mais, acredita num potencial futuro de mercado para o achado. Ele conta que algumas plantas possuem substâncias similares às que encontraram e que essa substância pode descortinar uma nova classe de produtos. “A fluorescência inspirou vários produtos, como a tomada que você enxerga no escuro da noite. Após a síntese dessas moléculas, veremos o potencial para aplicações comerciais”.
Os resultados dessa pesquisa foram publicados na edição de 13 de março da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Rita Stella, de Ribeirão Preto (com informações da revista Pesquisa Fapesp)
Mais informações: e-mail npelopes@gmail.com